Estamos a atravessar um momento singular, único. Inimaginável há algumas semanas, sobretudo se pensarmos que estamos em 2020. A pandemia que enfrentamos e tudo se assemelha a uma peste dos séculos passados, de que as gerações atuais não têm memória.
Acho que todos pensávamos que esta situação não era possível dado o avanço da Ciência e da Tecnologia.
Mas, na realidade, enfrentamos um vírus, que embora de uma família sobejamente conhecida, o Coronavírus, é muito interativo – e até nem é dos mais patogénicos -, mas para o qual temos ainda poucos recursos para impedir a sua disseminação. A nossa perceção é que a ciência e a medicina estão um pouco de mãos atadas e que ele controla as nossas vidas, que tivemos de nos vergar a ele.
Esta noção de impotência é potenciada com o facto de termos assistido a uma notória falta de solidariedade, nomeadamente dentro da União Europeia. Cada país olha para o seu “feudo”, veja-se, por exemplo, o apoio que a Itália tem tido dos parceiros europeus. E mesmo acho que, Portugal, numa fase mais incipiente da praga, não fomos muito solidários com os nossos vizinhos. Tudo isto pode vir a ter um reflexo tremendamente negativo, como, por exemplo, despoletar o fim de uma União Europeia, que é um projeto essencialmente de paz e bem-estar-social.
Efeitos colaterais
Esta praga teve ainda o apoio da informação fictícia e falsa, que à velocidade da luz promove uma desinformação que, em muitos casos, culmina no pânico. Esse pânico leva a alguma irracionalidade e tal levará a efeitos colaterais muito devastadores, como aumentar a propagação do vírus ou o abandono de animais de companhia.
Sem dúvida que esta situação de isolamento social leva a que o afeto tão importante para o nosso equilibro, nos falte. Felizmente que os animais de companhia não partilham este Sars-Cov2, pelo que estes podem sem dúvida continuar a dar-nos o seu companheirismo, promovendo o nosso bem-estar e uma atitude positiva nestes momentos de desânimo.
A partilha de vida com um animal sempre foi benéfica, pois ela é desinteressada e leal.
Assim, e para todos aqueles que estão em isolamento social, em quarentena, ou doentes podem contar com a companhia sem risco do o seu animal de estimação. É claro que se estivermos doentes todos os cuidados são poucos, e as regras de higiene, como o lavar de mãos com frequência, têm de ser escrupulosamente cumpridas.
É importante também termos o nosso animal em boa condição de saúde, bem como ter o seu programa vacinal, de desparasitação interna e externa atualizados. Se estivemos doentes vamos estar menos imuno-competentes, e daí necessitarmos de cuidados redobrados, nomeadamente no que concerne a situações como infeções de pele, boca, etc. Será bom também não esquecer que os animais não contraem a doença, mas podem por exemplo na sua coleira, patas, transportar o vírus.
Em resumo, recomendamos que possam partilhar esta fase de isolamento com os vossos animais, mas que as regras de higiene sejam escrupulosamente cumpridas. Acresce que no caso de estarmos doentes poderá ser mais adequado ter alguém a tomar conta do nosso animal.
Por outro lado, regista-se que as autoridades permitem o passeio com o nosso animal na rua. No entanto, nunca é demais reforçar que este deve ser curto, deve levar-se o animal sempre à trela e nunca esquecer que este passeio não deve ser transformado – em qualquer circunstância – num momento de interação social.
Todos juntos venceremos esta pandemia.
Luís Montenegro é diretor clínico do Hospital Veterinário Montenegro, no Porto