Miguel Pinto
Miguel Pinto
28 Ago, 2024 - 18:26

Minas de Regoufe: ruínas que recordam a febre do volfrâmio

Miguel Pinto

Na II Guerra Mundial nazis e ingleses conviviam pelas bandas de Arouca em busca do precioso volfrâmio. Agende uma visita às Minas de Regoufe.

Panorâmicas das Minas de Regoufe

É altamente improvável que quer Adolf Hitler, quer Winston Churchill, soubessem sequer da existência das Minas de Regoufe ou das Minas de Rio de Frades.

Mas a verdade é que estes dois complexos mineiros foram explorados, durante a II Grande Guerra Mundial, por ingleses e alemães. Inimigos nos campos de batalha da Europa, mas que pelos lados de Arouca viviam em paz absoluta.

A razão para esta convivência é muito simples e dá pelo nome de volfrâmio, um minério essencial ao esforço de guerra de nazis e aliados e que abundava em Portugal.

O Estado Novo, nos anos de brasa de Oliveira Salazar, viu ali uma oportunidade de ouro e não se importou que as duas partes em conflito viessem ao nosso país abastecer-se. Pelo preço certo, claro está.

minas de regoufe: a companhia inglesa

Ruínas das Minas de Regoufe

O volfrâmio, ou tungsténio, era essencial para a produção de armamento, designadamente para obuses de artilharia e granadas. Daí que as minas existentes em Portugal fossem quase na sua totalidade controladas por empresas estrangeiras. Na altura, desencadeou-se aquela que ficou conhecida como a ‘corrida ao volfrâmio’, com algumas fortunas a surgirem do dia para a noite, tais eram os lucros da atividade.

Este mineral acabou por perder a sua importância, mas os coutos mineiros, como as Minas de Regoufe, ainda por lá continuam e mesmo em ruínas começam a ser alvo de um renovado interesse turístico. Um passeio repleto de história pelas serranias de Arouca.

Com a Europa fustigada por uma guerra que iria devastar de forma significativa todo o continente, as partes beligerantes partiram em busca das matérias-primas que lhes permitisse continuar a produzir armamento em quantidade suficiente. É que aqui que entram as Minas de Regoufe e o seu chamado ‘ouro negro’, o volfrâmio.

Poça da Caldela

Desde o início do século XX que a região estava identificada pelas suas potencialidades em termos de minério, sendo que a primeira licença de exploração data de 1915, entregue a um francês de nome Gustave Thomas. É já em 1941 que é constituída em Regoufe a Companhia Portuguesa de Minas, que por ter capitais e administração essencialmente britânicos ficou conhecida como a Companhia Inglesa.

Para quem visitar as Minas de Regoufe, o ponto central será sempre a Poça da Caldela. Trata-se da concessão que foi mais rentável, contando ainda com inúmeras galerias e escombreiras espalhadas pela região. Convém levar calçado confortável, água e, no verão, protetor solar.

As ruínas de granito continuam cravadas na montanhas e não obstante o abandono, são testemunhas surpreendentes de um passado repleto de gentes e trabalho. O silêncio que se faz sentir em redor torna o espaço ainda mais fantástico.

O núcleo do complexo mineiro aparece numa espécie de anfiteatro, perfeitamente organizado para que a relação entre trabalho e espaços comuns fosse a mais próxima possível.

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O complexo

Do lado norte e nordeste, concentram-se as instalações técnicas e administrativas, destacando-se o edifício de dois andares onde funcionaram os escritórios, o qual dominava uma espécie de largo ou de praceta superior. As instalações da lavaria, sucessão de tanques e maquinaria dispostas na encosta, são praticamente as últimas do complexo, a sudoeste.

No lado oposto, a nascente, a maior parte das construções tinham carácter residencial, destacando-se sobretudo o bairro de pequenos compartimentos que constituíam as casas dos mineiros.

minas de rio de frades: a companhia alemã

Ruinas da Mina de Rio de Frades

Ali bem perto, na que é agora a União de Freguesias de Albergaria da Serra e Cabreiros, uma outra mina rica em volfrâmio rivalizava com as Minas de Regoufe, não só na extração do minério, mas também no que diz respeito a quem a explorava.

É verdade, paredes meias com os ingleses, a Alemanha nazi apetrechava-se de volfrâmio nas Minas de Rio de Frades. Num processo em tudo idêntico às Minas de Regoufe, em 1923 foi constituída a Companhia Mineira do Norte de Portugal, na sua maioria com capitais e administração teutónica. Sim, adivinhou, ficou conhecida como a Companhia Alemã.

O período de maior atividade deste complexo mineiro situa-se em 1941, em plena ascensão do regime nazi, com a gerência alemã a providenciar várias melhorias no local, designadamente em termos sociais.

Três núcleos

As ruínas das explorações e instalações mineiras de Frades encontram-se dispersas por três núcleos principais, que podem, e devem, ser percorridos a pé. Estas três áreas em destaque são a aldeia tradicional com casas de xisto, o Bairro de Cima, um conjunto de antigas residências do pessoal técnico e administrativo das minas, algumas delas ainda hoje ocupadas, e o núcleo principal da área de trabalho das minas, localizada no fundo do vale.

Estando no local, aproveite ainda para atravessar a galeria do Vale de Cerdeira, com cerca de 400 metros e considerada como a mais produtiva nos gloriosos tempos do volfrâmio, deparando-se no final com a belíssima queda de água da ribeira afluente do Rio de Frades, um rio de eleição para a prática de desportos radicais aquáticos.

Quer as Minas de Regoufe, quer as Minas de Rio de Frades, fazem parte do território do Arouca Geopark, onde é possível aceder a paisagens absolutamente deslumbrantes, repletas de história e encantos. E se a estadia for mais longa, não esqueça a visita aos famosos Passadiços do Paiva.

Cascata do Rio de Frades

Coexistência pacífica

A verdade é que ingleses e alemães nunca se pegaram ali pelos lados de Arouca, coexistindo de forma pacífica, em absoluto contraste com o que acontecia pelos sangrentos campos de batalha da Europa.

Consta que os ingleses nem precisavam muito do volfrâmio. Apenas não queriam que os alemães lhe deitassem a mão. No entanto, com o fim da guerra, e a derrota dos alemães, o volfrâmio foi perdendo importância, com a exploração mineira na região a ser interrompida em meados dos anos 1970.

Esta é uma boa oportunidade para conhecer um pouco da história que ali se viveu, e que tem como testemunhas as carcaças de edifícios e equipamentos que ainda escaparam à erosão do tempo.

É também uma excelente oportunidade, e um belo cenário, para em família viver uma interessante aula de história sobre aquele que foi o momento mais dramático e sangrento de todo o século XX. A não perder.

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