Até o Porsche 911 ter aparecido no universo dos carros desportivos, existia o 901. Apresentado, como um novo modelo desportivo, em 1963, no Salão de Frankfurt, o Porsche 901 destinava-se a substituir o Porsche 356 e herdava deste o motor refrigerado a ar.
O 901 era maior, mais confortável e mais dinâmico, com motor de seis cilindros, tração traseira e suspensões independentes. Era um verdadeiro carro desportivo de luxo, com qualidade de construção, sobriedade tipicamente germânica e dinâmica apurada.
Mas o nome 901 não foi longe, uma vez que a Peugeot declarou possuir licença em França sobre as designações com três algarismos e um zero no meio.
A Porsche poderia ter mudado radicalmente a designação do 901 no mercado francês, (como aconteceu com os Daimler, que passaram a chamar-se Mercedes, antes da era Mercedes-Benz) mas decidiu simplificar as coisas e colocou o algarismo 1 ao meio. Assim nasceu o Porsche 911.
O nome Porsche está, obviamente, associado ao seu fundador, Ferdinand Porsche, mundialmente conhecido. No entanto, o Ferdinand que fundou a Porsche, não é o responsável pelo 911.
O fundador da marca era avô de Ferdinand Butzi Porsche, quem desenhou o 911. E este era filho de Ferdinand Ferry Porsche, o responsável pelo carro, que é considerado o primeiro modelo da marca, o 356, substituído pelo famoso 911. Ficou confuso? Nós resumimos:
- Ferdinand Porsche: foi a génese da marca Porsche, responsável pelo desenvolvimento do Volkswagen Carocha, entre outros carros.
- Ferdinand Ferry Porsche: filho do fundador, trouxe o Porsche 356, o primeiro carro da marca.
- Ferdinand Butzi Porsche: filho de Ferry Porsche e neto do fundador, responsável pelo desenho do 901 (que não pôde ser 901 e passou a ser 911).
O primeiro Porsche 911
O primeiro 911 (que continuou a chamar-se 901 dentro da marca), apresentou-se com um motor de seis cilindros horizontalmente opostos, numa configuração conhecida como boxer e patenteada por Karl Benz, em 1896. Tinha 1.991 cc de capacidade e debitava 130 cavalos.
Em 1966, surgiu o Porsche 911S, com mais 30 cavalos de potência e que superava os 200 cavalos nos carros de competição. No ano seguinte, foi apresentada umas das versões que ficou conhecida até aos dias de hoje nos 911: Targa.
O nome foi inspirado na famosa corrida italiana Targa Florio, onde a marca alemã alcançou diversas vitórias. O 911 Targa distinguia-se pelo teto e pelo óculo traseiro (na altura, em plástico) amovíveis. Tinha a estrutura reforçada com um arco central de segurança, solução que acabou por tornar-se um estilo próprio das versões Targa.
A partir de 1970, o 911 passou a ter motor de 2.195 cc, com a potência a iniciar-se nos 125 cavalos, e a partir de 1972 subiu para 2.341 cc. Este motor ficou conhecido como 2.4, apesar de estar mais próximo de um 2.3, e foi o propulsor em que a Porsche introduziu o sistema de injeção mecânica nas variantes superiores 911E (165 cv) e 911S (190 cv).
O mais acessível 911T usava carburadores e debitava 130 cavalos, exceto no mais exigente mercado americano, no qual também tinha motor com injeção e oferecia mais 10 cavalos de potência (140 cv).
A par deste motor com mais capacidade, a Porsche introduziu também uma nova caixa de velocidades. A transmissão como conhecemos hoje, em diagrama H, substituiu a “dog leg”, que agrada, e muito, os amantes da competição. Em 1972, a marca realizou uma mudança de peso, literalmente.
Dada a concentração de massas sobre o eixo traseiro, os técnicos decidiram reposicionar o depósito de óleo para a frente da roda traseira, deslocando algum peso para a parte mais central do carro.
Para facilitar o abastecimento de óleo, havia um bocal de acesso que, segundo algumas fontes, era frequentemente confundido com o acesso ao depósito de combustível. Resultado: houve diversos Porsche a receber gasolina no depósito de óleo, fruto da desatenção de alguns funcionários nos postos de abastecimento. Passado um ano, a Porsche voltou à solução inicial.
Carrera RS
Carrera é uma das designações indissociáveis da marca Porsche. O Porsche Carrera vem do tempo do antecessor do 911, o 356, que conquistou o direito a versões Carrera como forma de assinalar o sucesso da marca nas corridas mexicanas Carrera Panamericana.
Em 1972, surge o Porsche Carrera RS, denominador para as versões mais desportivas. A sigla RS vem do alemão rennsport, em inglês racing sport. O motor era um 2.7 com 210 cavalos e 255 Nm de binário. O RS tinha suspensão de acerto mais desportivo, travões maiores, rodas traseiras de maiores dimensões que as da frente, injeção mecânica e uma vistosa asa traseira.
Foram produzidas 1.580 unidades do Carrera RS, atualmente um clássico extremamente valorizado pelos colecionadores. Este modelo foi a base para o RSR, com motor 2.8 e cerca de 300 cavalos, usado em diversas competições. O chassis deste carro serviu de exemplo para o RSR 3.0 que surgiu em 1974, uma versão extremamente exclusiva e inspirada nos carros de corrida.
911 Turbo
A partir de 1974, a Porsche introduziu o primeiro 911 Turbo, uma referência nos automóveis desportivos até hoje. Este foi o primeiro Porsche sobrealimentado e tinha 260 cavalos de potência num 3.0, tendo aumentado para 3.3 e com 300 cavalos em 1978.
Houve variantes do Porsche 911 Turbo nos anos 80 mas sem influenciar significativamente as vendas, que vieram a decair naquele período. Um ano antes da introdução de uma nova geração (964), a Porsche dotou o 911 com caixa de cinco velocidades.
Em 1990, surgiu a nova geração 964, a primeira disponível com tração integral e caixa automática Tiptronic. O Porsche 911 cabrio foi apresentado em 1982, o primeiro desde o 356 dos anos 60. O preço elevado dessa versão não impediu o sucesso do exclusivo carro, que manteve as versões cabrio até aos dias de hoje.
Tal como o Cayenne foi uma “facada no coração” dos puristas da Porsche, também o foram os motores refrigerados a água, em 1998. O boxer de seis cilindros foi refrigerado a ar durante quase 35 anos e perdeu essa característica no 911 996. Outra das críticas feitas a este carro foi o facto de a frente englobar todos os elementos óticos num conjunto só.
Também nesta geração, surgiu o primeiro GT3 de estrada, claramente inspirado na competição. Mais leve e com suspensões afinadas para melhorar a dinâmica, o 911 GT3 tinha motor 3.6 com 365 cavalos de potência. Em 2001, o seis cilindros do 911 Turbo passou a ser produzido com base no motor do GT3. Tinha dupla sobrealimentação que lhe permitia alcançar 420 cavalos.
Um dos elementos tecnológicos de maior destaque na Porsche foi introduzido em 2005, no 911 Carrera S, com o sistema de controlo inteligente PASM (Porsche Advanced System Managment).
Apesar do sucesso atual de outros modelos (o Cayenne e o Macan sustentam os números de vendas da marca), o Porsche 911 continua a ser, para muitos, “O Porsche”.
O icónico modelo serve de bandeira do construtor, imediatamente reconhecida e respeitada em todo o mundo. Atualmente, segundo o catálogo da marca em Portugal, a Porsche 911 conta com 23 variantes. O Carrera Cabrio é a porta de entrada na gama, com preço a partir de 135 mil euros.