Os mitos sobre tecnologia propagam-se com facilidade nas conversas e nas redes sociais. Muitos são verdadeiros equívocos que podem parecer credíveis porque foram perpetuados por estudos científicos mal realizados ou mal interpretados. Outros eram verdades, apoiadas em tecnologias ultrapassadas, e que a evolução eletrónica acabou por transformar em mentiras.
Mas há mitos que foram, desde o início, equívocos e que se enraizaram de tal maneira na nossa cultura digital, que ainda hoje é fácil acreditar neles. Entre os mitos que mais podem estar a inibir a forma como utilizamos os nossos dispositivos eletrónicos, escolhemos 11 que vamos desmarcar.
11 mitos sobre tecnologia
1. É obrigatório remover hardware da USB de forma segura
Este mito afirma que, para retirar uma pen drive ou um disco ligado ao computador via USB, é necessário seguir a opção de “Remover Hardware de Forma Segura” (Safely remove hardware), para não correr o risco de corromper os dados ou anular o que foi feito nesse dispositivo.
A verdade: está estimado que o delay entre as alterações feitas numa pen e a sua aplicação é de apenas 0,5 segundos. Isto quer dizer que, passado este tempo, já é possível tirar uma pen da USB sem que ela seja afetada.
Se o tempo é tão rápido, porque existe então a opção de remover com segurança? Esta opção apenas quer confirmar que não está a abrir ou escrever dados no dispositivo sem ter dado conta. Por exemplo, um ficheiro ou vários ficheiros muito pesados que se esqueceu que estava a abrir ou a copiar. Mas mesmo nesses casos, retirar a pen não os vai danificar na origem. O pior que pode acontecer é que a ação iniciada não seja concluída e que o computador lhe dê a ler essa mensagem.
2. Esvaziar o ícone do caixote do lixo apaga permanentemente
O mito afirma que se limparmos os ficheiros do caixote do lixo (recicle bin) vamos apagá-los em definitivo e que nem nós, nem mais ninguém, os poderá recuperar.
A verdade: ao esvaziarmos a reciclagem, damos ordem ao computador para apagar todos os ficheiros que lá tínhamos colocado. O sistema operativo, em vez de os apagar imediatamente – o que poderia levar bastante tempo e empatar recursos do CPU -, vai identificar esses dados como apagados, o que marca como livre o espaço por eles ocupado.
Só quando novos dados são reescritos sobre esse espaço é que os antigos desaparecem permanentemente. Saber isto é especialmente importante no caso de limpar o caixote do lixo por engano e precisar de recuperar alguma coisa apagada, ou se vai vender ou oferecer o seu computador antigo e o quer deixar limpo dos seus dados para que outros não os tentem recuperar.
Claro que se utilizar muito o computador logo a seguir à limpeza dos caixote do lixo, corre o risco de os novos dados já estarem a ser reescritos sobre o espaço marcado como livre. Por isso, se houver um acidente, tente fazer a recuperação imediatamente a seguir, não utilizando o computador para mais nenhuma tarefa. Existem ferramentas gratuitas online que permitem a recuperação ou a limpeza definitiva dos dados apagados da reciclagem.
3. Máximo de rede móvel é igual a rede mais rápida
O mito diz que ao conseguirmos visualizar todos os traços do sinal de serviço de rede móvel no nosso telemóvel, estamos a utilizar a rede no máximo de velocidade que ela pode ter.
A verdade: o máximo de sinal de rede disponível não corresponde necessariamente ao máximo de velocidade de rede disponível. Isto quer dizer que, mesmo com os traços todos visíveis, a nossa rede pode estar muito lenta e longe da velocidade ótima para transferir dados.
O máximo da força do sinal apenas nos diz que estamos a receber bem a comunicação da torre de rede móvel mais próxima. Mas se muitos utilizadores estiverem nesse mesmo instante a utilizar o sinal dessa mesma torre, é provável que a velocidade da rede não esteja no seu melhor, o que explica a lentidão que pode estar a sentir.
4. Maior a RAM, maior a rapidez do computador
Este mito leva-nos a preferir dispositivos com RAM com um cada vez maior número de GB, porque achamos que a performance também será melhor.
A verdade: este mito tem um fundo de verdade que é quase palpável ao utilizador que passa de um computador com pouca RAM para outro com mais RAM. Mas a verdade é que o funcionamento desta memória temporária não é diretamente responsável pela velocidade a que o computador funciona.
O que a RAM faz é armazenar rápida e temporariamente tudo o que é preciso para que os programas que estão abertos possam funcionar ao mesmo tempo. Se a RAM for mais pequena do que as necessidades que esses vários programas exigem para funcionar ao mesmo tempo, o computador terá de recorrer a memórias mais lentas para os alojar (HDD/SSD) e garantir que consegue mantê-los a funcionar.
Resultado, o utilizador nota os programas mais lentos. Mas se o conjunto de programas que utiliza ao mesmo tempo não necessitar de mais espaço do que a sua RAM já lhe está a oferecer, não é por aumentar essa RAM que eles vão funcionar mais rápido. A única coisa que pode conseguir quando aumentar a RAM, é abrir ainda mais coisas ao mesmo tempo, mas para conseguir que essas coisas trabalhem mais depressa tem de ter em conta outros componentes do dispositivo.
5. Janela privada de navegação mantém os dados privados
O mito espalhou-se à medida que os browsers foram criando a possibilidade de os utilizadores navegarem em janelas privadas para a sua navegação não ficasse registada.
A verdade: a janela privada apenas evita que o browser que está a utilizar para navegar grave localmente os seus dados. Históricos, passwords que utilizou para ir ao seu e-mail ou a contas online e os cookies resultantes da sua navegação não ficam registados no dispositivo que está a utilizar.
