Share the post "De Covide a Solteiras: os nomes estranhos das terras de Portugal"
São os verdadeiros caminhos de Portugal. Terras com nomes estranhos, ou exóticos, mas que existem mesmo. É só ver no mapa. Podíamos ter ido a Pai Torto, a Arrota ou Choca do Mar.
E por que não parar em Catraia do Buraco, Orelhudo ou Fatela? São nomes que atiçam à piada, é verdade. Revelam um Portugal profundo, com histórias fantásticas e denominações que, como diz o povo, não lembram ao diabo.
Contudo, são também o espelho de um país cada vez mais envelhecido e em que o interior se vai desertificando aos poucos.
O jovens emigram para os grandes centros urbanos, os mais velhos vão ficando cada mais sós e isolados, mas sempre orgulhosos de permanecerem firmes em Porto da Carne, Boi Morto, Água de Todo o Ano, Picha ou Venda da Gaita.
Assim sendo, escolhemos um roteiro de Norte a Sul pelos caminhos de Portugal. Podia ser outro qualquer (não faltam terras com nomes estranhos), mas aqui ficam algumas localidades no mínimo curiosas.
Os nomes estranhas das vilas portuguesas
Covide
Tornou-se um nome incontornável, fruto da pandemia. Mas já há muitas décadas que a freguesia de Covide, no concelho de Terras de Bouro, faz pela vida. No último ano, tornou-se quase uma moda fotografar a placa toponímica da terra que tem parte significativa do seu território integrado no Parque Nacional Peneda Gerês.
Com pouco mais do que 340 habitantes, tem, no entanto, uma vasta oferta para quem a visita: o Trilho Pedestre Calçada da Calcedónia, com sete quilómetros, ou a Fraga da Cidade, ou do Quelhão, um povoado fortificado da Idade do Ferro com provável ocupação romana, encantado por lendas que se perdem no tempo. Vilarinho da Furna é por ali perto.
Porreiras
Lá no Alto Minho, mais concretamente no concelho de Paredes de Coura, fica a freguesia de Porreiras. Ou ficava, porque a reorganização administrativa de 2013 fez com que se criasse a União das Freguesias de Insalde e Porreiras.
Com apenas 95 habitantes, Porreiras fica no extremo norte de um concelho que se tornou famoso pelo festival de música. Assim, logo que volte a haver música, e estiver pelas redondezas, não se esqueça de dar um salto a Porreiras e aproveite para conhecer a fantástica Eira Comunitária. São oito espigueiros e quatro alpendres que serviam de palheiros e um núcleo de moinhos de água, recuperados nos últimos anos.
Carro Queimado
Para lá do Marão, mais concretamente em Vila Real, existiu, até 2013, uma freguesia de nome Vale de Nogueiras e de onde faziam parte os lugares Assento, Carvas, Galegos, Ludares, Santa Marta, Vale de Nogueiras e, claro está, Carro Queimado. Foi nesta freguesia que o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho passou a infância.
Voltando a Carro Queimado, que tem um belíssimo rancho folclórico, não se conseguiu descortinar a origem de tal estranha e original toponímia. Quem souber, que o revele nos comentários abaixo.
Colo de Pito
É daqueles nomes estranhos que se presta à piadola fácil, é verdade. Mas a verdade é que a origem do nome desta aldeia no concelho de Castro Daire remonta aos tempos dos romanos. Quando chegaram ao local acharam-no tão aprazível que o batizaram de Colum Pinctum, ou Colina Pintada. Só com o tempo evoluiu para Colo de Pito.
Tendo como cenário a luxuriante serra de Montemuro, a aldeia fica pertinho da Estrada Nacional 2 (que atravessa Portugal entre Chaves e Faro) e tem na Capela de Nossa Senhora da Saúde um dos seus principais atrativos.
