Às seis da manhã cheguei a Conchabamba, tinha a indicação de como chegar a Vinto, uma pequena aldeia a vinte minutos de trufi (mini-van que funciona como um pequeno autocarro).
No email que tinha recebido dizia para pedir ao motorista que parasse perto de uma igreja e que aí havia um telefone público e para ligar depois das sete, para o número que estava no final da mensagem. Ainda era de noite e logo senti que o clima era bem mais temperado do que La Paz.
A cidade estava a acordar e os trufis eram tantos que ocupavam mais de metade de uma avenida. As pessoas, demasiado agasalhadas para a temperatura que se fazia sentir, pareciam formigas a encher os trufis que logo arrancavam para o trânsito caótico, no meio de buzinas e ultrapassagens impossíveis, que já fazia movimentar a cidade ainda escura.
Sinceramente estava um pouco reticente. Pouco sabia para onde ia, tinham-me recomendado outros viajantes que já lá tinham estado por duas vezes e que referiam que era um lugar muito tranquilo e agradável para passar uns dias. Era uma senhora holandesa que tinha uma quinta e recebia voluntários.
Quando cheguei ao lugar indicado, no email, pouco passava das sete e não vi nenhum telefone público, mas a motorista disse-me que havia uma rua que era por onde iam os mochileros. Que faço? Espero aqui ou vou seguir essa estrada? Já era habitual na viagem ter que tomar este tipo de decisões e acabava sempre por seguir a minha intuição, sem precisar de pensar muito.
Segui estrada fora e fui perguntando às pessoas com quem me cruzava se conheciam Christiane. Depois de duas indicações cheguei à quinta. Havia um caminho de pedra entre um jardim todo arranjado e um relvado com algumas árvores à volta de uma casa com um alpendre, que tinha por baixo uma mesa redonda de madeira. Senti-me conectado com tudo e logo percebi que este lugar tinha algo de diferente.
Fiquei sentado à espera que alguém aparecesse, enquanto via o sol a romper atrás da cordilheira de 5000m, entre os troncos e as folhas das árvores, enquanto agradecia por me terem recomendado este lugar.
O lugar era super relaxante; pela manhã, tínhamos um pequeno-almoço de reis, sob os primeiros raios de sol do dia, com bananas, abacaxi, maçãs, aveia, pão caseiro, queijo, vários doces e iogurte das vacas que pastavam na quinta. Depois ajudávamos com pequenas coisas na quinta. Desde colocar finos troncos entre o arame farpado que delimitava o terreno, cortar troncos de árvores que tinham caído, regar algumas plantas, arranjar o sistema de rega ou a cozinhar, pois cada dia cozinhava para o almoço uma pessoa diferente e todos tinham que cozinhar pelo menos uma vez.
Pela tarde, dormia-se a sesta em camas de rede e dava-se um passeio pelas redondezas ou simplesmente desfrutávamos da tranquilidade do campo a conversar ou a jogar jogos de tabuleiro. Para a semana vou contar como surgiu um convite para ir fazer voluntariado num festival em Cuscuz no Peru. A aventura segue em Puririy!
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