Os NFTs surgiram entre 2012 e 2014, mas só nos últimos anos ganharam popularidade ao conseguirem criar a noção de escassez de bens digitais no mundo virtual. Vejamos o exemplo que se segue.
Alguém criou um meme e publicou-o online. Esse meme pode ser replicado integralmente e infinitamente no mundo digital. Como bem digital, esse meme não é um bem escasso. Mas se o autor do meme decidir associar-lhe um NFT para afirmar que determinada cópia desse meme é que é a original, o cenário muda.
Se esse autor se tornar famoso, o seu meme com NFT associado vai suscitar uma grande procura, ainda que seja exatamente igual às suas inúmeras cópias disponíveis online. Se eu gostar muito do meme em causa posso copiá-lo para o meu computador para o ver e rever quantas vezes quiser, mas isso pode não me bastar. E se eu quiser ser reconhecido como o único proprietário do meme “original”? Para tal, basta comprar o meme com NFT.
O que aconteceu na internet em 2021, foi um súbito interesse por bens digitais com NFT associado, aos quais se convencionou chamar apenas NFTs. Quanto maior interesse se gerou em torno dos NFT, mais rapidamente subiu o seu valor. A procura aumentou e a oferta seguiu-lhe o exemplo, criando condições favoráveis para transações num mercado que já foi avaliado em vários milhões de dólares.
Parece brincadeira, mas não é. Aparentemente, a obsessão em ser proprietário de uma garantia de autenticidade e exclusividade – que há séculos regula o mercado da arte – chegou ao mundo digital. E não parece estar limitada à arte digital.
NFTs: o que são e como funcionam?
Non-fungible token (NFT) não são mais do que certificados digitais que autenticam uma reivindicação de propriedade de um bem digital. O bem digital pode ser um meme, uma fotografia, um vídeo, uma música ou uma mensagem numa qualquer rede social à qual foi aplicada uma espécie de selo de autenticidade, um NFT. Esse certificado pode ser comprado e vendido, numa operação que fica registada e protegida pela tecnologia blockchain, a mesma que regista as transações com as criptomoedas.
Esta tecnologia garante que as transações de NFTs – dos certificados de propriedade do bem digital – são públicas, visíveis por todos, e que não podem ser alteradas. É como se ficassem fechadas numa caixa forte. Isso garante que, mesmo que o bem digital associado ao NFT, o tal “original”, possa continuar a ser copiado online, o mesmo nunca poderá acontecer ao seu registo de propriedade, o que torna esse registo um bem único e escasso.
Mercados disponíveis
Este bem escasso, ainda que digital, atrai colecionadores e investidores criando um mercado para os NFTs. Estes podem ser encontrados em mercados específicos onde autores famosos e amadores, corretores e colecionadores, colocam à venda os seus NFTs que podem ser transacionados entre pessoas de todo o mundo. Os mercados mais conhecidos são o OpenSea ou o BakerySwap, mas outros mercados estão a surgir, associados a comunidades de jogos, comunidades de fãs de séries e filmes, desportos ou correntes artísticas e grandes marcas como a Nike, a Microsoft, a CocaCola ou a Marvel que já prometeram lançar NFTs oficiais.
Os NFTs com mais sucesso são os colecionáveis, logo seguidos dos de arte e desporto. Em Portugal, por exemplo, a RealFevr, uma startup parceira da Liga e da Federação Portuguesa de Futebol arrecadou em 2021 cerca de 1,5 milhões de euros ao vender NFTs dos golos ou dos melhores instantes das estrelas do futebol.
NFTs: uma “moeda” de dupla face
Se por um lado os NFTs garantem que os colecionadores podem expandir as suas coleções milionárias também aos bens digitais, por outro funcionam como qualquer outro investimento especulativo que implica verdadeiros riscos. Para os artistas foi finalmente uma luz ao fundo do túnel já que podem vender a sua arte num mercado que pura e simplesmente não existia, mas as fraudes com a autoria e a atribuição inicial do NFT são difíceis de identificar e resolver.
Os NFTs podem estar a contribuir para uma nova filosofia de vida online, capaz de potenciar uma economia virtual dentro do muito falado metaverso (mundo virtual do futuro). Mas se por um lado eles podem vir a ser determinantes para validar transações económicas dos nossos avatares no futuro virtual, como comprar terrenos ou casas virtuais, por agora eles criam problemas bem reais no mundo físico
Quem investe deve ter bem ciente que o mercado dos NFTs escapa ao enquadramento legal e às regulamentações da indústria e do consumo convencionais. Os riscos são grandes e os compradores devem avaliar com cautela os seus investimentos.