Share the post "Perder um animal de estimação: um luto que não passa rápido"
Perder um animal de estimação muito amado, pode ter efeitos sérios na saúde física e emocional do seu dono, quer tenham estado juntos muitos ou poucos anos. Tudo vai depender da relação afectiva que ambos tenham desenvolvido entre si, tal e qual como acontece entre os humanos.
Mas enquanto que o luto vivido por um familiar ou amigo próximo desperta uma solidariedade instantânea, mesmo no local de trabalho, o luto vivido por um animal de estimação não desperta essa solidariedade.
Os donos isolam-se e escondem a dor provocada pela morte e ausência do seu pet como se fosse uma doença mental embaraçosa.
No entanto, cada vez mais psicólogos e donos ousam abordar a questão para ajudar quem sofre e para sensibilizar aqueles que, nunca tendo vivido esse tipo de relação, afirmam desapiedadamente “Era só um gato” ou “Era apenas um cão”.
Perder um animal de estimação: muitos não compreendem
Alguns psicólogos comentam que muitos dos seus clientes aproveitam a morte de familiares para poder falar da morte dos seus animais de estimação, como se quisessem desculpar-se por abordar o assunto e pelos sentimentos que essa morte lhes causa.
Muitos questionam-se e culpam-se por sentirem mais a morte do seu pet do que de um familiar. Mas para estes especialistas esse sentimento de culpa ao perder um animal de estimação não deve existir já que ao perder um animal de estimação o seu dono vai atravessar as diferentes etapas que caracterizam o luto normal, ou o chamado “luto saudável”, sentido quando morre alguém de quem gostamos.
Diferentes fases
Primeiramente é provável que o dono entre em negação e estado de choque por perder um animal de estimação, mesmo que mentalmente se tenha tentado preparar para tal como nos casos em que foi necessário recorrer à morte assistida por veterinário. É uma fase em que pode ajudar reviver, contar e recontar o que aconteceu, para conseguir gerir as emoções que vão chegando de forma avassaladora.
Sentir raiva pelo o veterinário que tratou o seu animal, ou por si próprio por não ter ajudado mais cedo, também é comum. Tal como criar diferentes cenários mágicos em que fala com o pet pela casa ou em que imagina que o vai reencontrar quando morrer.
Todas estas fases ajudam a que o dono consiga lidar mais facilmente com os sentimentos de depressão e vão encaminhá-lo para a etapa final, que é a fase da aceitação, na qual a sua dor poderá ser superada ou pelo menos amenizada.
O luto por humanos é melhor acompanhado
Na dor pela morte de um humano próximo, os mecanismos sociais de apoio que garantem solidariedade e compreensão para todas as fases do luto, tornam a experiência menos dura do quando se vive o luto por um animal de estimação.
Muitos donos afirmam que escondem a dor para não serem ridicularizados pelas pessoas que nunca tiveram animais de estimação e que não compreendem o tipo de ligações afectivas que se podem criar entre uma pessoa e um animal.
Outros sentem vergonha por se sentirem dessa maneira por um animal e ficam sem saber bem o que fazer. O importante é saber que não estão sozinhos com esses sentimentos ao perder um animal de estimação, porque eles não são invulgares quanto isso.
No Reino Unido, um serviço de apoio gratuito criado pela Blue Cross para donos que perderam os animas de estimação chamado Pet Bereavement Support registou, entre 2016 e 2018, um aumento significativo do número se chamadas e emails que recebeu anualmente.
Passou das 5 968 para as 10 925, o que indica que cada vez mais as pessoas percebem que se sentem melhor se poderem falar abertamente sobre o tema.
Em Portugal, embora já tenham sido feitos estudos sobre o luto sofrido por donos que perderam o seu pet, não existem serviços oficiais de apoio com esta funcionalidade fora das clínicas veterinárias, que já possuam técnicos e psicológicos para fazer esse acompanhamento, ou das associações privadas de donos de animais.
Luto por animais desperta sentimentos semelhantes ao luto por crianças
O luto por perder um animal de estimação pode ser tanto mais sério e pesado do que o luto por um amigo ou familiar mais distante, porque muitos donos nutrem pelos seus animais os mesmos sentimentos que os pais nutrem pelos seus filhos.
Por exemplo, estudos indicam que os donos de um cão, ao olhar para os seus olhos, aumentam os níveis internos de ocitocina, a chamada “hormona do amor”, que regula muitas das interações sociais entre humano e que é especialmente libertada no organismo quando pais olham para os filhos recém-nascidos. É uma hormona que ajuda a criar vínculos muito fortes.
Muitos donos afirmam que ter um pet que amam é como ter uma criança que nunca cresce, que mantém toda a inocência e personalidade de um filho que tem genuína adoração pelos pais e que nunca chega a tornar-se um adolescente mal humorado ou um adulto que não quer mais a sua companhia.
