Joel Araújo
Joel Araújo
11 Out, 2016 - 08:51

Quanto custa ter um Clássico?

Joel Araújo

Na compra de qualquer carro, moderno ou clássico, os parâmetros de avaliação de custos serão sempre algo semelhantes.

Quanto custa ter um Clássico?

Se nem a minha “Ode ao Automóvel Clássico” e todas as dicas de como “Comprar o primeiro Clássico” o convenceram a ceder aquele sonho de criança que sempre teve, obriga-me a usar uma técnica de último recurso que em Portugal funciona sempre: pôr os números em cima da mesa.

Na compra de qualquer carro, moderno ou clássico, os parâmetros de avaliação de custos serão sempre algo semelhantes. Onde estes diferem é na hierarquia de importância que assumem a médio/longo prazo. Se está prestes a comprar um Clássico, deverá ter em conta, pelo menos, os seguintes fatores.


Quanto custa ter um clássico em 7 passos


Preço de compra

Regra geral, o preço de venda de um Clássico é várias vezes menor ao de um veículo do segmento equivalente moderno. Um Toyota Starlet ep70 como o meu pode valer em média entre 500€ a 1000€, dependendo do seu estado, enquanto que um Toyota Yaris usado de 2010 vale facilmente 7000€. 7x mais.

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Restauros

Dependendo do tipo do Clássico que comprar, ele terá menos ou mais tendência a vir maltratado. No meu caso, um Starlet de 1988 só recentemente começou a ter algum interesse por entusiastas de automóveis clássicos, muito devido ao seu historial em provas desportivas. Para o comum dos mortais, continua a ser uma mera caixa de fósforos velha e dispensável. Por isso os preços são (para já) tão baixos.

Devido a este desprezo passivo, influenciado pelo facto de que são carros “abusáveis”, muitos dos que se encontram à venda estão em más condições ou com modificações de caracter duvidoso. Devido a isto, o comprador deve estar sempre disposto a gastar alguns euros a mimar o carro depois de tantos anos de negligência.



Impostos (IUC+Seguro)

Este argumento é talvez o mais (erradamente) usado por quem é dono de um Clássico. É verdade que um automóvel antigo paga menos Imposto Único de Circulação, mas quando falamos em seguro, na maior parte dos casos a discussão é falaciosa. Se por um lado o valor que um Clássico pode ter que pagar por IUC é anedótico, já nos Seguros, eles são regra geral mais baratos, mas dependem sempre de condicionantes.

O seguro de Clássico só é “mesmo muito barato” quando se trata de um segundo carro, não podendo este ser o carro diário. Este é o princípio básico. No fim do ano é a diferença entre pagar 60€ ou 300€+ de impostos pelo carro.



Manutenção e peças

Abrir o capô de um carro moderno é perigoso. Só o facto de pensarmos que queremos mexer em algum componente faz com que 58 computadores internos decidam suicidar-se. Por outro lado, abrir um capô de um clássico é ser convidado para uma festa com bar aberto. Todas as engrenagens estão lá à espera que dance com eles. Mas tal como numa festa a sério, tem que saber dançar, e saber que há “peças” com quem não se deve meter.

Num clássico popular como o Starlet, confesso que não há muita coisa que possa correr mal: pouca eletrónica, construção simples e acessível são fatores que tornam o carro fácil e relativamente barato de manter. Como foi um modelo bastante vendido existem também, regra geral, peças em abundância, e até vários modelos salvados para peças à venda.

Sim é verdade, manter um carro Clássico é quase sempre mais barato e fácil que um moderno. A maior parte do trabalho pode ser feito por nós mesmos e os custos associados a peças de substituição são normalmente mais baratos que num moderno. Salvo exceções de carros/componentes raros, mas isso já é outra história.



Consumos

Tal como a segurança não era uma prioridade nos veículos até final dos anos 80, também as suas metas de consumos eram mais folgadas. A gasolina era mais barata, a tecnologia mais arcaica, e injeção eletrónica era ainda um segredo guardado pelos pastorinhos de Fátima.

Um carro antigo, principalmente com carburadores desafinados e com alguns componentes do motor desgastados pode muitas vezes ser ouvido a cantar duetos com o Jorge Palma. Ou seja, gastam mais. Isto deve ser tido em conta caso vá fazer muitos quilómetros com o carro, principalmente em longas viagens.


Garagem

Este não é um tópico exclusivo a nenhuma era automóvel: para o comum dos mortais que olha para a Garagem como um luxo preferível ao Jacuzzi, pode ser um custo que é preciso balançar. Qualquer carro merece um lar, independentemente do ano. No entanto, quando não é mesmo possível ter/suportar/alugar uma garagem, devem-se evitar automóveis anteriores à década de 80.

Para além de estar a ajudar à destruição de um pedaço de património automóvel, não vai conseguir dormir com o barulho dos elementos da natureza a mastigarem o teu carro. A razão é simples: A industria evoluiu, e com ela os processos de conformação e proteção dos metais e restantes materiais.



Depreciação/Valorização

É complicada, condicional, injusta, mas inevitável. A depreciação é boa para quem compra, mas péssima para quem vende. Curiosamente, quem acaba por sair vencedor desta batalha interminável são os Clássicos: já depreciaram tudo o que tinham para depreciar ao ponto que, se forem modelos apetecidos e bem estimados, estão neste momento a valorizar.

Nestes casos, o segredo para quem compra é escolher um pré-clássico ou futuro-clássico enquanto estes estão baratos, e esperar que eles ganhem valor com o tempo. A depreciação é o fator de mais marginalizado na hora de comprar automóvel, e provavelmente aquele onde se pode perder/ganhar mais dinheiro.

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