As ilha açorianas são um destino paradisíaco e de eleição, por várias razões. Praias magníficas, vistas deslumbrantes, gastronomia deliciosa e, também, culturas únicas e exóticas. A explicação é simples: os solos vulcânicos são férteis e proporcionam, nomeadamente, a plantação do melhor chá dos Açores.
Se está a pensar visitar a Ilha de São Miguel, saiba que na sua costa norte, na região da Ribeira Grande, há duas plantações de chá únicas na Europa
Portanto, visitar as plantações de chá dos Açores é imprescindível. Perceber como tudo funciona e sentir o aroma deste tipo de cultivo promete ser uma experiência inolvidável. Venha connosco…
A história que está na origem das plantações de chá dos Açores nasce, como tantas vezes acontece, da desgraça e do declínio. No arranque do século XIX, a produção da laranja, “ganha-pão” da ilha, começou a entrar em queda, provocando uma crise económica e social. Logo, foi necessário procurar novas fontes de rendimento e culturas, como o ananás, a batata-doce, o tabaco e, lá está, o chá!…
A história das plantações de chá nos Açores
Apesar do clima de São Miguel ser favorável ao crescimento da planta do chá, faltava conhecimento sobre esta cultura.
Por isso, em 1878, por iniciativa da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, foram chamados aos Açores dois especialistas chineses, oriundos de Macau (Lau-a-Pan e Lau-a-Teng), de modo a ensinarem ao povo açoriano como cultivar e tirar o maior partido deste chá.
A primeira produção industrial de chá em São Miguel ocorreu na plantação do Chá Canto, na Caldeira Velha da Ribeira Grande, propriedade do pioneiro José do Canto. Porém, outras peripécias e avizinhavam, uma vez que, após a Primeira Guerra Mundial, 9 fábricas de chá açorianas fecharam, mantendo-se em atividade a Fábrica de Chá da Gorreana. À época, uma fábrica inovadora, que já produzia a sua própria eletricidade.
O cultivo do chá iniciou-se em 1874, sendo que passados 9 anos o primeiro chá Gorreana foi consumido, por ação de D. Ermelinda Pacheco Gago da Câmara, proprietária da plantação.
Década 1950
Após o arranque do cultivo deste chá, a produção atingiu o seu auge em 1950, quando foram exportadas 250 toneladas de chá verde ou preto que tinha por base a planta Camellia sinensis. Até hoje, ainda é possível visitar a Fábrica de Chá da Gorreana e a do Porto Formoso.
Fábrica de Chá da Gorreana
A Fábrica de Chá da Gorreana foi fundada em 1883 e é uma das fábricas mais antigas da Europa, tendo funcionado sempre initerruptamente.
Trata-se de um negócio familiar (que já vai na 7ª geração, com Madalena Hintze Motta e Sara Hintze Motta no comando) e que é conhecido além-fronteiras. Em 2011, adquiriu a fábrica e as plantações Canto, que também foram outrora importantes na história da produção de chá açoriana.
A plantação tem uma área de mais de 40 hectares, de onde saem 33 toneladas de chá que são exportadas para Portugal Continental, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, Áustria, França, Itália, Brasil, Angola, Japão, entre outros destinos.
O chá produzido é verde (variedades Hysson, Encosta de Bruma e Pérola), preto (variedades Moinha, Orange Pekoe, Pekoe, Ponta Branca, Broken Leaf) ou Oolong (mistura entre o chá verde e o chá preto) e 100% biológico, pois o clima húmido de São Miguel afasta as pragas, o que permite que não sejam usados quaisquer pesticidas químicos nas plantações de chá.
Anualmente, a Fábrica é visitada por milhares de pessoas, que têm a possibilidade de conhecer a plantação de chá, a fábrica, a Casa de Chá, a loja e o núcleo museológico, onde existe a maquinaria Marshall de 1840 (a qual ainda funciona).
Nota: Existe um trilho pedestre (3 kms) que faz um circuito ao longo das plantações de chá da Gorreana. Saiba mais, aqui.
Fábrica de Chá do Porto Formoso
Bem próxima da Fábrica de Chá da Gorreana , fica a outra Fábrica de Chá dos Açores, a Fábrica de Chá do Porto Formoso.
Esta Fábrica funcionou entre 1920 e 1980, tendo sofrido obras de requalificação em 1998 e tendo reaberto em 2001. Assim como acontece na Fábrica de Chá da Gorreana, também da Fábrica de Chá do Porto Formoso sai chá preto ou verde, 100% biológico. Algumas das variedades disponíveis são: Orange Pekoe; Pekoe; Broken Leaf e Azores Home Blend.
Se visitar esta Fábrica, pode igualmente passear pelos seus 5 hectares de plantações , visitar o seu núcleo museológico, ir até à loja e relaxar na sala ou na esplanada, enquanto bebe, naturalmente, um chá.
Anualmente (em maio), a Fábrica costuma promover uma recriação da colheita tradicional do chá, recuperando os costumes e as vivências da época, em que a produção do chá era a principal atividade económica e social açoriana.
Processo de cultivo, apanha e transformação do chá dos Açores
Nos Açores, o cultivo do chá ainda segue os métodos artesanais e os processos naturais de outros tempos. A colheita ocorre entre abril e setembro; as sementes são colhidas de outubro a dezembro; e a plantação decorre no período de inverno.
A preparação dos chás preto e verde cumprem os seguintes procedimentos:
- Chá preto: murchamento, enrolamento e fermentação das folhas; secagem; seleção dos tipos e tamanhos de chá; armazenamento e embalamento. Tipos de chá preto: Orange Pekoe, Pekoe e Broken Leaf.
- Chá verde: colheita; aplicação de vapor de água nas folhas; e enrolar, secar e enrolar novamente as folhas.
Como preparar um bom chá dos Açores!
Eis alguns aspetos a ter em consideração, no momento de preparar um bom chá açoriano.
- Use uma água de boa qualidade, a uma temperatura de 70ºC para o chá verde ou de 70ºC a 90º C para o chá preto;.
- Tenha em conta que o tempo de extração deve ser de 3 a 5 minutos.
- Escalde o bule e junte 3 colheres de chá com folhas para cada litro de água.
- Verta a água sobre as folhas de chá, coloque a tampa no bule e aguarde por 3 a 5 minutos.
- Está pronto a beber!