Se nem a minha “Ode ao Automóvel Clássico” e todas as dicas de como “Comprar o primeiro Clássico” o convenceram a ceder aquele sonho de criança que sempre teve, obriga-me a usar uma técnica de último recurso que em Portugal funciona sempre: pôr os números em cima da mesa.
Na compra de qualquer carro, moderno ou clássico, os parâmetros de avaliação de custos serão sempre algo semelhantes. Onde estes diferem é na hierarquia de importância que assumem a médio/longo prazo. Se está prestes a comprar um Clássico, deverá ter em conta, pelo menos, os seguintes fatores.
Quanto custa ter um clássico em 7 passos
Preço de compra
Regra geral, o preço de venda de um Clássico é várias vezes menor ao de um veículo do segmento equivalente moderno. Um Toyota Starlet ep70 como o meu pode valer em média entre 500€ a 1000€, dependendo do seu estado, enquanto que um Toyota Yaris usado de 2010 vale facilmente 7000€. 7x mais.
Restauros
Dependendo do tipo do Clássico que comprar, ele terá menos ou mais tendência a vir maltratado. No meu caso, um Starlet de 1988 só recentemente começou a ter algum interesse por entusiastas de automóveis clássicos, muito devido ao seu historial em provas desportivas. Para o comum dos mortais, continua a ser uma mera caixa de fósforos velha e dispensável. Por isso os preços são (para já) tão baixos.
Devido a este desprezo passivo, influenciado pelo facto de que são carros “abusáveis”, muitos dos que se encontram à venda estão em más condições ou com modificações de caracter duvidoso. Devido a isto, o comprador deve estar sempre disposto a gastar alguns euros a mimar o carro depois de tantos anos de negligência.
Impostos (IUC+Seguro)
Este argumento é talvez o mais (erradamente) usado por quem é dono de um Clássico. É verdade que um automóvel antigo paga menos Imposto Único de Circulação, mas quando falamos em seguro, na maior parte dos casos a discussão é falaciosa. Se por um lado o valor que um Clássico pode ter que pagar por IUC é anedótico, já nos Seguros, eles são regra geral mais baratos, mas dependem sempre de condicionantes.
O seguro de Clássico só é “mesmo muito barato” quando se trata de um segundo carro, não podendo este ser o carro diário. Este é o princípio básico. No fim do ano é a diferença entre pagar 60€ ou 300€+ de impostos pelo carro.
Manutenção e peças
Abrir o capô de um carro moderno é perigoso. Só o facto de pensarmos que queremos mexer em algum componente faz com que 58 computadores internos decidam suicidar-se. Por outro lado, abrir um capô de um clássico é ser convidado para uma festa com bar aberto. Todas as engrenagens estão lá à espera que dance com eles. Mas tal como numa festa a sério, tem que saber dançar, e saber que há “peças” com quem não se deve meter.
Num clássico popular como o Starlet, confesso que não há muita coisa que possa correr mal: pouca eletrónica, construção simples e acessível são fatores que tornam o carro fácil e relativamente barato de manter. Como foi um modelo bastante vendido existem também, regra geral, peças em abundância, e até vários modelos salvados para peças à venda.
Sim é verdade, manter um carro Clássico é quase sempre mais barato e fácil que um moderno. A maior parte do trabalho pode ser feito por nós mesmos e os custos associados a peças de substituição são normalmente mais baratos que num moderno. Salvo exceções de carros/componentes raros, mas isso já é outra história.
Consumos
Tal como a segurança não era uma prioridade nos veículos até final dos anos 80, também as suas metas de consumos eram mais folgadas. A gasolina era mais barata, a tecnologia mais arcaica, e injeção eletrónica era ainda um segredo guardado pelos pastorinhos de Fátima.
Um carro antigo, principalmente com carburadores desafinados e com alguns componentes do motor desgastados pode muitas vezes ser ouvido a cantar duetos com o Jorge Palma. Ou seja, gastam mais. Isto deve ser tido em conta caso vá fazer muitos quilómetros com o carro, principalmente em longas viagens.
Garagem
Este não é um tópico exclusivo a nenhuma era automóvel: para o comum dos mortais que olha para a Garagem como um luxo preferível ao Jacuzzi, pode ser um custo que é preciso balançar. Qualquer carro merece um lar, independentemente do ano. No entanto, quando não é mesmo possível ter/suportar/alugar uma garagem, devem-se evitar automóveis anteriores à década de 80.
Para além de estar a ajudar à destruição de um pedaço de património automóvel, não vai conseguir dormir com o barulho dos elementos da natureza a mastigarem o teu carro. A razão é simples: A industria evoluiu, e com ela os processos de conformação e proteção dos metais e restantes materiais.
Depreciação/Valorização
É complicada, condicional, injusta, mas inevitável. A depreciação é boa para quem compra, mas péssima para quem vende. Curiosamente, quem acaba por sair vencedor desta batalha interminável são os Clássicos: já depreciaram tudo o que tinham para depreciar ao ponto que, se forem modelos apetecidos e bem estimados, estão neste momento a valorizar.
Nestes casos, o segredo para quem compra é escolher um pré-clássico ou futuro-clássico enquanto estes estão baratos, e esperar que eles ganhem valor com o tempo. A depreciação é o fator de mais marginalizado na hora de comprar automóvel, e provavelmente aquele onde se pode perder/ganhar mais dinheiro.
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