Há quem se questione como está a situação do recrutamento jovem em Portugal em comparação com outros países da União Europeia. E a resposta parece ser simples: o nosso país é um dos piores da EU para os jovens encontrarem emprego.
Todos sabemos que encontrar emprego não tem sido uma tarefa fácil, principalmente para os mais novos que pretendem encontrar uma primeira oportunidade para ingressar no mercado de trabalho.
Estamos certos de que temos vindo a conseguir alcançar grandes avanços no que diz respeito aos níveis de escolaridade dos jovens. No entanto, a realidade mostra que a nova geração enfrenta dificuldades sérias na entrada para o mercado de trabalho.
Para além disto, é possível ainda verificar que para esta camada etária existe uma particular vulnerabilidade a momentos de crise.
Na sua grande maioria, os jovens portugueses estão altamente qualificados e, por isso, procuram oportunidades de emprego que reflitam qualidade.
O recrutamento jovem em Portugal
Mas afinal, como funciona o recrutamento jovem em Portugal? São os jovens que não querem trabalhar ou faltam oportunidades de emprego no nosso país? É importante analisarmos a situação atual.
De facto, temos vindo a trabalhar ao longo dos anos para preparar os nossos jovens para a dura entrada no mercado de trabalho. Como? Através do incentivo aos estudos – Portugal reúne um enorme conjunto de pessoas abaixo dos 30 anos, altamente qualificados.
São anos e anos de estudo, licenciaturas, pós-graduações, mestrados e por vezes há até quem opte por fazer um doutoramento a fim de encontrar o melhor emprego que lhes permita ter a vida com que sempre sonharam e trabalharam.
No fundo, os jovens procuram cada vez mais aprimorar os seus conhecimentos por vezes em mais do que uma área, para que consigam entrar no mercado de trabalho.
Contudo, quando se deparam com o verdadeiro cenário do mesmo, reparam que são exigidas várias competências para cargos iniciais e cujos salários não parecem cativar a geração mais nova. Falamos de salários muito baixos, que não refletem o esforço, conhecimentos e dedicação durante anos a fio de estudo.
Muitos acabam mesmo por comparar os salários das mesmas funções em empresas semelhantes na União Europeia e as reações são, na sua grande maioria, de revolta.
Portugal VS União Europeia
O aumento do desemprego jovem parece ter sido transversal à maioria dos países europeus. No entanto, Portugal já faz parte do top 10, onde este indicador é ainda mais expressivo.
Se ainda não viu os dados relativamente ao emprego jovem, saiba que o mesmo na EU passou dos 14,8% em novembro de 2021 para 15,1% em novembro de 2022. O que significa que existe um acréscimo de 180 mil jovens sem trabalho na União Europeia, sendo que o nosso país conta já com 65 mil jovens nesta situação.
Esta subida do desemprego jovem, não se deu somente em Portugal. Na verdade, afetou um conjunto de países da EU. Mas em Portugal, esta subida é alarmante já que coloca o país no top 10 dos Estados-membros com a maior taxa de desemprego jovem.
O recrutamento jovem é diferente na EU?
Se fizermos uma rápida pesquisa sobre quanto recebe mensalmente um Designer UX/UI em Portugal e compararmos com um país como a Holanda, por exemplo, rapidamente percebemos as diferenças.
Falamos em diferenças salariais, diversidade de oportunidades de trabalho, benefícios associados à função, oportunidade de trabalho em regime remoto e por aí fora.
Os jovens deparam-se com ofertas de trabalho quase irresistíveis quando comparadas com as que encontram no nosso país. E os que tenham habilitações superiores, por norma, conseguem ganhar 3 vezes mais do que em Portugal.
O recrutamento jovem é de facto diferente em Portugal: as descrições das vagas são infinitas, as competências exigidas por vezes nem estão relacionadas com a função a desempenhar, os salários são baixos, não existem benefícios associados e os jovens sentem que não conseguirão manter o equilíbrio entre as suas vidas pessoais e profissionais.
Claro que muitos acabam por ter de se render a oportunidades de emprego que não tenham a qualidade que procuram. Mas na sua grande maioria, são também vários os que acabam por emigrar ou até procurar um emprego remoto para uma empresa estrangeira.
Sim, porque atualmente são já vários os jovens que optam por concorrer a diversas propostas em regime remoto para países da União Europeia ou até mesmo noutros locais do mundo.
Mais emprego para os jovens com menos qualificações?
Para os jovens que optaram por realizar um curso profissional ou um curso técnico de 1 ano, por exemplo, as oportunidades de emprego parecem ser mais e devidamente ajustadas.
De facto, os cursos profissionais ainda são alvo de preconceito no nosso país, mas os jovens que optam por seguir este tipo de percurso têm mais emprego e com vantagens salariais.
Segundo o “Guia sobre o Ensino Profissional: uma escolha com futuro”, da Fundação José Neves, mais de metade dos jovens já estavam a trabalhar 14 meses depois de concluírem um curso profissional e 9% estavam a trabalhar e estudar em simultâneo.
Além disto, 1 em cada 5 jovens que concluíram cursos profissionais, consegue obter emprego na empresa na qual estagiou (algo que não acontece com tanta frequência quando se trata de jovens com cursos superiores).
Quanto aos salários, um jovem que tenha optado pelo ensino profissional terá maior probabilidade de encontrar um emprego e um salário mais elevado do que quem tenha escolhido um curso científico-humanístico.
Como podemos ver, a situação do recrutamento jovem em Portugal parece ser mais vantajosa para os jovens que optaram por cursos profissionais.
Além disto, a nível europeu, o Centro Europeu para o Desenvolvimento Profissional (CEDEFOP), reconhece que este método de ensino oferece um conjunto alargado de benefícios económicos e sociais para as empresas, indivíduos, organizações e para a sociedade em geral.
Para inverter um pouco este cenário e conseguir aumentar as oportunidades de emprego com qualidade também para os jovens mais qualificados, é necessário começar a criar estratégias, reter talento e evitar a saída da geração mais qualificada de sempre.