Miguel Pinto
Miguel Pinto
02 Set, 2024 - 20:30

Quinta das Lágrimas: viagem à história trágica de Pedro e Inês

Miguel Pinto

Em Coimbra, a Fonte das Lágrimas marca a aventura amorosa de Pedro e Inês, um dos episódios mais lendários da História de Portugal. Não perca.

Quinta das Lágrimas Pedro e Inês

Dirão muitos que na história de Pedro e Inês a lenda se sobrepôs quase de forma definitiva aos factos históricos. Talvez seja verdade, mas as lendas têm sempre o seu quê de encantador, procuram sempre uma certa redenção, criam heróis imaculados, mesmo que pejados de defeitos.

Esta é um história de um amor impossível, muito possivelmente a mais famosa história de amor que Portugal algum vez registou na sua imensa história.

Pedro e Inês amaram-se até ao final, mesmo que esse final tenha sido trágico e recambolesco, marcando de forma indelével o futuro dinástico de um país ainda recente e em constante sobressalto com o poderoso vizinho castelhano.

Um dos locais por onde, diz a lenda, passou este amor foi a Quinta das Lágrimas, em Coimbra, cujos jardins podem ser visitados. Mas já lá vamos. Antes, vamos perceber que delírio amoroso foi este, tanto que ainda hoje se fala dele.

Pedro e Inês: amor à primeira vista

Em 1360, D. Pedro I fazia uma declaração solene de que casara com Inês de Castro em segredo. Como tal, nomeava-a Rainha de Portugal e abria a porta a uma vingança atroz. E aqui começa a fantástica lenda.

Pedro era o infante de Portugal, o herdeiro do rei D. Afonso IV e, como tal, educado desde o berço para suceder ao pai. Tudo na sua vida foi sendo programado para que nada falhasse na altura de assumir os destinos do reino, incluindo, como é óbvio, o seu casamento.

Os matrimónios, na altura, estavam longe de ser uma matéria do coração. Eram longas e complicadas negociações diplomáticas, base de sustentação de alianças entre diferentes reinos e, muitas vezes, motivo de discórdia e guerra entre outros tantos.

A noiva escolhida para Pedro foi Constança Manuel, uma nobre castelhana, tendo o casamento sido celebrado em Lisboa, a 24 de agosto de 1339.

A aia Inês

Como era hábito na altura, para além do dote, as noivas reais faziam-se acompanhar por um séquito de confiança. Constança não fugiu à regra e chegou a Portugal com um considerável número de aias, entre elas Inês de Castro, a jovem filha de um poderoso fidalgo galego.

Conta a história e a lenda, que se sobrepõem, que Pedro e Inês se apaixonaram no momento em que colocaram os olhos um no outro. Mas este era um romance amaldiçoado.

É que a relação de ambos tinha intrincadas implicações políticas, fruto da influência que a poderosa família galega de Inês, em especial os seus irmãos, passavam a ter sobre o infante e futuro rei de Portugal.

Mas nada disso obstou a que Pedro e Inês se amassem, tendo inclusivamente gerado descendência. Quem não gostou do arranjo foi el-rei D. Afonso IV, que, furioso, exilou Inês em Albuquerque, na zona da Guarda.

A distância não fez esmorecer os amores de Pedro e Inês, que após a morte de Constança Manuel se instalaram em Coimbra, no Paço de Santa Clara.

D. Afonso IV decidiu então que só a morte de Inês de Castro poderia colocar um ponto final em toda esta atribulada história e aproveitando a ausência do seu filho Pedro, deslocou-se a Coimbra com um grupo de nobres para executarem a antiga aia.

Túmulo de Inês de Castro
Inês de Castro e D. Pedro estão sepultados no Mosteiro de Alcobaça

A vingança de Pedro

Inês morreu, mas, reza a lenda, as lágrimas por ela derramadas no rio Mondego terão dado origem à Fonte das Lágrimas, na Quinta das Lágrimas, e as algas vermelhas que por ali crescem serão o seu sangue derramado.

Este assassinato levou a que Pedro se revoltasse contra o pai, uma querela que só ficou resolvida com a intervenção da então rainha D. Beatriz, momentos antes de pai e filho se enfrentarem em batalha.

Só que entretanto D. Afonso IV morre e sucede-lhe, em 1357, o seu filho, passando à história como D. Pedro I. Três anos depois, em 1360, na Declaração de Cantanhede, este assegurava ter casado com Inês de Castro, fazendo dela rainha póstuma de Portugal e lançando-se numa caça ao homem contra os verdugos da sua amada.

Dois deles, fugidos em Castela, foram capturados e executados em Santarém. Mais uma vez, a lenda sobrepõem-se aos factos, já que ficou no no ideário popular a sentença de Pedro: terá ordenado que a um fosse arrancado o coração pelo peito e ao outro pelas costas, assistindo à execução enquanto se banqueteava.

Panorâmica de Coimbra
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Rainha Póstuma

Finalmente, a lenda conta ainda a macabra coroação de Inês, já morta, como rainha de Portugal, tendo D. Pedro obrigado a sua corte ao beija-mão do cadáver. Para argumento de um filme sobre os tempos medievais dificilmente se arranjava melhor.

D. Pedro I reinou durante dez anos, numa altura de prosperidade e, pasme-se, sem guerras a assombrar o reino. Apelidado de o Justiceiro, morreu em 1367 e jaz no Mosteiro de Alcobaça, num monumental túmulo em frente ao da sua amada. O amor de Pedro e Inês começou na história, mas ficou gravado no imaginário lendário de Portugal.

A Quinta das Lágrimas

Quinta das Lágrimas localiza-se na margem esquerda do Mondego, na freguesia de Santa Clara, em Coimbra. Ocupa uma área de 18,3 hectares em torno de um palácio do século XIX, atualmente um hotel de luxo.

Nos seus jardins acumulam-se memórias desde o século XIV, tanto nos elementos construídos como nas árvores, nas lendas populares e na sua própria história.

É ali que se encontram as chamadas Fonte dos Amores e Fonte das Lágrimas. A quinta e as duas citadas fontes são célebres por terem sido cenário dos amores de D. Pedro e de Inês de Castro.

Se desejar visitar este belíssimo jardim, saiba que os bilhetes custam 2,5 euros, sendo que menores de 15 anos e maiores de 65 pagam apenas um euro. Há ainda um bilhete de família, com um custo de cinco euros e que é válido para dois adultos e duas crianças.

Também pode solicitar uma visita guiada, mas estas carecem de marcação prévia e a reserva é obrigatória. Não perca este mundo encantado.

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