Tem chamado a atenção de todo o mundo pelos números impressionantes: 83 alterações genéticas e 46 mutações. Mas, será mesmo que a nova variante do vírus SARS-COV-2, que provoca a doença Covid-19, é motivo real para tanto alarmismo? Entenda, neste artigo, o que a ciência já sabe sobre a variante IHU, descoberta no Sul de França.
A variante IHU em resumo rápido
Sabe-se que, ainda em dezembro, o Instituto Hospitalar Universitário de Marselha (IHU) – que dá nome à variante – havia comunicado nas redes sociais ter sido detetada uma nova variante do vírus SARS-COV-2 no Sul de França.
Terá sido diagnosticada em 12 doentes, sendo o primeiro caso referente a uma pessoa que tinha estado, em viagem, nos Camarões.
Batizada de IHU, a variante foi inserida na base de dados oficial como B.1.640.2 e ainda não recebeu, no nome, uma letra grega – isso acontece quando a OMS considera uma variante como significativamente “preocupante”.
Ainda assim, o futuro desta variante – e do seu impacto na pandemia – é incerto. As palavras de ordem avisam: não há razões para pânico, mas é preciso vigiar a evolução da variante IHU.
Vamos entender, de forma simples, tudo o que já se sabe sobre a nova variante descoberta em França, através de 4 perguntas com respostas.
Variante IHU: 4 perguntas e respostas
Variante IHU: devemos estar preocupados?
Para começarmos, a resposta imediata e mais simples é: não, não devemos estar com demasiadas preocupações sobre o impacto da variante IHU na pandemia. Ao menos é o que, para já, defendem os cientistas que falaram sobre o tema – apesar de informarem que é necessário “vigiarmos” a sua evolução.
Ainda que não esteja a dar indícios de que será uma grande preocupação para a humanidade, o facto é que nada garante que possa ser uma variante irrelevante no futuro. Lembremos, para ilustrar a necessidade de cautela e estado de vigília, que a variante Delta percorreu um longo caminho até tornar-se dominante no mundo, e esteve muito tempo praticamente restrita às fronteiras da índia.
Ainda assim, por agora, importa dizer que não há razão para pânico e que esta ainda não é a ameaça imediata que as notícias podem, muitas vezes, dar a entender.
Esta variante não é realmente nova?
É verdade que ganhou destaque nas notícias nos primeiros dias de janeiro, mas é também verdade que não é “nova” – afinal, foi identificada a circular, basicamente, na mesma altura que “a sua irmã mais famosa”, a variante Ómicron. É possível dizer, até, que foi identificada pouco antes.
Mais especificamente, a variante IHU foi identificada em novembro e descrita num artigo científico publicado no dia 29 – ainda sem revisão de outros cientistas. De seguida, foi denominada e inserida na base de dados ainda no começo de dezembro.
Destaquemos as datas: a Ómicron foi descoberta a 25 de novembro e a IHU foi já apresentada à comunidade científica nos dias seguintes – isso quer dizer que, por pelo menos um mês, as duas variantes coexistiram – e que a IHU, provavelmente, foi analisada primeiro.
No entanto, desde então, a variante descoberta em França não tem mostrado ser motivo para pânico – enquanto a Ómicron já é dominante em diversas partes do mundo.
A IHU é mesmo mais contagiosa do que a Ómicron?
Apesar dos números que impressionam (são mais de 40 mutações), na realidade a IHU não tem estado a espalhar-se pelo mundo. Relembremos que, com o mesmo tempo de circulação conhecida, a Ómicron já é responsável por 95% dos casos novos que se somam diariamente nos EUA.
Em diversos pontos do mundo, a Ómicron já roubou o lugar à Delta. O mesmo não ocorre, por agora, com a variante IHU.
Tal facto explica-se, diz a ciência, através da seguinte conclusão: o número de mutações, isoladamente, não significa nada. Apresentar um maior número de alterações genéticas não significa, necessariamente, uma vantagem para a variante do vírus. O que importa é como cada mutação age e qual é o resultado dessa ação em conjunto.
O que dizem os especialistas sobre o tema?
Os especialistas têm sido incansáveis na tentativa de passar a mensagem importante de que não há, por agora, qualquer razão para crer que a IHU será uma variante digna de maiores preocupações globais.
De acordo com o site do jornal Público, que cita um tweet do cientista Vinod Scaria, do Instituto de Genómica e Biologia Integrativa de Nova Deli), as sequências genéticas da variante IHU não têm aumentado a ritmo acelerado nas bases de dados. Para Scaria, as provas presentes não apontam no sentido de maiores preocupações. Ainda assim, o cientista faz uma ressalva: “é algo que deve ser monitorizado”.
Da mesma opinião, Tom Peacock é também citado pela publicação. O cientista do Imperial College de Londres tem acompanhado como o novo coronavírus evolui e, nas suas redes, mostrou uma matemática importante: por agora, há cerca de 20 sequências identificadas da IHU, em comparação com mais de 120 mil da Ómicron em menos tempo – uma vez que a variante descoberta em França parece ter surgido primeiro.
“Definitivamente, neste momento, não há motivo para preocupação.” – escreveu Peacock no Twitter.