Não é segredo que os efeitos da contaminação e deterioração do ambiente, geradas pelos hábitos modernos, refletem-se no ambiente e na nossa saúde física. Mas, agora, estudos vêm comprovar que a poluição do ar provoca depressão e ansiedade.
Estudo anteriores já foram capazes de mostrar que a poluição do ar causa mais mortes do que o consumo de álcool e o hábito do tabaco, no entanto, nunca havia sido comprovada a sua influência negativa na saúde mental.
Poluição do ar provoca depressão e ansiedade
A conclusão é resultado das investigações de um grupo de cientistas da China e do Reino Unido, que afirma: a exposição à poluição do ar, quando prolongada e mesmo que a níveis baixos, está relacionada com casos de depressão e ansiedade.
Para chegar a esta conclusão, os investigadores acompanharam 390 mil pessoas adultas residentes no Reino Unido, ao longo de 11 anos.
No estudo, pode ler-se que a queima de combustíveis fósseis, fator que mais favorece para a poluição do ar, tem impacto negativo na nossa saúde mental.
Conhece aquela conversa sobre deixar o carro na garagem e apostar numa rede de boleias, usar transportes públicos, trotinetas ou bicicletas? E aquela sobre poupar energia, investir em soluções de autoconsumo e contratar empresas de fornecimento que vendem energia verde? Também há aquela conversa sobre consumir menos, reciclar mais e ser mais bio nas escolhas do dia a dia. Ora bem, todas estas conversas têm mesmo razão de ser.
O estudo divulgado refere que grande parte dos poluentes presentes no ar, compostos também por partículas finas, dióxido de azoto e óxido nítrico, são emitidos de forma regular para o ar a partir da queima de combustíveis fósseis utilizados por veículos e centrais elétricas, mas também pelo trabalho industrial e pelos equipamentos de construção.
Ou seja, muitos dos nossos hábitos diários estão a adoecer as populações – também ao nível mental e emocional.
Este não foi o único estudo que trouxe resultados semelhantes. Outras investigações anteriores já concluíram que a poluição do ar impacta negativamente o cérebro das pessoas adultas, sendo capaz até de causar demência e outros tipos de degradação cognitiva.
O estudo mais recente, publicado já em 2023 na publicação Journal of the American Medical Association Psychiatry, avaliou que as doenças do foro mental são uma das consequências da queima de combustíveis fósseis.
Saúde mental e poluição: como se relacionam?
Ainda não está clara a forma como é estabelecida a relação entre a poluição do ar e os casos de ansiedade e depressão analisados nos diversos estudos, mas sabe-se que existe uma ligação por descobrir.
Os efeitos nas crianças e adolescentes
A poluição e a saúde mental das crianças e dos adolescentes é, de igual forma, um tema que está sob forte análise dos investigadores ao redor do mundo.
Do ponto de vista da saúde física, é sabido que a asma, que tanto atinge os mais novos, pode ser provocada pelos elevados níveis de poluição do ar. Hoje, sabe-se também que este problema respiratório tem ligação com alguns sintomas causados por problemas de saúde mental.
Para já, no que diz respeito à saúde mental das crianças e jovens, há referências científicas que relacionam de forma consistente as dificuldades de concentração, atenção e aprendizagem aos efeitos da poluição atmosférica e das alterações climáticas.
Mas a poluição do ar pode, ainda, ter outros impactos negativos sobre os mais novos. Uma situação que serve de exemplo é que, eventualmente, em algumas regiões da Ásia, a poluição do ar obriga ao encerramento de atividades por um período – ou seja, ao encerramento temporário de escolas. Todos sabemos, e ficamos a perceber bem depois das restrições impostas pelos confinamentos passados, que crianças e jovens que são privados do convívio no ambiente escolar estão mais sujeitos a efeitos negativos ao nível da saúde mental.
Um fato curioso relatado por investigadores norte-americanos dá conta que, durante um período de fuga de gás num estabelecimento de ensino de Los Angeles, houve queda no rendimento escolar dos alunos. Depois de resolvido o problema da fuga, os estudantes passaram a obter melhores resultados e notas nos testes.
Poluição “retira” dois anos na esperança média de vida
Em 2022, um relatório divulgado pela Universidade de Chicago apontou que a poluição do ar rouba dois anos de vida, com base na esperança média em todo o mundo. Este resultado mostrou que a poluição mata mais do que álcool, tabaco, terrorismo e guerras.
Num estudo ainda mais recente, ficou comprovado que bastaria eliminar a poluição provocada pela queima de combustíveis fósseis para que fossem evitadas cerca de 50 mil mortes por ano, reduzindo os gastos com cuidados de saúde em mais de 500 mil euros.
Transição energética e saúde
Há muito que investigadores de todo o mundo lançam alertas para as consequências da poluição na nossa saúde física, destacando efeitos nocivos graves como infeções respiratórias, cancro do pulmão, doenças cardiovasculares e mais complicações de saúde, como partos prematuros e baixo peso à nascença.
Os cientistas têm defendido publicamente a importância da aposta na transição energética e na redução do consumo de combustíveis fósseis, salientando que os governos devem entender a situação como um caso de saúde pública, uma vez que os efeitos da poluição do ar são comprovadamente associados ao bem-estar físico – e, agora, emocional – das populações.