Share the post "Covid-19: o que já se sabe sobre a nova variante do coronavírus"
As notícias de que uma nova variante do coronavírus, mais contagiosa, começou a circular no Reino Unido. Rapidamente se espalhou por dezenas de países e é apontada como a grande responsável pelo dramático aumento de casos a que temos assistido na Europa.
Até ao momento, a maioria dos especialistas tem afirmado que esta nova variante do coronavírus não põe em causa a eficácia imunitária da vacina, nem parece causar quadros mais severos da doença.
Contudo, um número crescente de infeções tem colocado mais pressão nos recursos e serviços de saúde, conduzindo a mais hospitalizações e a mais óbitos. Fique a par do que se sabe até agora acerca desta nova variante do coronavírus.
A nova variante do coronavírus e o Reino Unido
A evolução dos vírus para novas variantes é algo comum e normal. É precisamente isso que acontece, por exemplo, com o vírus da gripe (Influenza). Daí, a necessidade de tomar uma nova vacina, todos os anos.
No que diz respeito ao Sars-Cov-2, existem novas cadeias e variantes deste vírus, desde que ele foi detetado pela primeira vez, há mais de um ano, na China.
Reino Unido
Apesar de ser algo normal, isso não significa que a nova variante do novo coronavírus não obrigue a tomar novas medidas de prevenção do contágio.
Por esse motivo, o primeiro ministro inglês, Boris Johnson, determinou novas restrições e confinamentos no Reino Unido, assim como uma série de países europeus limitou a entrada no seu território de voos provenientes de Inglaterra.
Além disso, as restantes medidas de prevenção do contágio tornam-se ainda mais essenciais, como é o caso do uso de máscara, da lavagem das mãos, da manutenção do distanciamento físico, do isolamento, da quarentena e da vacinação.
Mas, afinal, o que se sabe até agora sobre a nova variante do coronavírus?
Especialistas ingleses e americanos concordam que esta nova variante do coronavírus é mais contagiosa, mas até ao momento não há evidência de que seja mais mortal. Nesta altura, no Reino Unido, esta já será mesmo a variante dominante do vírus, uma vez que tem sido responsável por cerca de 60% das novas infeções detetadas.
Esta nova variante chama-se B.1.1.7 e surgiu associada a um número alargado e incomum de mutações (cerca de 24), algumas das quais relacionadas com a proteína spike que o vírus usa para infiltrar e infetar as células.
Crianças
Além de mais contagiosa, alguns especialistas afirmam que esta nova variante do novo coronavírus pode tornar as crianças mais suscetíveis à infeção e a ficarem doentes com COVID-19, ao contrário do que acontecia com as outras variantes da doença, até agora conhecidas.
Ainda assim, os especialistas continuam a investigar, de modo a perceber a reação das crianças a esta nova variante, o seu papel na transmissão do vírus e a ligação entre a disseminação desta estirpe e o aumento de infeções e mesmo de internamentos entre os mais novos.
Os cientistas também ainda não sabem se esta variante é mais contagiosa nas crianças mais novas, devido aos seus níveis do receptor ACE2 serem menores.
A nova variante “britânica” em Portugal
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) estima que, desde o início de dezembro, tenham sido registados a circular no nosso país aproximadamente 30 mil casos da nova estirpe do Sars-Cov-2, inicialmente detetada no Reino Unido.
Segundo o Núcleo de Bioinformática do Departamento de Doenças Infeciosas do INSA, a prevalência desta nova variante rondará aproximadamente os 13%. Outros dados recolhidos dão conta que, independentemente da variante em causa, os casos positivos de COVID-19 estão a aumentar, sobretudo, nas faixas etárias entre os 20 e os 50 anos.
Tendo por base os dados recolhidos até 20 de janeiro, há um crescimento da frequência relativa da variante do Reino Unido a uma taxa de 70% por semana. Assim, estima-se que daqui a três semanas a variante “britânica” possa representar aproximadamente 60% dos casos de COVID-19 no nosso país.
Especialmente por ser mais transmissível, o INSA deixou um apelo: “Ela [a nova estirpe] aumentará naturalmente ao longo do tempo mesmo que o número de casos diminua, como se espera que aconteça com o confinamento. Em face desta realidade, é da maior importância o cumprimento escrupuloso das medidas de confinamento decretadas.”
Novas variantes dos vírus
É frequente os vírus sofrerem pequenas alterações, fruto da sua evolução. Essas novas variantes podem tornar-se dominantes num determinado espaço, por terem encontrado aí condições propícias à sua rápida propagação.
O problema pode surgir quando essas mutações do vírus alteram as suas proteínas, o que pode ajudá-lo a “escapar” do “ataque” do sistema imunitário, dos medicamentos ou de uma vacina.
Outras variantes do novo coronavírus
Convém frisar que esta não é a única, nem a primeira, nova variante do coronavírus. Em abril, investigadores suecos descobriram vírus com duas mutações genéticas que o tornavam duas vezes mais infecioso. Foram reportados cerca de 6000 casos de infeção por esta nova variante, sobretudo na Dinamarca e em Inglaterra.
A nova variante agora identificada no Reino Unido tem, além dessas duas mutações genéticas, oito alterações na sua proteína spike. Ela começou por ser detetada em setembro, no sudeste de Inglaterra, estando em circulação desde então.
África do Sul
Também na África do Sul já foi detetada uma nova variante, denominada 1.351. Esta estirpe foi detetada, pela primeira vez, no princípio de outubro e, apesar de não ser igual à variante britânica, partilha com ela algumas mutações.
Brasil
No Brasil, foi descoberta a variante P.1, a qual foi inicialmente detetada em 4 viajantes oriundos deste país, quando foram testados no aeroporto de Haneda (Tóquio, Japão). Esta variante possui uma série de mutações que podem afetar a capacidade dos anticorpos reconhecerem esta estirpe.
Será que a nova variante do coronavírus põe em causa a eficácia das vacinas?
No geral, os especialistas não acreditam que esta nova variante ponha em causa a eficácia das vacinas. Isto, porque as vacinas estimulam respostas mais abrangentes por parte do sistema imunitário e não apenas dirigidas à proteína skype.
Os investigadores acreditam que sejam precisas muitas mutações no código genético do vírus para a eficácia das vacinas ser comprometida. Isto não significa que as vacinas não precisem de ser ajustadas ao longo do tempo, à medida que as mutações genéticas aumentem.
A nível global, a Organização Mundial de Saúde já veio dizer que a nova variante do coronavírus não constitui uma preocupação de maior, nem representa uma situação descontrolada. A mesma posição foi adotada, em termos nacionais, pela Direção-Geral da Saúde que também considera que a nova variante do coronavírus pode não diminuir a eficácia das vacinas.
Ainda assim, os cientistas continuam a pesquisar de modo a perceberem até onde é que estas novas variantes se podem espalhar; como a doença causada por elas pode ser diferente da provocada pelas variantes que já estão há mais tempo em circulação; e como estas novas variantes podem afetar as terapias e as vacinas já existentes e dirigidas a este vírus.