Não são só os dispositivos móveis que têm apostado nesta tecnologia. A verdade é que o reconhecimento facial veio introduzir uma forma mais rápida e segura de aceder aos aparelhos pessoais, mas quando aplicadas a tecnologias mais abrangentes e, sobretudo, públicas, podem trazer mais desvantagens do que mais-valias.
Reconhecimento facial: os perigos da tecnologia do futuro
O futuro (cada vez mais presente) traz tecnologias inovadoras que nunca se julgaram existir. Espera-se que, essas, sejam tão seguras quanto possível e não coloquem a privacidade dos utilizadores em causa. Uma das ferramentas associadas a essa inovação é o reconhecimento facial, uma tecnologia que lê o rosto das pessoas recorrendo a dados biométricos.
Esta tem sido implementada em muitos dispositivos móveis, sobretudo smartphones. Neste último caso, o reconhecimento facial (ou facial ID) tem substituído outras formas de desbloqueio convencionais, como é exemplo o PIN ou a impressão digital.
A verdade é que a leitura dos traços faciais de uma pessoa acaba por ser muito mais segura quando comparada com as anteriores. Para além de permitir um acesso muito mais rápido ao dispositivo, certifica-se de que mais ninguém consegue aceder (indevidamente) a dispositivos que não os próprios.
Esta tecnologia, apesar de promissora, pode significar mais problemas do que soluções quando aplicada a contextos mais “públicos”, como são exemplo as câmaras de segurança colocadas na via pública ou em estações de metro. Até mesmo no Facebook esta já foi aplicada, mas resta saber que perigos pode trazer à segurança de cada um.
Tecnologia proibida nos EUA
São Francisco foi a primeira cidade a proibir a utilização de reconhecimento facial. Tudo indica que outras cidades norte-americanas se sigam, até porque já manifestaram o seu descontentamento para com a tecnologia, que consideram não estar tão avançada como deveria.
Os governos de Oakland, Berkeley (Califórnia) e Somerville (Massachusetts) querem também proibir a aplicação desta ferramenta aos sistemas de vigilância, uma vez que esta acaba por utilizar os dados dos cidadãos sem que estes saibam e, claro, sem o seu consentimento.
A decisão foi comunicada após um concerto de Taylor Swift que, em 2018, durante uma atuação em Los Angeles, recorreu à tecnologia de reconhecimento facial para localizar agressores sexuais que pudessem estar na plateia – tudo isto, novamente, sem o devido e necessário consentimento.
O reconhecimento facial enquanto invasão de privacidade
Luis Baumela, Engenheiro Informático e Professor do Departamento de Inteligência Artificial da Universidade Politécnica de Madrid, diz que “a tecnologia de reconhecimento facial não é boa nem má, mas sim uma ferramenta. A questão está no tipo de utilização que se dá a essa ferramenta”.
A verdade é que utilizá-la no desbloqueio de smartphones ou outros dispositivos móveis não representa nenhum problema maior ou até mesmo ético. “O problema está quando essa informação, que é privada, não se mantém guardada localmente no telemóvel de cada pessoa”. Baumela afirma ainda que “o problema é quando essa informação é alojada num servidor central e se combina com outros dados que são deixados na web pela própria pessoa”.
O especialista explica que, essa informação (privada), quando é combinada, permite saber praticamente tudo sobre uma pessoa – e isso é realmente assustador. Aplicar essa tecnologia a sistemas de vigilância em ruas, bancos ou estações de metro acaba por ser uma grande invasão de privacidade.
Ao adotar o reconhecimento facial como ferramenta de controlo e manutenção de segurança públicas, os responsáveis pelo(s) sistema(s) saberão sempre onde as pessoas estão, que sítios visitam, os trajetos que percorrem, entre tantas outras informações.
Tecnologia ainda tem falhas
O caso remonta a 2015, mas continua a apresentar falhas sistemáticas e que podem colocar em causa a sua utilidade. Na altura, um utilizador do Google Photos afirmou que o software tinha identificado dois amigos seus negros como gorilas, situação que colocou a Google debaixo de fogo.
Dois anos depois, o problema repetiu-se, tendo a tecnologia de reconhecimento facial falhado novamente, desta vez na final da Liga dos Campeões de futebol, em Cardiff. Mais de 2000 pessoas foram incorretamente identificadas como potenciais criminosas, dados que em nada correspondiam à verdade, como mais tarde se veio a comprovar.
O mesmo aconteceu em 2018, quando a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, em inglês) criticou o sistema de reconhecimento facial da Amazon, que identificou 28 congressistas como suspeitos da polícia americana.
Reconhecimento facial pode vir a ser útil
Tudo indica que esta ferramenta pode trazer muitas vantagens, mas tem de ser aprimorada e, na verdade, infalível na maior parte das utilizações. De acordo com a Statista, esta tecnologia gerou 1400 milhões de dólares em 2017. Este ano, prevê-se que os lucros rondem os 1900 milhões de dólares, não parando de crescer até 2022.
Estes números significam que o reconhecimento facial é uma ferramenta que, para além de se traduzir em grandes quantias de dinheiro, pode mesmo ser uma mais-valia para identificar potenciais criminosos ou fugidos à justiça, desde que certeira e não com as falhas que tem apresentado ao longo dos anos.
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