Os nómadas digitais ganharam espaço e destaque desde o início da pandemia. É certo que o conceito não é novo, mas a pandemia veio reinventá-lo.
A COVID-19 veio impor o teletrabalho a muitos setores profissionais. Mas, se uns uns não encararam da melhor maneira a mudança, para outros esta foi uma oportunidade para viajar enquanto trabalham. É o que se pode considerar “juntar o útil ao agradável”.
Há décadas que a tecnologia aboliu barreiras e tornou possível a muitos profissionais trabalhar a distância, em qualquer parte do globo.
Dentro e fora do país, são vários os destinos que têm convidado à prática do trabalho remoto com a atribuição de vistos de residência e outros incentivos.
Contamos-lhe tudo.
Nómadas digitais: uma comunidade em crescimento
O que são nómadas digitais?
Os nómadas digitais, como o nome deixa adivinhar, aproveitam o facto de poderem trabalhar a distância para conciliarem trabalho com viagens. São pessoas que gostam de conhecer o mundo, mas como para viajar, têm de trabalhar, poder juntar as duas coisas é a solução perfeita.
Andam de país em país, de cidade em cidade, conforme lhes apetece, enquanto vão trabalhando, numa startup ou por conta de outrem, como qualquer trabalhador normal. Bastam-lhes os computadores e/ou tablets e ligação à Internet, porque as tarefas inerentes à profissão, são todas feitas online.
Os nómadas digitais não querem viajar como os turistas. Querem, por outro lado, visitar as cidades, ir a eventos culturais, conhecer pessoas e ter rotinas diárias (de vida social, de trabalho) semelhantes às dos locais. Só que em vez de o fazerem apenas no próprio país e sempre nos mesmos locais, fazem-no em vários pontos do mundo.
Um movimento em expansão
Há muito que profissionais de todo o mundo, programadores, designers, escritores, bloggers, publicitários, entre tantos outros, escolheram este estilo de vida e de trabalho e o movimento nomadismo digital foi ganhando dimensão.
Muito antes da pandemia, estes “turistas” absortos na tecnologia a uma mesa de café, trabalhavam a partir de Portugal, para uma qualquer empresa sediada noutra parte do mundo. Ou vice-versa.
No entanto, foi com a pandemia de COVID-19 que o movimento ganhou outra visibilidade e importância. Não só porque a nova realidade laboral abriu essa possibilidade a mais gente, mas também porque países e municípios criaram incentivos especiais para receber estes nómadas digitais.
Desafios dos nómadas digitais
Conciliar o trabalho com o facto de estar em permanente viagem é uma realidade que também tem os seus desafios.
É preciso ter cuidado com as diferenças horárias, por exemplo, para que tudo corra bem. O principal problema que se coloca no dia-a-dia de quem trabalha fora do seu ambiente natural é, contudo, o Wi-Fi, visto que é essencial para o trabalho.
Há, ainda, as relações que são difíceis de manter à distância. É importante perceber isso. Falamos de um cliente ou de um projeto específico, por exemplo.
Para além disso, há também a necessidade de planear previamente tudo o que é necessário para cada viagem. Encontrar bons espaços de trabalho, alojamento, eventos interessantes e encontros com outros nómadas digitais requer tempo.
Um dos principais desafios para os nómadas digitais é terem sempre em consideração que, mesmo que estejam a viajar pelo mundo, têm de se manter focados no trabalho. Para isso é fundamental saber gerir muito bem o tempo.
Lugar na lei
Não existe uma lei própria para os nómadas digitais.
Perante a lei, um nómada digital não é um turista, nem um cidadão que vive de forma permanente num determinado local. Estes cidadãos/trabalhadores do mundo estão entre uma coisa e outra e não há nenhuma lei que cubra nenhuma área da sua vida.
No que respeita a vistos (específicos), seguros de saúde, impostos, entre outros, a legislação ainda não consegue responder de forma ajustada.
Por outro lado, em termos de iniciativas privadas direcionadas para este público, de ferramentas de comunicação até ao arrendamento de espaço para trabalhar, houve uma explosão nos últimos anos, antes da COVID-19. No entanto, a pandemia deu lugar a outras ofertas.
