O metaverso, ou metaverse em inglês, está a ser anunciando pelas grandes empresas de tecnologia como o passo que se segue na evolução para a Web 3. Nesta nova versão da internet, a Realidade Virtual e a Realidade Aumentada desempenham o papel principal. É através destas tecnologias que o novo mundo virtual poderá ser melhor experimentado.
A utopia futurista de um mundo completamente virtual floresceu na literatura de ficção científica, em livros como o “Snow Crash” (1992) e tem sido muito explorada pelo cinema em filmes como “Matrix” (1999) ou “Blade Runner 2049” (2017). O mundo dos videojogos online também se inspirou nessa ideia para criar jogos como o Second Life ou os famosos Fortnite e Minecraft, onde os mundos virtuais partilhados se tornaram cada vez mais imersivos para que os jogadores neles interajam através da sua presença e representação virtual (o seu avatar).
Tudo indica que esta utopia futurista poderá tornar-se real, ou melhor, verdadeiramente virtual e não será para se limitar apenas ao mundo dos jogos. A implementação das redes de banda larga 5G e dos dispositivos de IoT, a mudança para o online provocada pelos confinamentos da pandemia de COVID 19 e as criptomoedas, parecem ter criado o enquadramento certo.
Mas o grande passo foi dado pelas grandes empresas tecnológicas como a Microsoft, a Apple ou o Facebook (este último já mudou o nome da empresa para Meta) que decidiram investir os seus milhões no metaverso. Desta vez, é mesmo para avançar.
Metaverso: o que é?
A palavra metaverso é utilizada para descrever um tipo específico de mundo virtual. Neste mundo não basta interagirmos e realizarmos grande parte das nossas atividades através de aplicações, páginas ou redes sociais como já fazemos.
No metaverso terão de estar replicadas praticamente todas as atividades da nossa realidade física, desde atividades profissionais às atividades de lazer e sociais, e nós, os seus utilizadores, estaremos dentro desse novo mundo virtual a executá-las através do nossos avatares. Como? Recorrendo às tecnologias de Realidade Virtual e Realidade Aumentada.
A Realidade Virtual permite levar o utilizador para dentro do mundo virtual. Recorre a gráficos 3D e a imagens de 360 graus para simular um cenário virtual. Depois, através de óculos e auscultadores específicos, ou outros dispositivos que transmitam sensações sonoras, olfativas e mesmo tácteis, é possível conseguir uma total imersão do utilizador no novo cenário virtual.
Já a Realidade Aumentada faz o inverso. Integra elementos virtuais (informação escrita, gráfica ou sonora) no mundo real. Recorre a câmaras, dispositivos que emitem raios de luz ou sensores de movimento, para que possamos ver no espaço real e físico algo que na realidade não está lá.
Um bom exemplo é o holograma, uma tecnologia que apresenta imagens a três dimensões, estáticas ou em movimento, e que podem ser projetadas num espaço físico também associadas a sons ou cheiros. Um exemplo mais simples da realidade aumentada é dado pelo famoso jogo Pokémon Go, que incentivou os jogadores a procurar um boneco virtual em espaços físicos no exterior através da câmara e do GPS do seu telemóvel.
Metaverso: como funciona?
No novo mundo virtual que as diferentes empresas de tecnologia pretendem criar, as fronteiras entre o que é físico e o que é virtual ficam esbatidas. O objetivo é que não haja pequenos mundos virtuais fechados, como nos jogos, mas uma cooperação real entre as empresas e marcas, para criar um grande mundo virtual alternativo, onde todos podem participar com o seu avatar.
Nesse mundo, os utilizadores podem interagir através de objetos físicos para entrar no mundo virtual ou vice versa, já que no metaverso a informação é tratada em tempo real. E o objetivo é poder fazer tudo, mesmo tudo, nesta nova camada da realidade. Mas são as oportunidades de criar uma economia virtual dentro do metaverso, em que as pessoas trabalham, fazem compras, fazem festas e vão a concertos, que mais atrai os novos investidores.
Blockchain e criptomoedas
No centro desta economia virtual estará a tecnologia de blockchain e as criptomoedas capazes de movimentar valores virtuais, registar propriedades ou criar novos produtos financeiros.
Os profissionais da música já começaram a perceber as vantagens deste novo cenário para realizar eventos digitais bem remunerados, a publicidade e o marketing já entenderam o potencial, mesmo para rentabilizar suportes tradicionais como os outdoor, e os casinos e as galerias de arte virtuais também já estão com um pé dentro desta nova visão da Web 3.
As possibilidades são ilimitadas, mas muitos alertam para a revolução que esta inovação tecnológica pode trazer para a humanidade, dizendo que antes de se avançar sem travão é preciso perguntar: até onde queremos ir com o metaverso?
Metaverso: temos que nos preocupar?
Como na maioria das novas tecnologias que surgiram nas últimas duas décadas, a preocupação deverá estar centrada na forma como poderão ser utilizadas. Aprendendo com os erros do passado, os especialistas pedem para que os avanços para esta nova realidade da internet sejam cautelosos e capazes de permitir alguma regulamentação. Em causa estão algumas questões éticas que podem e devem ser amplamente discutidas.
São exemplo disso o dating hologram (namoro por halograma) que pode potenciar uma já evidente perda de competências nas interações físicas e emocionais entre humanos, ou o legacy chatbot, o avatar ou holograma criado para dar “vida” a uma pessoa já falecida.
Recriar virtualmente expressões, pensamentos, reações ou emoções que queremos ver no nosso parceiro ou recordar e eternizar os que já partiram, introduz variantes novas no desenvolvimento da espécie humana. Que efeitos terão para a evolução dos relacionamentos do homo sapiens? Que tipo de vícios, medos e alienação da realidade poderão provocar e com que efeitos?
Privacidade e dados pessoais
A outra questão que deve estar na mesa do metaverso é a que está relacionada com a privacidade dos dados pessoais. Para que este novo mundo virtual funcione, é necessário que cada vez mais dados sejam trocados entre o utilizador e quem está a criar e gerir o cenário de imersão e interação.
As experiências passadas já nos deram provas de que não podemos confiar nos gigantes tecnológicos para garantir o melhor uso dos nossos dados. Mas são eles, cada vez mais centralizados, os únicos que parecem poder ser capazes de construir e gerir esta internet imersiva. Como podemos garantir a privacidade dos nossos dois mundos, virtual e físico, num cenário metaverso?