Miguel Pinto
Miguel Pinto
21 Fev, 2025 - 11:32

Miradouro do Zebro: a planar sobre o pulmão verde de Portugal

Miguel Pinto

Chama-se Miradouro do Zebro e é uma obra espetacular sobre o fantástico Pinhal Interior. Vale bem marcar uma caminhada até lá.

Miradouro do Zebro

O Miradouro do Zebro, situado na Serra do Moradal, no concelho de Oleiros, é uma obra arquitetónica singular concebida por um dos mais famosos arquitetos portugueses, Álvaro Siza Vieira. Destaca-se não só pela sua estrutura imponente, mas também pela rica história e paisagem envolvente que oferece aos visitantes.

O nome “Zebro” remonta a uma espécie de cavalo selvagem que habitou a Península Ibérica até ao século XVI.

Descrito como semelhante ao asno doméstico, mas mais alto, forte e veloz, o zebro possuía um temperamento arisco e pelagem com riscas cinzentas e brancas no dorso e nas patas.

A presença deste animal na região deixou marcas toponímicas, como as localidades de Zebreira, Casas da Zebreira e Zebro. Assim, o nome do miradouro homenageia este antigo habitante da região, cuja memória persiste na cultura local.

Miradouro do Zebro: obra de arte na natureza

Localizado na freguesia de Estreito-Vilar Barroco, o Miradouro do Zebro ergue-se a cerca de 837 metros de altitude, proporcionando vistas panorâmicas deslumbrantes sobre a Serra do Muradal e o vale da Ribeira das Casas da Zebreira.

A estrutura concebida por Siza Vieira consiste numa plataforma circular de betão armado com 15 metros de diâmetro, fixada diretamente na rocha. Esta plataforma projeta-se a 30 metros acima do solo e a 150 metros do fundo do vale, oferecendo aos visitantes uma experiência vertiginosa e única.

O acesso ao miradouro é facilitado por uma rampa equipada com guarda-corpos de aço inoxidável, garantindo segurança e acessibilidade.

O grandioso Pinhal Interior

A partir do miradouro, é possível contemplar a vastidão do Pinhal Interior, reconhecido como uma das regiões mais densamente arborizadas de Portugal Continental, abrangendo cerca de 5500 quilómetros quadrados.

Esta área, frequentemente apelidada de “pulmão de Portugal”, destaca-se pela sua exuberante vegetação e relevância ecológica. Infelizmente, também é palco de sistemáticos incêndios florestais de grande dimensão, que têm desbastado de forma significativa esta mancha verde.

Mas além da riqueza natural, a região possui uma importância geológica significativa. Há mais de 400 milhões de anos, durante a Era Paleozoica, este território constituía o fundo de um oceano.

Os sedimentos acumulados foram posteriormente comprimidos e elevados devido à colisão de continentes que originaram o supercontinente Pangeia, um processo que deu origem a cordilheiras montanhosas. As cristas quartzíticas visíveis do miradouro são testemunhos destas antigas falhas geológicas, representando cicatrizes da história da Terra.

Vista do miradouro do zebro

O que ver na região

Para os entusiastas das caminhadas, o Miradouro do Zebro integra a Grande Rota do Muradal-Pangeia (GR38), também conhecida como Trilho Internacional dos Apalaches.

Este percurso, com aproximadamente 37 quilómetros, está dividido em três trilhos lineares que conectam as aldeias de Estreito, Sarnadas de São Simão, Vilar Barroco e Orvalho.

Além das caminhadas, a área circundante ao miradouro é equipada com 32 vias de escalada, abrangendo diversos níveis de dificuldade, desde o 3º até ao 8º grau.

Um dos setores é designado como escola de escalada, ideal para iniciantes que desejam aventurar-se neste desporto. Esta infraestrutura torna a região um ponto de referência para os amantes da escalada e atividades ao ar livre.

Como chegar

O Miradouro do Zebro está situado ao longo da Estrada Nacional 238 (EN238), nas proximidades da localidade de Estreito, no concelho de Oleiros.

Para quem parte de Oleiros, o trajeto envolve seguir pela EN238 em direção a Proença-a-Nova, encontrando o miradouro a aproximadamente 20 quilómetros de distância. O acesso é direto e bem sinalizado, facilitando a chegada de visitantes que optem por transporte próprio.

O que comer

A visita pode ser complementada com a degustação da rica gastronomia local. Oleiros é reconhecido pelo seu cabrito estonado, um prato tradicional onde o cabrito é preparado de forma a obter uma pele estaladiça e carne suculenta.

Outro destaque é o maranho, um enchido confecionado com carne de cabra, arroz e hortelã, envolto em bucho de cabra, oferecendo um sabor único e característico da região.

Para sobremesa, as tigeladas, doces à base de ovos e leite, cozidos em caçarolas de barro, são uma escolha imperdível. Estes pratos podem ser apreciados nos diversos restaurantes típicos espalhados pelo concelho.

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