Share the post "Número de inscritos no centro de emprego baixou verdadeiramente?"
O número de inscritos no centro de emprego baixou 14,2% em novembro de 2022 em termos homólogos, para 296.723 pessoas – o melhor desempenho no mês de novembro desde que há registo.
Contudo, houve também uma subida do número de desempregados inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) entre outubro e novembro, correspondente a 2,6%.
O que significa que, durante 4 meses consecutivos, o desemprego registado não parou de subir. No entanto, e em comparação com o mesmo mês do ano anterior, a redução foi de 14,2% – isto é, menos 49.161 pessoas inscritas nos centros de emprego de todo o país.
Mas será que estes números traduzem a realidade do nosso país? Estaremos numa altura em que é conveniente apresentar dados como estes? As questões que se impõem são várias. Fique connosco.
Será o número de inscritos no centro de emprego 100% verdadeiro?
A verdade é que quando lemos as notícias e nos deparamos com uma descida no número de inscritos no centro de emprego, automaticamente pensamos que há cada vez mais pessoas a encontrarem emprego em Portugal. Mas será mesmo assim?
De facto, se olharmos para os meses entre outubro de 2021 e agosto de 2022, percebemos que o emprego aumentou (com um acréscimo de 214.3 mil). No entanto, em setembro de 2022, foi possível verificar-se uma redução do mesmo.
Estes dados permitem-nos refletir bastante e chegar a algumas conclusões: serão estes empregos de baixa qualidade e com baixos salários? Tentar aumentar o emprego em Portugal desta forma, não parece resolver o problema do nosso país. Mas há mais questões que se colocam.
Existirão números escondidos?
Quando se fala sobre o número de inscritos no centro de emprego, há ainda outros aspetos que devemos considerar para percebermos se os dados apresentados são realmente verdadeiros.
Em Portugal, existem duas entidades oficiais que publicam as estatísticas sobre o desemprego: o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o IEFP. Sendo que o segundo divulga todos os meses os dados sobre o emprego registado e que inclui:
- Todos os que estão a receber o subsídio de desemprego
- Quem procura o primeiro emprego
- Quem procura emprego
Ora, olhando para este cenário há que refletir sobre os desempregados que não se inscrevem e que por isso, não são de todo considerados.
Além disso, quando olhamos atentamente para o número de desempregados inscritos todos os meses nos centros de emprego, percebemos que o número é sempre superior àquele que é apresentado pelas entidades e que tem vindo a “descer”.
Um bom exemplo é o que aconteceu entre os meses de novembro de 2021 e outubro de 2022: onde se inscreveram 497.353 desempregados, sendo que os centros de emprego apenas arranjaram trabalho para 91.229 pessoas.
O que significa que não arranjaram emprego para 405.424 desempregados. E se somarmos este número aos desempregados que existiam no fim de outubro de 2021 (351.667), obtemos 757.091 pessoas.
Portanto, quando o IEFP e também o Governos divulgaram que nos centros de emprego estavam inscritos em outubro de 2022 apenas 289.125 pessoas, parecem ter desaparecido ou camuflado os dados. Porque na verdade, desapareceram quase como por magia, 467.966 pessoas desempregadas.
Há mais pessoas inativas do que com emprego
Sabia que em Portugal, por cada 100 pessoas que estão a trabalhar existem quase 107 que nem trabalham, nem estão inscritas como desempregadas?
De facto, o nosso país continua a ter mais pessoas inativas do que pessoas com emprego. E por pessoa inativa, referimo-nos a quem não tem um emprego, mas também não está inscrita como desempregada no IEFP.
A prova disso está precisamente nos dados do INE que mostram que em 2021 existiam 106.6 pessoas inativas por cada 100 pessoas empregadas. Ou seja, perante 4.8 milhões de pessoas empregadas, um total de 5.1 milhões de inativos.
Contudo, os números presentes nos Anuários Estatísticos Regionais revelam que já existiram mais pessoas nesta situação. Afinal, em 2020 havia 112.2 mil inativos por cada 100 empregados.
Relativamente às regiões, é no Alentejo que existe a maior taxa de população inativa: 111.7 mil por 100 empregados, seguindo-se os Açores e Lisboa (com 111.5 mil) e o Centro (107.9).
Já no Norte registam-se 101.2 mil pessoas inativas, em seguida o Algarve com 105.1 e a Madeira com 104.9 – sendo estas as regiões com os números mais baixos.
Como vemos, é essencial estarmos atentos não só aos números divulgados relativamente às taxas de pessoas desempregadas inscritas nos centros de emprego, mas também considerar as taxas de emprego.
O que queremos dizer é que é essencial compararmos os dados, calculando sempre a taxa de pessoas empregadas e em situação de desemprego. Além disto, há que ter em consideração ainda a taxa de população inativa que também pode camuflar bastante os números apresentados mensalmente.