A diversidade e a igualdade de oportunidades, nomeadamente na área do emprego e inserção profissional, estão na ordem do dia e, nesse sentido, empresas e entidades têm de se adaptar a novos métodos de seleção, a fim de garantir um recrutamento inclusivo.
A importância é incontornável. O processo, esse, obedece a critérios específicos e apresenta vantagens para candidatos e empresas.
A Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão (APPDI), entidade gestora da Carta Portuguesa para a Diversidade, lançou um guia para um recrutamento inclusivo. Este é um dos instrumentos voluntários criados com o objetivo de encorajar os empregadores a implementar e desenvolver políticas e práticas internas de promoção da diversidade, uma iniciativa da Comissão Europeia.
O documento interativo que resulta do trabalho colaborativo realizado pelo grupo de trabalho de Empregabilidade da APPDI, está disponível online e é gratuito.
Assim, neste artigo, abordamos em detalhe o tema do recrutamento inclusivo e apresentamos-lhe as linhas gerais deste guia.
Tudo sobre recrutamento inclusivo
Recrutamento inclusivo e atualidade
A diversidade e a igualdade de oportunidades, nomeadamente na área do emprego e inserção profissional, é uma das bandeiras da Comissão Europeia e, consequentemente dos países europeus.
No ano em que Portugal assume a presidência do Conselho da União Europeia (UE), faz mais sentido do que nunca promover determinadas causas e princípios.
Vivemos num mundo globalizado no qual as organizações são o espelho desta constante transformação e mobilidade, refletindo inevitavelmente a sua Diversidade.
No entanto, a diversidade, por si só, não representa benefícios se não existir um ambiente inclusivo. A inclusão deve estar presente em todo o processo, desde a atração dos/das candidatos/as, seleção, integração, desenvolvimento e promoção até ao momento da sua saída.
Para tal, é necessário trabalhar estratégia, cultura organizacional e liderança para que as pessoas se sintam valorizadas nas suas diferenças e competências.
A situação atual atípica e particularmente difícil para muitos, reforça a exigência de inclusão, visto que são os grupos mais vulneráveis os mais afetados pelas dificuldades.
Diversidade e inclusão no mercado de trabalho
Falar de diversidade e inclusão, no emprego em particular, ou na sociedade de um modo geral, não se restringe apenas a pessoas com deficiência. É, igualmente, falar de todos os que, com alguma diferença ou dificuldade, procuram integrar-se ou reintegrar-se no mercado de trabalho em Portugal.
Assim, falamos também de migrantes, de cidadãos estrangeiros, europeus ou não, homens e mulheres, que falam outras línguas ou que têm outros costumes, pontos de vista e competências.
Inclusão de trabalhadores com deficiência
Um mercado de trabalho inclusivo remete-nos, em primeira instância, para profissionais com deficiência e a esses é dada, claramente, uma atenção especial.
O que diz a lei?
A Lei n.º4/2019 estabelece o sistema quotas de emprego para pessoas com deficiência, com um grau de incapacidade igual ou superior a 60 %.
A proporção de pessoas com deficiência contratadas por uma empresa deve ser de entre 1% a 2%, mediante o número total de funcionários da mesma entidade. Para o cumprimento do disposto na lei, às entidades empregadoras é concedido um período de transição de 4 a 5 anos, também definido de acordo com a dimensão da empresa.
As entidades empregadoras têm a responsabilidade de adequar e adaptar os postos de trabalho aos trabalhadores com limitações funcionais. A empresas devem solicitar ao Instituto Nacional para a Reabilitação e ao Instituto de Emprego e Formação Profissional, o apoio técnico necessário para o efeito.
Diversidade e inclusão: vantagens para candidatos e empresas
As organizações onde existe diversidade são, de um modo geral:
- Mais bem-sucedidas;
- Tomam melhores decisões;
- Incentivam a criatividade e a inovação;
- Têm um foco mais forte no cliente;
- Maior facilidade em atrair e recrutar candidatos/as;
- Têm valores culturais reforçados interna e externamente;
- Aumentam a reputação da própria organização;
- Têm acesso a fundos e apoios específicos para as empresas que contratem pessoas com deficiência, bem como comparticipação de custos em obras de acessibilidade e aquisição de equipamentos, do mesmo modo para migrantes e outros cidadãos estrangeiros.
Os candidatos/trabalhadores:
- Sentem-se valorizados;
- Têm oportunidade de colocar em prática os seus conhecimentos e competências;
- desenvolvem diferentes capacidades;
- Têm um ambiente de trabalho mais rico, com maior entreajuda e espírito de equipa, valorizando a partilha, o conhecimento e a atenção e apoio aos outros.
Além de um imperativo ético, a Diversidade contribui para o crescimento, sustentabilidade e competitividade económica. Isto constitui, por si só, uma vantagem competitiva que cria valor acrescentado.
Guia para o recrutamento inclusivo
A Associação Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão (APPDI) lançou um guia de recrutamento inclusivo, gratuito e disponível online.
O documento explica, passo a passo, como garantir um recrutamento inclusivo, com o apoio de casos reais de empresas que já implementaram estes processos.
O processo em 5 fases
Pretende-se assegurar que os candidatos têm as mesmas oportunidades ao longo do processo de recrutamento e seleção. Isto implica garantir que cada fase do processo se encontra acessível a todos, evitando qualquer tipo de exclusão.
Contam-se, assim, 5 fases essenciais, aqui apresentadas resumidamente.
Fase 0: Preparar o processo de recrutamento
É fundamental que as equipas de recrutamento estejam alinhadas com uma estratégia de promoção de uma cultura de diversidade e inclusão e, para além disso, que o processo de recrutamento incorpore tais preocupações.
Mesmo em entidades de menor dimensão é possível integrar tais objetivos.
Fase 1: Recrutamento
Incentivar potenciais candidatos (e candidatas) de contextos sociais vulneráveis a candidatarem-se a funções dentro da organização é vital.
Para além disso, garantir que a equipa de recrutamento entende o mecanismo para se conseguir um recrutamento diversificado e inclusivo é, igualmente, fundamental.
Se a equipa de recursos humanos entende os benefícios de ter uma força de trabalho em que todas as pessoas se sentem valorizadas e respeitadas dentro da sua diversidade, a empresa estará a ganhar.
Fase 2: Onboarding
O onboarding tem como função integrar um novo colaborador de uma empresa na Cultura, Missão, Valores e Objetivos da organização, bem como fornecer-lhe as ferramentas fundamentais à sua integração.
Por isso, é importante acolher o colaborador, oferecer-lhe orientação, treino, acompanhamento e supervisão desde o início, de forma a que o/a mesmo/a se sinta familiarizado/a e acolhido/a, para poder cumprir plenamente a função para a qual foi escolhido/a.
Fase 3: Acompanhamento
Deverá haver um acompanhamento de proximidade e personalizado, ajustado às suas necessidades, interesses e potenciais de cada um dos trabalhadores.
Um plano de acompanhamento desenhado à medida vai contribuir para o aumento do potencial de sucesso da integração, promovendo a inclusão e desenvolvimento dos colaboradores na organização.
Fase 4: Exit
A realização de uma entrevista de saída quando um trabalhador sai da empresa é uma oportunidade de ter feedback relativamente à experiência do mesmo e os possíveis aspetos a melhorar na organização. .
Adaptado para todos os tipos de organizações, o guia de recrutamento inlcusivo da APPDI promete ser uma fonte de inspiração. Mais ainda, serve também de apoio ao desenvolvimento de ambientes laborais mais diversos, inclusivos e confortáveis, onde o respeito e a valorização individual se assumem como prioridades.