Pouca Farinha
Se há concelho com aldeias e paisagens de cortar a respiração, é Sabugal. Não vamos sequer falar neste artigo da fantástica Sortelha, a aldeia no anel e que merece ser visitada pelo menos uma vez na vida. Desta vez vamos falar de um lugar com o original nome de Pouca Farinha e que pertence à freguesia de Rendo.
Com o rio Côa por perto, vai encontrar paisagens belíssimos, dentro de uma extensa mata de carvalhos e castanheiros. A gastronomia, em especial os enchidos e os queijos, são de comer e chorar por mais.
Degolados
Degolados, ou Nossa Senhora da Graça dos Degolados, fica no concelho de Campo Maior, já em pleno Alentejo. Não é preciso ter receio, ninguém perde a cabeça nesta localidade (lá está a piadola…) já que, segundo reza a história, a terra deve o nome à existência de um Ribeiro dos Degolados, agora Ribeiro das Hortas.
Degolados pertenceu ao concelho de Arronches, em Setembro de 1895 passou a fazer parte do concelho de Campo Maior, tendo passado novamente para o de Arronches em Janeiro de 1898, regressando a Campo Maior a 6 de Dezembro de 1926. Pode ser um ótimo ponto de partida para conhecer o Alto Alentejo.
Nomes estranhos de norte a sul
Entretanto, continuamos a rolar no Alentejo, mas mais para o litoral, tendo deixado para trás nomes estranhos como Venda das Raparigas, Venda das Pulgas, Mamporcão, Pomarinho ou Ranholas. Portugal é um verdadeiro alforge de localidades que desafiam a imaginação e deixam um sorriso na boca que quem se cruza com algumas destas placas toponímicas.
Ninguém fica completamente sério ao passar por por Catraia do Buraco (Belmonte) ou Orelhudo (Coimbra). Mas seguimos viagem.
Deixa-o-Resto
Sim, o local chama-se mesmo Deixa-o-Resto e está situado no concelho de Santiago do Cacém, já assim a fugir para o litoral alentejano. Se calhar já por lá passou muita gente em direção ao Algarve e nem sequer deu conta do inusitado nome da aldeia.
Mas a verdade é que esta localidade, que se desenvolveu ao longo da Estrada Nacional 261, é base de onde se pode partir à descoberta das belíssimas praias locais (Carretas e Fonte do Cortiço) ou da magnífica Lagoa de Santo André. Com fome, ou sem ela, é obrigatória uma paragem na Tasquinha do Ilídio…
Mal Lavado
Ora o lugar que dá pelo nome de Mal Lavado situa-se na freguesia de São Teotónio, no concelho de Odemira. Integrada no Parque Natural do Sudoeste Alentejano, está muito pertinho da Zambujeira do Mar e conta com imensos espaços de turismo, ideais para umas férias de descanso em beleza.
Em São Teotónio, o destaque vai para as famosas festas por altura dos santos populares (mês de Junho, em anos ímpares) em que as ruas são decoradas com flores de papel e, durante a noite, têm lugar mastros.
Estas festas realizam-se de dois em dois anos e na noite de São Pedro os habitantes da aldeia têm por hábito engalanar os carros e dirigir-se à Zambujeira onde tomam um banho purificador. E fica tudo bem lavado (de novo a piadola…)
Sítio das Solteiras
Lembram-se que começamos lá em cima, no Alto Minho? Pois agora chegamos ao outro extremo do país, mais concretamente ao concelho de Tavira. É aqui que termina a nossa viagem e nada melhor do que encostar em Sítio das Solteiras, onde existe até um Clube de Caçadores das Solteiras (é mesmo um clube de caça, ninguém anda aos tiros a moças casadoiras).
Fica na União das Freguesias de Conceição e Cabanas de Tavira e está numa das zonas mais bonitas, e ainda bem preservadas, do Algarve.
E assim termina a nossa viagem. Não fomos a Campinho, a Vales Mortos, a Corte do Pinto nem a Pulo do Lobo. Contudo, deu para entender que a imaginação dos portugueses ao longo do tempo para batizar as suas terras quase não tem limites.