A narcolepsia é um distúrbio crónico do sono que pode provocar grande incapacidade e sobre o qual ainda existe um grande desconhecimento. Trata-se de uma doença neurológica; um tipo de hipersónia. Vamos esclarecer as causas, os sintomas e os tratamentos disponíveis para este problema.
O que é a narcolepsia?
A narcolepsia é uma doença neurológica que se caracteriza por sonolência excessiva e incontrolável durante o dia, podendo ocorrer episódios de sono súbito (ataques de sono irresistível).
É uma patologia pouco frequente, que atinge cerca de 47 pessoas em cada 100.000 habitantes, na Europa. Afeta de igual forma homens e mulheres e surge habitualmente na adolescência ou nos jovens adultos. Contudo, pode aparecer em qualquer idade.
É uma doença extremamente incapacitante e que condiciona imenso a qualidade de vida dos doentes, afetando as suas atividades profissionais, sociais e familiares. Para agravar a incapacidade natural que a narcolepsia provoca, existe ainda um grande estigma relacionado com esta perturbação, sendo muitas vezes os doentes erradamente rotulados de preguiçosos e deprimidos.
As pessoas próximas do doente com narcolepsia devem estar informadas acerca da existência da patologia e dos seus sintomas. A entidade patronal deve também estar inteirada das especificidades desta doença, dado que as sestas frequentes podem interferir com o horário de trabalho.
Quais são os sintomas da narcolepsia?
As pessoas que sofrem desta doença apresentam alguns dos seguintes sintomas.
- Períodos recorrentes com uma necessidade incontrolável de dormir, que ocorrem durante o dia: a sonolência excessiva pode surgir em alturas inadequadas como durante uma conversa, uma refeição ou a conduzir (pelo que pode ser prudente evitar conduzir), embora seja mais habitual surgirem durante atividades monótonas ou repetitivas.
- Episódios de cataplexia: episódios de perda súbita e involuntária de tónus muscular (força), o que provoca uma espécie de paralisia de alguns músculos. Os doentes podem cair no chão durante estes episódios. Os ataques de cataplexia ligeiros e parciais (por exemplo, perda de força nas mãos) não apresentam grande gravidade. Os ataques de cataplexia mais graves podem provocar situações perigosas (por exemplo, cair ao atravessar a estrada).
- Alucinações ao acordar ou ao adormecer: alguns doentes podem ver imagens, ouvir sons e ter sensações irreais.
- Paralisia do sono: incapacidade do doente em mexer-se, principalmente depois de acordar. Este sintoma dura apenas alguns minutos.
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Quais são as causas?
Ainda não se conhecem todas as causas que levam ao aparecimento desta doença, mas algumas hipóteses importantes têm sido avançadas. Veja abaixo.
- Existir uma predisposição genética associada: os familiares em primeiro grau de doentes com narcolepsia têm um risco de 1% a 2% de vir a desenvolver a doença.
- A narcolepsia parece estar associada ao défice de uma substância a nível cerebral (chamada hipocretina/orexina) e a uma alteração da normal distribuição das fases do sono.
- Em casos mais raros, a narcolepsia pode ser provocada por tumores, acidentes vasculares cerebrais, traumatismos cranianos, esclerose múltipla, doença de Parkinson, sarcoidose ou outras lesões nas regiões do cérebro que controlam o sono.
Como é feito o diagnóstico?
As queixas do doente, juntamente com os sintomas de sonolência excessiva e a cataplexia, são determinantes para que o diagnóstico seja feito. Contudo, é também recomendado realizar o estudo do sono ao longo de uma noite (polissonografia).
Este estudo permite excluir outras causas comuns para a sonolência como, por exemplo, a apneia obstrutiva do sono (doença respiratória relacionada com o sono).
Outro exame recomendado é o teste de latências múltiplas, que permite avaliar a facilidade que a pessoa tem em adormecer, mesmo após uma noite de sono, e o eletroencefalograma que regista a atividade elétrica do cérebro. Este teste consiste na realização de 4/5 sestas de 20 minutos, de 2 em 2 horas e, permite medir a rapidez com que se adormece e se existe sonolência.
Existem outros exames específicos que podem ser realizados para confirmar o diagnóstico, cuja pertinência deve ser discutida com o médico que acompanha o doente.
Qual é o tratamento para esta perturbação do sono?
Apesar de esta ser uma doença crónica, existem diversos tratamentos disponíveis para diminuir e atenuar os seus sintomas.
Os sintomas da narcolepsia podem ser aliviados com medicamentos, sendo que habitualmente os mais utilizados são os estimulantes, os antidepressivos e os hipnóticos.
Além do tratamento farmacológico, a mudança dos hábitos de vida do doente pode ser determinante:
- é recomendada a prática de atividade física;
- deve existir uma boa rotina de sono – horários estabelecidos e dormir o número de horas adequadas;
- manter o quarto escuro e com uma temperatura agradável;
- fazer atividades relaxantes, como ler ou meditar;
- os alimentos e as bebidas estimulantes devem sem evitados antes de deitar;
- não fumar;
- realizar sestas curtas durante o dia – 2 ou 3 sestas por dia, de cerca de 10/20 minutos. Estas sestas ajudam a diminuir a sonolência.
Muita investigação sobre esta doença continua a ser feita, pelo que é natural que num futuro próximo possam surgir novos e melhores tratamentos.
Se suspeita que pode ter narcolepsia, não hesite em contactar o seu médico de família, explicar-lhe todos os sintomas e discutir o encaminhamento para um médico com experiência em medicina do sono.