As tatuagens são cada vez mais comuns. São desenhos, frases ou símbolos que têm significado para quem está a ser tatuado, mas que não deixam de ter alguns riscos para a saúde. No fundo, que consequências podem acarretar a nível de saúde, por exemplo? Quais as razões que pesam na balança para não fazer uma tatuagem?
Certamente que todos conhecemos que já tenha feito uma tatuagem – se não formos nós mesmos os tatuados. Mas, independente de ter ou não ter um desenho definitivo na pele, se está a pensar voltar encarar as agulhas com tinta, é importante pensar nos prós e contras.
Sim, como em tudo, há pontos positivos e menos positivos a ter em conta. Se, depois de ler as razões que apresentamos, decidir que quer avançar com o desejo de tatuar uma parte do seu corpo, então é fundamental seguir alguns cuidados que ajudam a evitar mais consequências para a saúde.
Motivos para não fazer uma tatuagem: 4 a considerar
A tinta não fica só na pele
Ficou demonstrado, num estudo publicado em setembro de 2017 na revista Scientific Reports, que os componentes presentes na tinta das tatuagens “viajam” pelo corpo e podem ir até aos gânglios linfáticos, responsáveis pela produção de anticorpos importantes na defesa do organismo.
Em comentário a este estudo num artigo do jornal Expresso, o médico Miguel Peres Correia, coordenador do Centro de Dermatologia do Hospital CUF Descobertas, explica que o estímulo permanente do sistema linfático, eventualmente associado a outros estímulos, pode vir a aumentar o risco de linfoma (cancro).
Segundo o especialista, esta questão parece ser ainda mais relevante perante a remoção da tatuagem por laser, uma vez que se dá a “fragmentação do pigmento decorrente do impacto do laser na tinta”.
Há risco de alergia e infeções
Não quer dizer que aconteça com todas as pessoas, mas está provado cientificamente que está associado às tatuagens o risco de alergia local ou mesmo generalizada. Segundo Peres Correia, “os números são baixos, mas não são zero”.
O dermatologista sublinha que “é garantido que toda a picada da pele pode levar a penetração de agentes infeciosos”. Embora a nossa pele seja “um órgão de defesa fantástico”, muitos orifícios trazem riscos evidentes. Casos de alergias e de infeções são os problemas médicos mais relacionados com as tatuagens.
Há ainda pouco conhecimento e controlo
Ainda não existe fiscalização, nem legislação relativamente às tatuagens em Portugal, o que coloca um maior peso e responsabilidade em quem as quer fazer na escolha de um local que ofereça as condições adequadas.
Para além disso, não há ainda muito conhecimento acerca dos efeitos nocivos que certos componentes das tintas de tatuagem possam ter. Retomando o estudo publicado na Nature, os autores vão procurar evidências de efeitos secundários destes elementos nos gânglios linfáticos, o que pode incluir, por exemplo, a inflamação.
Citados pelo jornal The Guardian, os investigadores defendem que as pessoas se devem preocupar também “em verificar as composições químicas das cores”, para além de serem cuidadosas em escolher estúdios que utilizem agulhas descartáveis novas.
Risco de cancro
Embora não existam evidências sobre a relação entre tatuagens e o cancro, de acordo com o dermatologista Miguel Peres Correia, ainda em entrevista ao Expresso, “existem substâncias carcinogénicas que foram encontradas em algumas tintas”.
“Há milhões de pessoas tatuadas com técnicas modernas e, em boa verdade, não há evidência robusta de associação a maior número de casos de cancro. Daqui a vinte anos diremos o mesmo? Desconheço a resposta.”
Ainda assim, se quiser mesmo fazer uma tatuagem, deve ter vários cuidados antes e depois. Se não tiver estas precauções os riscos das tatuagens são maiores. Falamos, por exemplo, de infeções por VIH ou Hepatite B.
Com base num documento assinado pela Associação de Defesa dos Direitos do Consumidor e pelo Infarmed, deixamos algumas dicas.
Cuidados a ter antes de fazer uma tatuagem
1. Opte por um estabelecimento que garanta o cumprimento das normas de higiene e a prevenção de riscos de transmissão de agentes infeciosos. Há imensos sítios responsáveis. Pesquise, peça opiniões.
2. Verifique se o estabelecimento cumpre os métodos corretos de desinfeção e esterilização dos utensílios. Confirmar nunca é demais nesses casos.
3. Conhecer o “traço”, certificar-se da experiência do tatuador. Em resumo, a nossa dica é que procure conhecer trabalhos realizados por diversos profissionais e comparar a qualidade e tipos de desenhos aplicados.
4. Escolha o desenho sem precipitações (o desenho e o tamanho devem adequar-se à zona do corpo a tatuar). Lembre-se: é para sempre – e, se não for, a ideia de remover é mais dolorosa do que a própria tatuagem.
5. Solicite informação sobre a rotulagem dos produtos a aplicar, as condições de utilização, as precauções e a garantia de esterilidade.
6. Certifique-se que o profissional usa luvas, máscara e material descartável.
7. Assegure que a tatuagem é aplicada em pele saudável.
Cuidados após a realização da tatuagem
1. Siga todas as recomendações do profissional quanto aos cuidados a ter após a aplicação da tatuagem.
2. Observe regularmente a zona tatuada e consulte o médico em caso de ocorrência de alguma reação anómala.
O médico Peres Correia também deixa um conselho: “se possível, fazer uma tatuagem de pequena dimensão para que a quantidade de tinta seja mínima”.