Isto é muito bom para quando utiliza um computador ou smartphone emprestado, ou se estiver a utilizar um computador público onde nada fica registado. Mas nos sites que visitou, toda a sua atividade continuou a ser registada quer seja pelo seu operador de Internet, quer seja pelos serviços que visitou, como o Facebook ou o Gmail, o que quer dizer que os seus dados poderão ser na mesma gravados.
6. Computadores Apple não apanham vírus
Este mito foi criado pelos utilizadores dos primeiros Macintosh e incentivado pela própria Apple, que afirmava que o seu sistema operativo era à prova dos vírus que afetavam frequentemente os sistemas Windows.
A verdade: o sistema operativo da Apple tem uma construção diferente do SO criado pela Microsoft, o que durante anos o tornou impenetrável aos vírus criados para PCs.
Pensa-se que a sua taxa de segurança tinha muito a ver com a sua baixa penetração inicial no mercado, o que não tornava este ecossistema um alvo tão interessante para os hackers. Mas desde que os seus utilizadores começaram a aumentar, as coisas já não são assim. A quantidade de programas de malware e vírus direcionados para este sistema também cresceu muito e já nem a própria Apple continua a afirmar que o seu sistema operativo é impenetrável.
7. Bateria deve descarregar toda antes de recarregar
Este mito é dos que já foram verdade com as tecnologias mais antigas de baterias de níquel-cádmio. Dizia-se que se não deixássemos as baterias dos nossos computadores ou telemóveis descarregar até 0% para depois fazermos o carregamento até 100%, elas ficavam viciadas e iriam ter menos tempo de vida.
A verdade: as baterias mais recentes são de iões de lítio e já não têm o chamado efeito de memória de carregamento das antigas baterias, o que as “viciava” para períodos de duração mais curtos se não fizessem o ciclo total da carga. Como as baterias têm ciclos de vida limitados e definidos, o que faz com que vão perdendo capacidade é o esgotamento desses ciclos de vida e não o facto de não terem descarregado totalmente ou de terem carregado apenas até 50%.
Atualmente, até é aconselhado que isso não aconteça para não stressar os materiais químicos que fazem a bateria funcionar, sendo a situação ideal manter sempre as baterias entre os 40% e os 80 % de carregamento.
8. O botão refresh torna o computador mais rápido
O mito convenceu-nos de que, quando tudo está mais lento no nosso computador, ao carregarmos no botão refresh as coisas começam a andar mais rápido.
A verdade: o botão de refresh do computador vai fazer apenas uma atualização aos ícones do desktop ou às janelas que estão abertas. Isto quer dizer que se tiver alterado nomes de pastas ou nomes de ficheiros, ou se tiver redimensionado uma imagem e essas alterações ainda não apareceram, depois do refresh elas vão surgir.
Ao resolver estas discrepâncias, o refresh não torna nada mais rápido, pelo contrário, até pode ocupar mais recursos do CPU, porque vai acrescentar uma nova tarefa ao computador.
9. Não utilizar o telemóvel enquanto carrega
Este que é um dos maiores mitos sobre tecnologia assustava os utilizadores, dizendo que o telemóvel podia explodir se utilizado ao mesmo tempo que estava ligado à corrente elétrica.
A verdade: os únicos registos de explosões com telemóveis, sem serem propositadamente provocadas, estão associados ao célebre caso do Samsung Note 7 e que tiveram a ver com problemas do fabricante.
Não há registos de outras explosões na situação acima descrita. O que acontece, e isso sim é de evitar se possível, é que o telemóvel pode sobreaquecer ao carregar e estar a ser utilizado ao mesmo tempo. O mesmo pode acontecer nos computadores, apesar de não ser tão frequente.
O sobreaquecimento deste dispositivos é, a longo prazo, o que mais rapidamente pode danificar os seus componentes, especialmente a bateria. Por isso é bom evitar o uso nessas situações.
10. Utilizar apenas carregadores do mesmo fabricante
O mito reafirmava o perigo de explosão ou de bateria danificada se o utilizador recorresse a um carregador que não fosse da marca do seu telemóvel.
A verdade: este mito surgiu da advertência dos fabricantes que tentavam que os utilizadores não recorressem a carregadores baratos, falsificados, cujos circuitos e fios de qualidade inferior poderiam danificar os seus equipamentos e baterias. Mas se o carregador respeitar a qualidade dos componentes e for o indicado eletricamente para o seu telemóvel, não é obrigatório que seja da mesma marca.
11. Mais megapixéis significam uma câmara melhor
Apoiado no marketing dos fabricantes, este mito convenceu-nos de que uma câmara com mais megapixéis tira sempre fotografias com mais qualidade do que uma câmara com menos megapixéis.
A verdade: os pixéis são pequenos pontos de cor que formam, no seu conjunto, uma fotografia digital. Um megapixel é um milhão desses pontinhos nas fotografias. Quantos mais, melhor para a impressão em papel. Mas se ficarmos apenas pela quantidade de megapixéis que uma câmara diz captar nunca compreenderemos porque é que um telemóvel com 8 megapixéis pode tirar fotografias com mais qualidade que um com 13.
O que acontece é que, mais importante que os megapixéis que a câmara capta, é a qualidade do seu sensor de luz (CCD ou CMOS) e a capacidade de abertura da sua lente. Reside mais neles a qualidade da fotografia final do que na quantidade megapixéis, daí que uma câmara dedicada consiga habitualmente uma melhor fotografia do que a câmara de um telemóvel ou tablet. Está desfeito mais um dos mitos sobre tecnologia.
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