Share the post "Óscares 2018: “A Forma da Água” vence numa noite marcada pela sensação de mudança"
A alegoria “A Forma da Água”, de Guillermo del Toro, foi o grande filme vencedor da 90.ª edição dos Óscares, marcada pela “sensação de mudança” a que muitos já chamaram a “era Pós-Harvey [Weinstein]”.
Discursos contra a atual política norte-americana entoaram pela noite, a par do que aconteceu com as mensagens contra os casos de assédio em Hollywood e a favor do empoderamento das mulheres na Academia. Mas, as novidades da noite não ficaram por aí: o cineasta James Ivory sagrou-se, aos 89 anos, como o mais velho a receber uma estatueta; e o afro-americano Jordan Peele marcou a história da premiação ao ser o primeiro negro, em 90 anos, a ser indicado para três óscares.
Todos os vencedores do Óscar 2018
O filme vencedor, do cineasta mexicano Guillermo del Toro, partiu como favorito aos prémios da academia de Hollywood, com um total de 13 nomeações, e venceu em quatro, incluindo as categorias mais importantes de melhor filme e melhor realização.
“O melhor que a arte faz, e que a nossa indústria faz, é apagar as linhas na areia”, disse Del Toro, o homem da noite, numa referência à política de imigração da administração norte-americana, de marcação de linhas de fronteira, – em particular, em relação ao México.
“Três Cartazes à Beira da Estrada”, um dos principais favoritos ao Óscar de melhor filme, arrecadou apenas dois dos sete para os quais estava nomeado, ambos premiando a interpretação: a de Frances McDormand, como melhor atriz principal, e de Sam Rockwell, como melhor ator secundário.
“Olhem à vossa volta, senhoras e senhores, porque todos temos histórias para contar e projetos que precisam de financiamento”, afirmou Frances McDormand, que também pediu mais “inclusão” para as mulheres, antes de ser aplaudida de pé por muitas atrizes.
Três atores veteranos ganharam o seu primeiro Óscar. Sem surpresas, Gary Oldman foi distinguido com o Óscar de melhor ator principal, pela interpretação de Winston Churchill em “A hora mais negra” – que também já lhe tinha garantido o Globo de Ouro, o prémio da crítica norte-americana, e a vitória nos prémios BAFTA, da academia britânica de cinema e televisão, entre outras distinções.
“A hora mais negra” venceu, igualmente, o Óscar para melhor caracterização.
Allison Janney (“I, Tonya”) foi a escolhida como a melhor atriz secundária e Sam Rockwell (“Three Billboards”) venceu o melhor ator secundário.
“Dunkirk”, de Christopher Nolan, ‘arrasou’ os prémios técnicos e levou para casa três das principais estatuetas nesta área: melhor montagem, melhor montagem de som e melhor mistura de som.
O cineasta James Ivory, de 89 anos, conhecido por filmes como “Quarto com vista” e “Maurice”, ganhou o melhor argumento adaptado, por “Chama-me pelo teu nome”, tornando-se o mais velho vencedor de um Óscar.
O filme “Blade Runner 2049” afirmou a condição de favorito na categoria de melhor fotografia, estatueta erguida por Roger Denkins, ao fim de 14 nomeações para o prémio.
“Foge” (“Get Out”), do afro-americano Jordan Peele, o primeiro negro em 90 anos nomeado para três Óscares com o mesmo filme – melhor filme, realização e argumento original – arrecadou o Óscar para melhor argumento original. “Isto significa muito para mim”, disse Peele no início do discurso, admitindo que parou de escrever o argumento mais de 20 vezes, por achar que “não resultaria”, mostrando-se grato pela oportunidade de “erguer a sua voz”.
Uma noite de mudanças
A 90.ª gala dos Óscares, que decorreu no Teatro Dolby, em Los Angeles, ficou também marcada pelos discursos de apoio aos movimentos contra o assédio sexual, de apoio aos “Dreamers” (sonhadores) e aos mais desprotegidos.
“O que aconteceu com o Harvey [Weinstein] e o que está a acontecer por todo o lado era há muito devido. Não podemos continuar a deixar passar o mau comportamento. O mundo está a olhar para nós, precisamos de ser um exemplo” disse o anfitrião da cerimónia, Jimmy Kimmel.
“Nós somos ‘Dreamers‘, crescemos a sonhar que um dia íamos trabalhar como atores. Os sonhos são a origem de Hollywood e os ‘Dreamers’ são a origem dos Estados Unidos da América”, afirmaram os atores Lupita Nyong’o, queniana, e Kumail Nanjiani, paquistanês, numa declaração conjunta antes da apresentação do prémio para melhor cenografia.
Nos Estados Unidos existem cerca de 1,8 milhões de jovens indocumentados conhecidos por “Dreamers”, que imigraram ilegalmente com os pais para os Estados Unidos. Estes estavam protegidos da deportação por um programa criado na administração do democrata Barack Obama, o DACA (Ação Diferida para Crianças Indocumentadas), que Donald Trump decidiu eliminar em setembro último.
“As pessoas marginalizadas merecem ter um sentido de pertença. A representação é importante” disse o guionista Lee Unkrich, durante o discurso de vitória de melhor filme de animação “Coco”.
As políticas de Trump foram omnipresentes nas declarações dos atores e realizadores, mas o seu nome nunca foi pronunciado.
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