Pode nunca ter ouvido a palavra presentismo, mas temos a certeza de que, direta ou indiretamente, já o experienciou.
De acordo com a Ordem dos Psicólogos Portugueses, o presentismo é uma das causas do stress laboral e prejudica tanto como o absentismo. Este conceito é utilizado para retratar os momentos passados no trabalho, mesmo após o término do horário, mas que são altamente improdutivos.
Há até quem diga que este é um problema cultural, principalmente associado aos países do sul da Europa, entre os quais se inclui Portugal. Assim, acredita-se que as empresas portuguesas valorizam muito o cumprimento do horário e a presença na empresa para lá do horário de saída, e não propriamente os resultados conquistados pelo trabalhador.
De acordo com esta linha de pensamento, os empregadores promovem a permanência dos colaboradores no local de trabalho, ao valorizarem aqueles trabalhadores que sacrificam a sua vida pessoal em prol do trabalho. O grande problema reside no facto de nem sempre estes serem os trabalhadores mais produtivos.
Numa altura em que se fala cada vez em trabalho remoto, vemos que muitas empresas estão “em contra-corrente”, não admitindo sequer a saída dos seus colaboradores no fim do seu horário normal de trabalho.
É esperado e expectável, em inúmeros contextos laborais e transversalmente aos vários setores de atividade, que as pessoas estejam permanentemente disponíveis para trabalhar, mesmo quando já se encontram em casa.
Diferenças entre absentismo e presentismo
O conceito de presentismo é, assim, fácil de explicar. Significa estar presente no trabalho, sem, no entanto, estar propriamente a trabalhar.
Por sua vez, o absentismo é a ausência física da pessoa e uma consequência natural de incapacidade física ou psicológica, geralmente atestada por um certificado de incapacidade temporária para o trabalho.
O presentismo carateriza-se pela presença improdutiva do trabalhador nas instalações da empresa, às vezes para lá do seu horário.
Consequências do presentismo
Para os trabalhadores
Numa organização em que os trabalhadores mais valorizados são os que ficam “para lá da hora”, comunica-se, às vezes explicitamente, que o trabalho é uma dimensão da vida mais importante do que todas as outras.
Entende-se como normal que as pessoas não tenham tempo para estar com os filhos, a família, para praticar uma atividade desportiva ou simplesmente para não fazerem nada. Ora, este modus operandi, a longo prazo, não é sustentável do ponto de vista da saúde física e/ou mental para os trabalhadores.
Como tal, descurar constantemente as suas próprias necessidades em função das da empresa pode vir a fazer com que o presentismo se torne em absentismo por doença.
Para as empresas
Para as empresas, exigir “presença” em vez de resultados leva, na verdade, a baixa produtividade e desmotivação generalizada.
Se o trabalhador tiver de submeter períodos de baixa, então, é uma consequência grave. Isto porque leva à ausência de um funcionário, o que pode, igualmente, criar más relações interpessoais.
Quais as causas do presentismo?
O problema do presentismo é complexo e a sua causa e, muitas vezes, multifatorial. Desde logo, o presentismo pode ser causado pelo receio de perder o emprego. Face à possibilidade de ficar desempregado, o colaborador prefere ir trabalhar, mesmo quando se encontra desmotivado ou até doente.
Mas há mais: a falta de motivação, a frustração com as tarefas profissionais, o mau relacionamento com os colegas e a ausência de objetivos podem causar um estado de desmotivação crónica, em que o colaborador prefere enfrentar longas jornadas de tédio a faltar ao trabalho ou a procurar mudar de empresa.
Um comportamento associado a esta situação é o prolongamento, sempre que possível, de todos os momentos de pausa (almoço, pausas a meio dos períodos de trabalho) e de deslocação entre serviços.
Na origem desta “cultura de presentismo” por parte das empresas está a necessidade de produzir muito em curtos espaços de tempo. E se a presença por mais horas significa mais produção, em certos setores – como por exemplo na Indústria, em que mais horas na linha de produção podem mesmo significar mais unidades fabricadas, noutros é uma verdadeira falácia.
De facto, em muitos contextos profissionais, estar no escritório não significa de todo que se esteja a produzir.
Como combater o presentismo?
Algumas empresas, pessoas e meios de comunicação social começam a dar destaque a novas formas de trabalhar. O trabalho remoto e a semana de 4 dias de trabalho são disso exemplos, e, muitas pessoas, defendem que se as empresas querem funcionários mais produtivos, devem reduzir o horário de trabalho.
Por outras palavras, as empresas que adotaram estas novas formas de trabalhar advogam que as implementaram não porque são uma “tendência”, mas porque os resultados são efetivamente muito bons.
Apesar de se traduzirem em comportamentos opostos, o absentismo e o presentismo podem, na origem, ser combatidos da mesma maneira, através de estratégias como:
- Mudança de cultura organizacional, privilegiando os trabalhadores que conseguem cumprir os seus objetivos no seu horário de trabalho (no fundo são estes os que melhor gerem o seu tempo!);
- Promover a integração entre as diferentes esferas da vida de cada trabalhador: pessoal, profissional, social, comunitária, entre outras;
- Estabelecer uma cultura de feedback, em que a comunicação entre todos é encorajada;
- Promover uma comunicação interna e externa baseada no “propósito” do trabalho que se faz na empresa. Nada é mais motivador do que saber qual o impacto que o seu trabalho tem no mundo;
- Estar atento e corrigir a acumulação de trabalho: rever frequentemente a distribuição de funções, evitando grandes disparidades na carga de trabalho atribuída a cada profissional;
- Rotatividade entre departamentos: periodicamente, pode ser importante introduzir mudanças e movimentar os trabalhadores de uns setores e funções para outros. Desta forma, a aprendizagem contínua será estimulada.