Quem nunca mentiu que atire a primeira pedra! Ninguém gosta de admitir mas toda a gente já mentiu. Alguns dirão que foram mentiras piedosas, omissões ou meias verdades, outros continuarão a afirmar convictamente que nunca mentiram. Mas há mentiras e mentiras, mentirosos e mentirosos. Há quem minta de forma compulsiva e retire prazer em fazê-lo. Quem o faz sofre de mitomania.
Vários motivos podem levar à mentira. Mentimos quando tememos que a verdade traga alguma consequência negativa, quando pretendemos passar uma imagem melhor de nós mesmos, quando somos pressionados a mentir por outras pessoas, quando isso nos traz recompensas ou regalias, ou quando temos algum transtorno psicológico.
Mitomania: o que é
Grande parte das vezes, a mentira surge naturalmente, sem motivo aparente, de forma inconsciente e involuntária. No entanto, quando a mentira é elaborada, premeditada e compulsiva, estamos a falar de mitomania, ou seja, da tendência patológica para se recorrer exageradamente à mentira.
A Associação Americana de Psiquiatria não reconhece a mitomania, ou o ato de mentir compulsivamente, como uma perturbação mental por si só, mas sim como um sintoma de outras perturbações psicológicas responsáveis por quadros clínicos complexos em que as pessoas tendem a criar histórias e personagens irreais.
São várias as perturbações mentais que se podem fazer acompanhar por uma rede complexa de mentiras patológicas, nomeadamente:
a) Depressão grave (mentir com o com o objetivo de evitar o sofrimento ou a deceção dos outros; causa culpa e arrependimento);
b) Esquizofrenia (mentir devido à vivência numa realidade modificada);
c) Cleptomania (mentir para ocultar atitudes e decisões reprováveis, como o roubo);
d) Perturbação de personalidade antissocial (a mentira é usada constantemente de modo consciente e voluntário; sem qualquer sinal de remorso);
e) Bulimia (mentir para ocultar atitudes e decisões reprováveis, como a ingestão alimentar compulsiva);
f) Adições (mentir para ocultar atitudes e decisões reprováveis como o consumo abusivo de álcool, drogas ou jogo patológico).
Conhece algum mentiroso compulsivo?
Certamente já se cruzou no seu dia-a-dia com algum mentiroso compulsivo, ou seja, com aquela pessoa que não consegue evitar mentir e que faz de tudo para evitar que as suas mentiras sejam descobertas. Muito provavelmente, é alguém que vive em permanente estado de stress, à medida que cria e conta histórias que encubram as suas mentiras.
A intensidade com que acredita nas suas mentiras é tão elevada, que o mentiroso compulsivo começa a ver as mentiras como parte integrante da sua personalidade e como forma de alcançar as suas metas de vida. Quando o hábito de mentir está enraizado, o mentiroso sente uma falsa sensação de controlo e tende a sentir necessidade de repetir o mesmo padrão de comportamento.
Felizmente, os mentirosos compulsivos são uma minoria, no entanto, é importante que procurem ajuda especializada, para que não vivam para sempre envoltos em mentira. O primeiro passo é reconhecer que existe um problema e o segundo passa por procurar ajuda especializada na área da saúde mental.
Como cada situação é diferente e exige uma intervenção adequada. O especialista em saúde mental saberá avaliar a gravidade e a frequência das mentiras, realizar o diagnóstico diferencial e propor o melhor tratamento. A intervenção terá sempre como objetivo alcançar a mudança de comportamento, levando a que o mentiroso compreenda a razão que o impulsiona para a mentira e as consequências que daí advêm.
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