O lado positivo da pandemia
Em toda a crise há novas oportunidades que se abrem. Para os nómadas digitais abriram-se novas possibilidades e novas facilidades, ainda que com estadas mais prolongadas e ponderadas.
O novo normal como incentivo ao turismo e à economia
De forma a responder à atual crise, em 2020 alguns países começaram a convidar estrangeiros a trabalhar remotamente, ao atribuirem vistos de residência de um ano.
Isso permitiu aos nómadas digitais viver legalmente e trabalhar à distância a partir de outro país, durante um período de até 12 meses.
Oportunidades no estrangeiro
Em Espanha, o trabalhador pode solicitar o visto de trabalho autónomo do país. O “visto especial” permite que o viajante more e trabalhe em território espanhol até um ano.
A Alemanha tem um programa de permissão destinado a freelancers e trabalhadores remotos. O site do governo descreve os diferentes programas de vistos e quem pode se inscrever. Os candidatos devem apresentar prova de renda, seguro de viagem e cartas de recomendação de empregadores anteriores.
Também a Estónia, que já vinha a elaborar este esquema de trabalho remoto nos últimos anos, lançou-o, efetivamente, com a pandemia. Para isso, realizou uma pesquisa para avaliar o interesse da população. O estudo concluiu que 57 por cento dos entrevistados considerariam ir viver para outro país para trabalhar remotamente, apontando como fatores positivos o modo de vida mais barato e a experiência cultural. O interesse era superior entre os trabalhadores mais jovens (63%), dos 18 aos 34 anos, em comparação com a população com mais de 55 anos.
O programa, com lugar para, pelo menos, 1800 requerentes, permite o acesso a serviços da Estónia a estrangeiros, com atribuição de vistos de residência.
O Governo das Bermudas, que abriu as fronteiras a 1 de julho de 2020, apresenta poucas restrições para a obtenção do visto de residência. Para além do seguro de saúde válido, é exigida uma taxa de inscrição de 263 dólares. O objetivo é promover um teste experimental que leve os trabalhadores ao prolongamento da residência por tempo indeterminado.
Em Portugal: Madeira
Portugal é, há muito, um dos destinos deste movimento e Lisboa uma das capitais europeias do nomadismo digital. Contudo, as ilhas também já entraram na lista.
A Madeira lançou, no final de 2020, um projeto inovador para atrair nómadas digitais de todo o mundo. A iniciativa Digital Nomad Madeira é uma parceria entre o Governo Regional da Madeira, a Startup Madeira e Gonçalo Hall, nómada digital e consultor de trabalho remoto.
Esta iniciativa é criada com o objetivo de atrair 700 trabalhadores remotos de todo o mundo para o arquipélago, onde os mesmos podem desfrutar de uma nova infraestrutura criada a pensar neles, onde existem espaços de trabalho, locais de atividades e de comunidade.
O 1905 Zino’s Palace, situado na Ponta do Sol da Ilha da Madeira, acaba de lançar um programa em parceria com a plataforma Digital Nomads dedicado a todos os profissionais que procuram novos espaços para trabalhar, fora das suas casas e em sintonia com a natureza.
O palacete romântico com vista para o oceano atlântico, com cerca de 9 quartos, restaurante, piscina exterior, bar e um pátio grande com zonas de esplanada, vai oferecer um conjunto de benefícios e descontos para pessoas que possam trabalhar a partir das instalações do hotel.
Condições deste programa
O programa está disponível em três níveis diferentes, com condições que variam consoante o número de noites de estadia. Mais ainda, podem chegar aos 35% de desconto.
Par além disso, os nómadas digitais que optem por teletrabalhar do 1905 Zino’s Palace terão acesso a um conjunto de serviços, tais como internet wi-fi de alta velocidade, pequeno-almoço incluído, serviço de limpeza e ainda 10% de desconto em refeições no restaurante do hotel.
Assim, para aqueles que ainda não o fizeram e desejam mudar de vida, esta pode ser a oportunidade. Se pretende aliar a paixão pelas viagens ao trabalho, assumir o papel de nómada digital pode ser o primeiro passo.