Ser um bom líder e saber como gerir grupos de pessoas, motivando-os para alcançar bem estar no trabalho e bons níveis de produtividade nem sempre está ao alcance de muitos empregadores. E alguns recorrem mesmo ao “quiet firing”.
“Quiet firing” é uma expressão que emergiu recentemente e que serve para identificar uma situação específica que muitos trabalhadores poderão ter passado, estar a passar ou vir a passar no futuro.
Quando um empregador tem algum problema com um determinado trabalhador, tem várias formas de lidar com isso. Uma delas é recorrer ao despedimento. No entanto, tem-se verificado uma nova tendência no mercado de trabalho, que é uma espécie de despedimento silencioso.
As mudanças que desde 2020 têm sido operadas no mercado de trabalho, em parte devido à pandemia, têm trazido algumas tendências relativamente à cultura dos despedimentos também. Muita gente mudou de trabalho, e os seus próprios empregos também mudaram de paradigma em muitos aspetos.
Prova disso é que os despedimentos atingiram um número recorde no final do ano passado.
“Quiet firing”: um sintoma de má liderança
O “quiet firing” é uma espécie de guerra fria entre o empregador e o trabalhador.
Em português significa algo como despedimento silencioso, e ocorre quando um trabalhador é afastado de forma lenta das suas funções enquanto permanece empregado.
Quando o empregador quer fazer com que o trabalhador tenha vontade de se despedir, e não o faz diretamente, recorre ao “quiet firing”. Em vez disso, diminui lentamente os deveres da função de um trabalhador.
É muito frequente o “quiet firing” acontecer quando os empregadores falham ao dar algum tipo de apoio aos trabalhadores. Podemos estar a falar de coisas como formação, coaching, ou qualquer outro tipo de acompanhamento que o trabalhador deveria ter e não tem.
O objetivo é de forma gradual fazer com que o trabalhador se sinta cada vez pior no local de trabalho, e se demita por iniciativa própria.
Consequências de um despedimento silencioso
Embora esta seja uma tendência atual no mercado de trabalho, dificilmente traz benefícios para as entidades patronais.
Além de ser um claro sinal de uma má gestão de recursos humanos, irá traduzir-se inevitavelmente em manchar a reputação do empregador. Por outro lado a confiança por parte dos trabalhadores que se mantêm em funções também ficará afetada.
Sinais de uma situação de “quiet firing”
Uma vez que se trata de uma situação que poderá acontecer de forma muito gradual, ao longo de um grande período de tempo, nem sempre é fácil identificar o que está a acontecer.
Se suspeita que possa ter sido vítima de “quiet firing” no passado ou poderá estar a passar por isso no presente, verifique se reconhece alguns destes sinais que permitem identificar uma situação de “quiet firing”.
- O seu superior está a criar um ambiente hostil a si e ao seu trabalho, criticando tudo o que faz, exagerando quando está perante um pequeno erro
- O chefe nunca está com disponibilidade para conversar e evita mesmo o contacto pessoal;
- É-lhe atribuído um plano de trabalho ou uma tarefa completamente descabida, em termos de volume de trabalho, prazos, ou compatibilidade de funções;
- Apenas os outros recebem regalias, aumentos salariais e outro tipo de compensações;
- Nunca é convidado para reuniões importantes.
“Quiet firing” em trabalho remoto
Vimos que a culpa de “quiet firing” é por norma dos empregadores, pois é por falha destes que ocorre. Mas será possível acontecer mesmo sem que haja uma intenção clara de afastar o trabalhador e forçá-lo a despedir-se?
Por vezes é possível que um simples caso de negligência por parte do empregador em relação a um trabalhador leve a esta situação.
O “quiet firing” poderá acontecer num contexto de trabalho remoto ou híbrido. Sendo esta uma realidade relativamente nova para muitos empregadores, é possível que muitos não tenham ainda as competências para lidar com questões de recursos humanos que se colocam quando há trabalho remoto.
A comunicação deverá ser uma área de forte investimento por parte dos empregadores quando uma parte dos seus trabalhadores desempenha funções a partir de uma localização física que não o escritório.
É mais fácil um empregador desconectar-se de um trabalhador quando este não está no escritório.
Mesmo que este “quiet firing” possa não ser intencional, a responsabilidade será sempre do empregador. Ainda que possa ser o trabalhador a evitar contactar o seu superior, estará nas mãos deste não permitir que a relação se deteriore.
Muitas vezes as empresas recorrem a esta estratégia para evitarem despesas com despedimentos, evitarem indemnizações, entre outras questões jurídicas. Ao saírem voluntariamente, os trabalhadores originam menos dores de cabeça burocráticas.