O papel da mulher nas empresas é um assunto que tem vindo a ganhar cada vez mais importância à medida que as gerações evoluem. No entanto, as desigualdades entre mulheres e homens no mercado de trabalho agravaram-se durante a pandemia.
E segundo a síntese da Organização Internacional do Trabalho (OIT), essas desigualdades vão persistir num futuro próximo.
A síntese demonstra que as mulheres sofreram efetivamente perdas abruptas e desproporcionais de emprego e rendimentos devido ao papel que desempenham nos setores mais atingidos – como os serviços alimentares, o setor da indústria transformadora ou o turismo.
Para que consiga ter uma noção, entre 2019 e 2020 em termos globais, o emprego feminino desceu 4,2%, enquanto o emprego masculino diminuiu apenas 3%.
Sabia que Portugal é o quinto país da União Europeia com maior impacto da pandemia no mercado de trabalho? E que as mulheres foram as mais penalizadas? Fique connosco e saiba tudo.
De que forma a pandemia afetou a mulher nas empresas
Não há dúvidas de que o mercado de trabalho português precisa de se tornar mais inclusivo. E no que diz respeito ao papel da mulher nas empresas, é possível perceber que foram as mais penalizadas por desempenharem funções de risco ou por terem responsabilidades a cuidar de outros.
De facto, todo o esforço que tinha vindo a ser feito quer pelas mulheres na luta pelos seus direitos, como pelas empresas, foi colocado em risco pela pandemia de COVID-19.
O relatório do Grupo Adecco, realizado em 2021 e intitulado por “Resetting Normal: Defining the new era of work”, concluiu que mulheres e homens viveram a pandemia de forma diferente.
Além disso, foram precisamente as mulheres que sentiram mais as consequências:
- Mais mulheres a sentirem que o seu bem-estar mental diminuiu (34% versus 29%);
- A percentagem de mulheres a sentirem-se em burnout também aumentou (39% versus 36%);
- E mais mulheres a quererem regressar ao escritório (46% versus 38%).
Outro fator importante que contribuiu também para que as mulheres fossem mais penalizadas no mercado de trabalho foi o facto de que em várias sociedades, ainda são elas quem suporta o peso do trabalho em casa, assim como dos cuidados familiares.
A desigualdade de género nas responsabilidades parentais
Como sabemos, a pandemia fez com que as escolas fechassem durante bastante tempo e as crianças mais pequenas precisaram de ficar em casa acompanhadas por um dos pais.
E mesmo quando reabriram, com o aumento de contágios, foram várias as crianças que se viram obrigadas a ficar em casa a cumprir isolamento vezes sem conta.
Ora, um pouco semelhante ao que acontece noutros países, também em Portugal são as mulheres quem acumula o trabalho duro em prestar cuidados a menores.
E o nosso país destaca-se precisamente entre um grupo de 25 analisados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Por ser aquele onde é mais desproporcional a distribuição das responsabilidades parentais.
O apoio excecional à família também prejudicou as mulheres numa primeira fase
Se passou por esta situação, provavelmente sabe que a experiência feita pela Segurança Social com o objetivo de diminuir as perdas de salário entre os pais forçados a permanecer em casa com os filhos não correu como previsto.
Na maioria dos casos e numa fase inicial quando foi criado o apoio excecional à família, foi usado em 2020 por cerca de 81% das mulheres trabalhadoras. Um número bastante significativo e que nos coloca a todos a refletir sobre a situação.
Contudo, em 2021 a medida foi alargada e passou ainda abranger profissionais em teletrabalho – premiando assim a divisão de responsabilidades parentais.
Mas a verdade é que até que esta medida fosse alargada, foram as mulheres quem abdicou do trabalho nas empresas para poderem garantir todos os cuidados aos seus filhos durante a pandemia.
E como seria de esperar, a maioria delas sentiram-se exaustas, desmotivadas e até ansiosas por voltarem aos seus trabalhos no escritório. E porquê? Devido à carga emocional que experienciaram em casa (não falando ainda dos seus salários menores).
Nas empresas de grande dimensão, as disparidades entre os géneros agravam-se cada vez mais
Depois de um cenário pandémico onde vimos as mulheres a serem altamente penalizadas nas empresas devido a toda a carga com que se viram obrigadas a lidar e com os salários reduzidos, a situação parece não melhorar noutros aspetos.
Sabia que as mulheres representam menos de um terço dos cargos mais altos das empresas? Quem o diz é o estudo realizado pela consultora Informa D&B sobre “A Diversidade de Género nas empresas em Portugal”.
Através desse mesmo estudo é possível perceber a discrepância que ainda existe no nosso país em termos de ocupação de cargos de topo e liderança por parte das mulheres relativamente aos homens.
Em comunicado a consultora informou ainda que “Apesar da evolução registada nos últimos anos e do facto das mulheres corresponderem a cerca de 60% de todos os licenciados, a sua representação nestes cargos está ainda muito longe da paridade”.
Além disso, face a 2019 não houve evolução da participação feminina nos cargos de gestão, cargos de direção e até de liderança. E importa ainda referir que a sua participação em cargos deste género é ainda menor em empresas de grande dimensão.
Portanto, é possível concluir que as mulheres, apesar de possuírem níveis mais elevados de escolaridade, representam menos de um terço dos cargos mais altos das empresas. E a verdade é que a evolução registada não parece levar à paridade num futuro próximo.