Somos a única espécie que tem por hábito cultivar a cozinha e os alimentos. Quanto tempo das nossas vidas passamos entre tachos ou à mesa? Quantos bons momentos já vivemos desta forma? Serão mais felizes as pessoas que fazem deste convívio uma prioridade à hora da refeição? Afinal, porque gostamos tanto de comida?
5 razões porque gostamos tanto de comida
Não, não é apenas “porque comer é bom”
A verdade é que não comemos apenas por uma questão de sobrevivência. Nós gostamos de comer e gostamos ainda mais de comer bem. Estamos sempre a querer descobrir novos pratos, novas receitas, novos restaurantes. Queremos refeições cada vez mais saborosas e diferentes. Darren Curnoe, biólogo da Universidade de New South Wales, acredita que cozinhar é uma atividade completamente enraizada na nossa existência. Ela é um aspeto social da nossa espécie e diz muito sobre nós.
10 mil anos a cozer
Sim, leu bem. São 10 mil anos de cozinhados. Antes mesmo de haver a agricultura, já existiam registos de confeção de alimentos. Isso ofereceu uma enorme vantagem aos nossos antepassados em relação às outras espécies. A nossa técnica mantinha os alimentos livres de bactérias e parasitas mortais, e tornava mais fácil a mastigação e a digestão. O biólogo Curnoe defende que sem a devida cozedura, “muitos vegetais têm pouca utilidade”, e por isso não teriam espaço na nossa nutrição. Já imaginou comer uma batata crua?
Alterações corporais
Uma coisa é certa: as alterações nos hábitos alimentares dos seres humanos têm provocado importantes mudanças evolutivas no nosso corpo. Seria estranho se a ciência já não tivesse andado à volta deste tema. Cérebros maiores, mandíbulas menores e um aparelho digestivo mais inteligente e eficaz. A forma como a nossa alimentação evoluiu tornou possível que a nossa máquina chegasse ao ponto em se encontra hoje. O nosso corpo desenvolveu, e bem.
Um exemplo: o estômago humano pode ser comparado em tamanho ao estômago dos chimpanzés, no entanto, a diferença marcante é que os intestinos delgado e grosso são completamente diferentes. Nós temos o delgado maior e o grosso menor. A razão para esta diferença é encontrada quando pomos em causa as diferenças na alimentação entre as espécies.
Alimentos ricos em amido, como a batata, permitem que os humanos comam em menor quantidade do que os macacos. Acha que um chimpanzé conseguiria sobreviver na selva com três refeições ao dia? Os nossos corpos não poderiam trabalhar da mesma forma e, por isso, evoluímos.
O hábito social
É aqui que a agricultura entra na história. Ela impulsionou o crescimento das nossas cidades e promoveu os seres humanos a especialistas em algum tipo de alimento. Imagine a seguinte evolução: primeiro veio o padeiro, a seguir o cozinheiro e, por último, o chef.
O mercado e a economia também foram fatores determinantes. No tempo das trocas, quem cultivava o tomate, trocava pelo milho, e assim era com tudo. Não fazia sentido passar a vida a comer cenouras, se o vizinho produzia rabanetes e couves. No início das sociedades, as pessoas falavam sobre alimentos e interagiam a partir deles. Seria impossível que a comida não se tornasse num dos aspetos sociais mais vincados e curiosos que temos.
O resultado? Hoje reunimos a família e os amigos à volta do calor da mesa e qualquer desculpa serve como pretexto para festejar com comida. É uma questão totalmente sociológica. A nutrição é o pilar das nossas mais queridas celebrações e nós existimos para socializar. “A nossa espécie, mais do que qualquer outra, transformou a comida em algo especial”, conclui Curnoe.
O que diz a ciência
De acordo com a medicina “newtoniana”, que nada mais é que a medicina ocidental, e trabalha com componentes químicos e estruturais do corpo físico, a resposta para o facto de adorarmos comer é apenas uma: a serotonina. É este elemento que controla a sensação psicológica de fome, sono e humor. Uma boa dose de concentração desta substância faz com que possamos dormir bem e saciados.
Ao ingerir alimentos, o nosso sistema nervoso sofre alterações a partir da concentração de aminoácidos plasmáticos, principalmente, o chamado triptofano, que é agente gerador da serotonia. Parece complicado, mas não é.
Quando comemos algo rico em hidratos de carbono e com alto índice glicémico (doces e massas são bons exemplos), temos uma elevada resposta de insulina, e é esta hormona que atua no transporte de algumas substâncias para o sangue. Isto reduz a concentração plasmática de alguns aminoácidos que competem com o triptofano pelo transporte do sangue ao cérebro. O resultado: o triptofano vence a batalha e chega ao cérebro, portanto, há mais serotonina em ação. Por isso existem comidas que nos fazem mais ou menos felizes que outras.
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