Share the post "Nurburgring Nordschleife: o ‘inferno verde’ dos amantes do desporto motorizado"
A mítica pista situa-se na cidade alemã de Nurburg, próxima de Colónia e Frankfurt, e foi inaugurada em 1927, então com aproximadamente 28 quilómetros de extensão.
Pouco mais tarde, foi criada uma nova pista, com 22 quilómetros, que foi utilizada pela Fórmula 1 na década de 1960. O recinto tem atualmente capacidade para receber 150 mil espectadores.
Originalmente, a pista tinha quatro configurações: a de 28,265 km, que alternadamente consistia nos 22,810 km do Nordschleif (Anel Norte) e nos 7,747 km do Sudschleif (Anel Sul). Havia ainda um anel de warm-up de 2,281 km, o Zielschleif ou Betonschleif (Anel Final ou Anel de Betão), a circundar a área das boxes.
O autódromo foi construído no Anel Sul, entre 1982 e 1983 e recebe hoje todos os grandes eventos desportivos internacionais ali disputados. Mas o encurtado Anel Norte continua a ser usado para corridas, testes e acesso ao público, com os famosos track days.
A lenda do inferno verde
O Nordschleife tem, desde a sua construção, a reputação de um traçado terrível, que não perdoa erros, desenhado através das florestas das montanhas de Eifel.
Um jornalista inglês que visitou a pista na sua corrida inaugural, em junho de 1927, descreveu a pista como parecendo ter sido desenhada por um gigante bêbado e cambaleante.
Mais tarde, um tal de Sir Jackie Stewart, três vezes campeão do mundo de fórmula 1 (1969, 1971 e 1973), ficou tão impressionado cm o circuito que lhe deu o cognome que mantém até hoje e que provavelmente nunca perderá: o inferno verde!
Correr e ganhar no Nordschleife foi sempre muito especial para os pilotos, porque a pista é uma das mais exigentes do mundo. Curvas complicadas, lombas traiçoeiras, inclinações e declives acentuados e constantes mudanças do tipo de piso exigem grande habilidade do piloto e submetem as máquinas a testes duríssimos.
Os recordes
O norte-americano Phil Hill, campeão do mundo de Fórmula 1 em 1961 e também vencedor das 24 Horas de Le Mans (1958, 1961 e 1962), tornou-se na primeira pessoa a percorrer o Nordschleif em menos de 9 minutos (8m55,2s, à média de 153,4 km/h), guiando o Ferrari 156 «Sharknose» de Fórmula 1.
Nos 50 anos seguintes, mesmo os mais competitivos carros de série tiveram dificuldades em baixar dos oito minutos, ainda que guiados pelos mais experientes pilotos.
A 29 de junho de 2018, 5m19,55s foi o tempo que o Porsche 919 Híbrido Evo, tricampeão mundial de Resistência, guiado por Timo Bernhard, precisou para percorrer os 20,832 km do atual traçado do Nordschleife.
A velocidade média foi de 233,8 km/h. Bernhard – duas vezes campeão mundial de Resistência com o 919 Híbrido e cinco vezes vencedor das 24 Horas de Nurburgring – tirou 51,58s ao «crono» estabelecido por Stefan Bellof, 35 anos antes, em 1983, ao volante do Porsche 956 C nos treinos para os 1000 km de Nurburgring.
O fim de uma era
Depois do acidente fatal do britânico Piers Courage no circuito holandês de Zandvoort de 1970, os pilotos de Fórmula decidiram boicotar Nurburgring, numa reunião realizada durante o Grande-Prémio de França, caso não fossem introduzidas grandes alterações ao traçado.
Não foi possível corresponder às ex igências em tão curto espaço de tempo e o Grande-Prémio alemão passou para a pista de Hockenheim, que já tinha sofrido alterações.
Vítima da televisão
O Nordschleife foi reconstruído de acordo com as exigências dos pilotos. Foram-lhe retiradas algumas lombas, suavizados saltos e instalados rails. A pistou ficou com menos curvas e o Grande-Prémio da Alemanha regressou aa Nurburgring por mais seis anos, de 1971 a 1976.
Um dos fatores que também contribuíram para a saída do circuito de Nurburgring do calendário do «Grande Circo» foi a televisão, que tinha grande dificuldade em cobrir toda a vasta extensão do traçado para as transmissões em direto que começavam a proliferar, pelo que foi decidido que a edição de 1976 seria a última.
O terrível acidente de Niki Lauda
Mas ainda antes do fim anunciado, Niki Lauda, o campeão do mundo de Fórmula 1 em título e o único piloto a percorrer o Nordschleife na sua extensão total de 22,835 km abaixo dos sete minutos (6m58,6s, 3m 1975), propôs aos outros pilotos o boicote à edição de 1976.
Estava preocupado com a falta de condições de segurança e de comissário de pista ao longo do traçado, mas também não lhe agradava o facto de se poder correr o grande prémio sob chuva, porque, quando isso acontecia, normalmente havia zonas do circuito completamente secas e outras completamente molhadas, alterando as condições de aderência dos pneus.
A edição de 1976 foi disputada sob essas condições, mas os outros pilotos votaram contra o boicote a corrida disputou-se. Lauda teve um acidente na segunda volta e o seu Ferrari, ainda carregado de combustível, incendiou-se.
O autríaco foi salvo muito mais pela ajuda combinada dos seus colegas pilotos Arturo Merzario, Guy Edwards, Brett Lunger e Harald Ertl dos que pela ações dos mal equipados comissário de pista.
Também ficou comprovado que os meios de segurança como os carros de bombeiros estavam a distâncias demasiado grandes e o velho Nurburgring nunca mais recebeu uma corrida de Fórmula 1.
Nas motos, o último Grande Prémio da Alemanha foi disputado no Nordschleife em 1980. Mudando-se também para Hockenheim.
Novo autódromo em 1984
Após a construção do autódromo, foi organizada uma corrida de celebração com os pilotos da Fórmula 1 de então mais alguns retirados recentemente, todos aos comandos de Mercedes 190E 2.3-16 idênticos. Ayrton Senna venceu, na frente de Niki Lauda, Carlos Reutman e Keke Rosberg.
Para além de outros grandes eventos internacionais, Nurburgring voltou depois a albergar a Fórmula 1 em 1984 (Grande-Prémio da Europa) e 1985 (Grande-Prémio da Alemanha). Na sequência do sucesso do primeiro título mundial de Michael Schumacher, ali foi disputado o Grande Prémio da Europa entre 1995 e 2006.
A partir desse ano, Nurburgring e Hockenheim alternam na organização do Grande Prémio da Alemanha, para dividirem os custos exigidos pela competição. Também devido aos elevados custos impostos por Bernie Ecclestone, o «patrão» da Fórmula 1, os novos donos do Circuito de Nurburgring deixaram de ter condições para receber a competição nos anos ímpares, como estava definido, pelo que as corridas de 2015 e 2017 foram canceladas.