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Nascido em Cedofeita, Porto, em 1934, Mário Manuel Veloso de Araújo Cabral, mais conhecido no mundo do desporto motorizado como Nicha Cabral, faleceu esta madrugada, a 17 de Agosto. Tinha 86 anos.
O ex-piloto teve uma vida repleta de sucessos, quer pessoais, quer desportivos, mas marcada nos últimos anos por vários problemas de saúde. Deixa um enorme legado de fãs e seguidores, não só em Portugal, mas pela Europa fora.
nicha cabral: uma vida dedicada ao desporto automóvel
Foi o primeiro português a participar numa prova de Fórmula 1. Estreou-se no campeonato em 1959, precisamente no 2º Grande Prémio de Portugal, que foi disputado no circuito de Monsanto, em Lisboa, terminando em 10.º lugar, ao volante de um Cooper – Maserati.
Nicha Cabral viria ainda a participar em mais quatro provas da categoria raínha. Voltou no ano seguinte a competir no Grande Prémio de Portugal, desta feita no circuito da Boavista, mas não completou a prova.
Em 1963, e após ter cumprido serviço militar em Angola, Nicha Cabral retorna à F1 e qualifica-se para o Grande Prémio da Alemanha, em Nurburgring, mas a sorte não lhe sorri e problemas mecânicos impedem que termine a prova. No mesmo ano, no GP de Itália, em Monza, o piloto portuense não conseguiu a classificação para a prova e não participou na corrida principal.
Em 1964, o derradeiro ano do piloto na Fórmula 1, e já a correr pela Derrington-Francis Racing Team, Nicha Cabral consegue qualificar-se para o GP de Itália, mas mais uma vez, não terminou a prova.
Jack Brabham: o homem que nunca esqueceu Nicha Cabral
O falecido tri-campeão mundial (1959, 1960 e 1966), o australiano Jack Brabham nunca esqueceu Nicha Cabral nem o Grande Prémio de Portugal de 1959, mas não pelas melhores razões… Apesar de
“Ele estava a discutir o primeiro lugar com o Moss. Íamos na autoestrada a entrar em Monsanto, olhei por um dos retrovisores e vi o nariz do carro dele a aproximar-se. Pensei ‘Olha, vai ultrapassar-me nesta reta’ e cheguei-me à direita para ele ter espaço à esquerda. O que é que ele pensou? O contrário! Quando ele percebeu que eu já não ia para a esquerda, era tarde de mais. Sem espaço para entrar por fora naquela curva, foi de frente e bateu no vértice do triângulo. Ficou ali e eu continuei. Nas boxes, terminada a corrida, veio falar comigo. Estava furioso, a protestar. ‘Why don’t you break sooner?’ perguntou-me ele. ‘A culpa foi tua, não saí da minha trajetória. E mais, dei-te o espaço para avançares à vontade. Ninguém tem culpa que tu penses mal’. Sabe uma coisa? Nunca mais se esqueceu de mim. Anos depois, escreveu as suas memórias: ‘Não acabei o Grande Prémio de Portugal em 1959 por causa de um ‘very dangerous local boy’”, contou Nicha Cabral numa entrevista ao jornal I em 2012.
O acidente de Fórmula 2 que podia ter sido o fim de Nicha Cabral
Corria o ano de 1965 quando Nicha Cabral, arredado da Fórmula 1 por questões financeiras, disputava o campeonato de Fórmula 2, quando no Grande Prémio de Rouen, só não morreu “por milagre”, recorda.
“Fiquei arredado da Fórmula 1 porque tive um acidente grave em Rouen no ano de 1965. Não morri por milagre. Despistei-me, dei duas voltas e fui parar à mata. O carro embateu numa árvore, partiu-se em dois e eu aterrei numa zona de silvas, que me ampararam o golpe. Saí todo picado, com 17/18 fraturas. Estive seis meses num hospital em Rouen, onde uma enfermeira salvou-me da morte com embolia pulmonar. Ela estava sempre ao meu lado e tinha a injeção pronta. Salvou-me a vida às duas e quatro da manhã. Só voltei a correr em 1967 ou 1968, em Monsanto. Ganhei a corrida com um Porsche Carrera. Aí, entusiasmei-me outra vez. Fórmula 1 nunca mais, por falta de verbas também. No fundo, tive sorte e azar. Não levava aquilo a sério. A Fórmula 1 não era o circo de agora e não tinha um manager. Tinha uns amigos e tal. Mas gostei da aventura.”
Nicha Cabral: a vida depois de “pendurar o capacete”
Depois de ter abandonado as pistas, Nicha Cabral assumiu funções como consultor da Formula Ford em Portugal, ajudando a dinamizar a escola de pilotos no Circuito de Estoril.
Foi responsável por ajudar a carreira de pilotos de renome em Portugal, como Pedro Matos Chaves ou Pedro Lamy, que atingiram também chegaram à Fórmula 1.
Até sempre, “Nicha”.