Tudo isto pode incentivar o sentimento de culpa por não ter sabido proteger, tornando mais agudas as fases do luto. Para os especialistas que lidam com esta questão é essencial que se possa falar socialmente da dor que se sente ao perder um animal de estimação para que esta fase seja ultrapassada sem deixar traumas na saúde física e mental do dono.
Perder um animal de estimação: o que fazer para se proteger
O seu animal de estimação faz parte da sua família e não deverá sentir vergonha do que sente quando ele morre. Siga as sugestões dos especialistas para evitar o luto patológico ou ficar deprimido com a perda do seu pet e para ajudar alguém que está a passar por essa situação.
Não se envergonha dos seus sentimentos
Muitos donos ficam surpreendidos por sofrerem tão intensamente a perda de um animal de estimação. Esse sentimento é particularmente forte junto dos donos do sexo masculino que, ainda pressionados pelo estereótipo de que são fortes e não podem demonstrar sentimentos, acabam por ter vergonha do que sentem.
Não compare a sua dor com a das outras pessoas porque cada um sabe qual foi significado que o seu animal teve na sua vida. Pode sentir-se zangado ou estar triste, ou pode nem saber o que sente.
Tudo é “bem sentido” porque essa é a natureza da dor provocada pelo luto. Aceite o que a sua dor lhe trouxer sem sentir vergonha, respeite-a e não tenha medo de pedir ajuda. Pode começar por o fazer junto do seu veterinário.
Partilhe com os outros membros da família
Isto é particularmente importante se na família existirem crianças pequenas que estão a viver pela primeira vez o que é a morte. Conte a verdade, partilhe o que sente e não evite chorar em frente dos filhos quando estes também choram.
Pode ser uma forma de lhes dizer que não estão sozinhos a viver a mesma dor. Também é importante fazê-lo se o dono for uma pessoa idosa. Apesar de estar mais preparado para a perda, o animal de estimação que morreu podia ser o seu elo de ligação ao mundo e é importante poder falar sobre ele.
Mantenha algumas das rotinas que tinha
Se acordava cedo para alimentar o seu pet ou para o ia passear, mantenha algumas dessas rotinas para que o choque da mudança não seja tão forte. Vá passear, ainda que experimente outros locais, levante-se à mesma hora e aproveite para tomar um pequeno almoço mais completo.
Estes rituais podem ser substituídos lentamente por outros e ajudar a que a sua vida se recomponha sem um corte de hábitos abrupto.
Pedir uns dias de folga
São muito poucos os patrões que lhe vão dar dias de descanso para recuperar da perda de um animal de estimação, ou para o acompanhar nos seus últimos dias. Se não poder falar abertamente do assunto, tire dois ou três dias de doença ou de férias.
Essa paragem é importante e vai servir para pôr as ideias em dia e não sentir culpa por continuar como se nada tivesse acontecido. São uma homenagem ao seu amigo e podem dar-lhe tempo para preparar a sua partida e para se organizar.
São especialmente importantes se lhe couber a si da difícil decisão de avançar para uma morte assistida. Não continue como se nada tivesse acontecido escondendo o que sente.
Ter outro animal ajuda, mas pense bem
Quem tem mais do que um animal de estimação afirma que o luto fica menos doloroso porque ainda tem o conforto do outro. Muitos donos acabam por arranjar logo novo animal para substituir o que perderam com o intuito de esquecer a dor provocada pela ausência. Outros acham a dor da perda tão intensa que avaliam se vale a pena ter outro animal e voltar a passar pelo mesmo.
O conselho dos especialistas é que deixe passar o luto e todas as sensações que ele lhe traga.
É particularmente perigoso arranjar logo outro animal porque cada animal é único e muitos donos espelham no novo as expectativas de que se comporte como o que morreu, criando sentimentos de frustração quando isso não acontece. Para o seu bem e para o bem do animal que vai adoptar, dê tempo ao tempo.
Cães, gatos, tartarugas ou papagaios: luto é luto para todos
Não pense que o luto é exclusivo para donos de cães ou gatos. Qualquer pet com quem se tenha relacionado de forma afectiva pode desencadear esses sentimentos.
Os estudos apontam que os donos de tartarugas e papagaios são dos mais atingidos pela depressão provocada pela sua morte. Talvez a grande longevidade que estes animais de estimação podem ter, entre 50 a 70 anos, possa ser uma das justificações.
Mas não há necessidade de justificação para o luto que se sente. Lembre-se que, seja qual for o seu pet, a ligação que teve com ele deve ser acarinhada e celebrada, mesmo no momento da sua morte, por isso cuide das suas emoções.