Mudam os tempos, alteram-se as dietas, e o alimento que hoje é tido como bom, amanhã pode já ser um vilão. Quem nunca sentiu que a ciência e os especialistas em nutrição estão sempre a mudar a lista do que é ou não é indicado para entrar no nosso cardápio?
Ora bem, na verdade o que está por trás de tudo isso é o marketing e o que a indústria quer que você coma. Conheça os 7 mitos sobre comida que relacionam os seus hábitos alimentares a fatores inacreditáveis.
Por exemplo, ainda há pouco tempo, os jornais anunciavam que a chia é a semente mais poderosa do momento, e que se a incluir na sua rotina de alimentação vai ter uma barriga mais seca, um corpo mais saudável e cabelos com mais brilho.
É provável que não tenha tempo de acabar com o stock que comprou para dois anos, antes que volte a dar na televisão que, afinal, a chia pode provocar uma série de problemas ao organismo. Não, ainda não é desta, e por agora, a chia continua a ser muito in.
Criámos uma lista com os 7 mitos sobre comida que o marketing incluiu ou excluiu das mesas portuguesas. Alguns vão ficar surpresos, mas a realidade é que muito do que comemos, mesmo que sejam alimentos saudáveis, só estão nas nossas listas de compras porque alguém quer ganhar dinheiro com isso. E não é a ciência.
7 mitos sobre comida que deve ignorar
1. Sushi não engorda
Ok, a cozinha japonesa ganhou o mundo e hoje é tendência quando o assunto é comer. O sushi está nos grandes e pequenos ecrãs, faz sucesso no Instagram e é até nome de livro. Tida como uma refeição saudável, as suas variações estão cada vez mais presentes à mesa dos portugueses e não faltam opções de restaurantes muito trendy a servir o famoso peixe cru.
A ideia que temos da sua leveza é natural, pois basta pensarmos que a sua base está no peixe e no arroz, alimentos impecavelmente aceites na dieta portuguesa. Se a isto juntarmos a longevidade e elegância do povo japonês, só podemos concluir que esta culinária não engorda.
Mas a verdade é que, como qualquer comida, o sushi pode acrescentar uns números à balança se for consumido em excesso. Se é um fã dos nigiris e sashimis, pode saboreá-los todos os dias, desde que atento às quantidades… E fuja das frituras! Evite excessos.
- Sashimi de salmão (150g): 316,5 calorias
- Sashimi de atum (150g): 219 calorias
- Cada oito unidades de sushi: 240 calorias.
- O molho de soja não assusta pelas calorias (1 colher de sopa contém 9 calorias), mas apresenta alto índice de sódio.
2. Alimentos diet são menos calóricos
Por restringir completamente algum tipo de nutriente (açúcar, proteína, gordura ou sódio), os produtos diet não são obrigatoriamente menos calóricos. No caso do chocolate, por exemplo, a versão diet tem mais calorias do que a tradicional devido a maior adição de gordura. Ao escolher, verifique se a redução calórica justifica excluir por completo um nutriente e a substituição do alimento convencional pelo diet.
3. O pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia
Quem nunca ouviu que para começar bem o dia, é preciso apostar num pequeno-almoço de rei? A verdade pode não ser bem esta, uma vez que não há qualquer evidência científica que aponte neste sentido. A ideia que está tão enraizada faz parte de uma grande jogada de marketing e tem tudo a ver com as companhias que vendem cereais.
A Kellogg’s financiou uma pesquisa que relaciona a primeira refeição do dia com o índice de massa corporal. O The Quaker Oats Center of Excellence, o centro de estudos da famosa Quaker, apresentou um relatório que dizia claramente: as refeições matinais com aveia reduzem o colesterol.
Para entendermos o poder deste tipo de interferência nos nossos hábitos, é preciso conhecer a história de Edward Bernays, um relações públicas considerado génio na sua área. Há quase 100 anos ele cumpriu a missão de aumentar o consumo de bacon nos Estados Unidos. A estratégia foi simples: Bernays pediu que vários médicos confirmassem que para repor as energias perdidas durante a noite, o ideal era trocar a uma primeira refeição light por uma versão mais substanciosa.
- 4.500 médicos concordaram com a afirmação e Bernays publicou o resultado juntamente com anúncios de bacon
- Hoje, 70% do consumo de bacon nos EUA é feito durante as refeições da manhã.
4. Sumo de laranja é saudável
Mais uma caso de sucesso para o marketing das grandes marcas norte americanas. Em 1908, um forte aumento da produção de laranjas foi a origem para um dos maiores mitos sobre comida que conhecemos.
Organizados pela marca Sunkist, os produtores da Califórnia sabiam da necessidade de aumentar o consumo da fruta no país, ou iriam colapsar. Uma agência de publicidade decidiu mudar o rumo da história e criou uma versão económica de um espremedor de laranjas que era anunciado juntamente com a lista de benefícios da fruta à saúde.
Um caso de sucesso que mudou os hábitos alimentares de forma tão vincada que, só recentemente, este mito começou a ser questionado pelos especialistas em nutrição.
5. Muita água é bom
Hidratação é essencial à manutenção de uma boa saúde e quanto a isto não há argumentos contrários. Entretanto, a quantidade ideal de consumo de água é perfeitamente conseguida com uma dieta regular. O mito dos 2,5 litros de água por dia existe devido aos esforços dos fabricantes de água engarrafada. Hoje, os ingleses consomem 100 vezes mais água engarrafada do que na década de 80, por exemplo.
6. Cenoura faz ver melhor
Calma, não nos enganaram tanto assim. A cenoura faz bem e mantém os olhos saudáveis, mas não necessariamente ajuda a melhorar a visão. A história nasceu durante a Segunda Guerra Mundial, quando o governo britânico quis manter sigilosa a informação de que possuía radares e sugeriu que a cenoura era a causa da super visão noturna dos oficiais da aeronáutica.
7. Deixar de comer emagrece
Quando o assunto é emagrecer, não faltam dietas da moda, livros da moda e contas em redes sociais onde estrelas e caras desconhecidas partilham os seus cardápios de sonho. Opiniões que surgem de todos os lados, e quando o palco de partilha é a internet, não faltam sugestões de dietas hiper-restritivas.
Mas quem deixa de comer com o objetivo de reduzir o peso, está para lá de equivocado. O sacrifício pode render resultados a curto prazo, mas deixar de comer por longos períodos leva à redução do funcionamento do metabolismo e a consequência é clara: o corpo passa a não queimar as calorias corretamente. Ou seja, o efeito é contrário.
Lembre-se: limitar excessivamente as refeições provoca cansaço, sensação de fraqueza e desconforto gástrico. Para ter sucesso com a balança, a solução é apostar numa dieta equilibrada e praticar atividade física regular.
Na nossa lista, nem sempre a culpa é do marketing ou não terá de ser necessariamente. Mas mesmo quando não é, temos bons exemplos de como os mitos podem ser poderosos. E os publicitários entendem bem do assunto.
Veja também: