Um estudo recente da MOBI.E analisa, em detalhe, os desafios e oportunidade para o desenvolvimento de uma eficiente rede de postos de carregamento de automóveis elétricos.
Intitulado “Infraestruturas de Carregamento de Apoio à Transição Energética da Mobilidade em Portugal” o estudo apresenta uma análise detalhada da situação atual e das perspetivas futuras do setor da mobilidade elétrica no nosso país.
De forma objetiva aborda as principais tendências, desafios e oportunidades para o desenvolvimento de uma rede de carregamento eficiente e sustentável.
O grande objetivo é que esta rede possa dar resposta e acompanhar o crescimento da procura, ao mesmo tempo que visa contribuir para a descarbonização dos transportes.
Postos de carregamento: perspetivas futuras
Para um enquadramento da ação prevista para os próximos anos atente-se em algumas das conclusões que o estudo apresentado sugere:
- Postos de Carregamento: a MOBI.E prevê a criação de mais de 76 mil pontos de carregamento de veículos elétricos até 2050. Até 2025, serão criados mais de nove mil pontos de carregamento. Atualmente o Portugal conta com cerca de 5500 pontos de carregamento de automóveis elétricos, distribuídos por mais de 50 municípios e ilhas.
- Investimento: Até 2050 está prevista uma aplicação de capital que ronda os 1,7 mil milhões de euros, de forma a cumprir o regulamento europeu “Alternative Fuel Infrastructure Regulation” (AFIR).
- Poupança de CO2: O investimento previsto permitirá uma poupança adicional de 3,3 milhões de toneladas de CO2, com um benefício económico estimado de 1,9 mil milhões de euros.
- Rede de Hidrogénio: O estudo aborda ainda a criação de uma rede nacional de abastecimento de hidrogénio, para a qual se estima que sejam necessárias 37 estações de abastecimento até 2030.
- Potência da rede: um outro dado relevante que o estudo apresenta é a potência da rede. Atualmente de 216 MW (acima do valor necessário de 195 MW), mas com uma previsão de alcançar os 1.230 MW até 2030 e os 3.320 MW até 2050.
- Carregamentos necessários: de forma a esclarecer alguns conceitos que estão associados à mobilidade elétrica, o estudo sustenta que para veículos com 300 km de autonomia apenas são necessários cerca de dois carregamentos por mês (considerando uma distância média percorrida de 20 km por dia) ou seis vezes por mês em zonas suburbanas ou rurais (onde a distância média percorrida por dia é 60 km).
A MOBI.E frisa ainda, no estudo que produziu, que não é necessário ter um ponto de carregamento por cada alojamento, mas apenas um carregador por cada dez fogos, nas áreas consideradas cidade e dois carregadores por cada dez fogos, nas zonas suburbanas ou rurais.
Isto tendo em conta que a percentagem de carregamentos realizados em postos públicos nas cidades é de 67%; 52%, nas áreas suburbanas e de 57% nas zonas referenciadas como rurais.
Rede nacional de eletricidade com capacidade?
Paralelamente ao estudo apresentado torna-se pertinente perguntar se a rede nacional de eletricidade está preparada para receber 80 mil postos de carregamento de veículos elétricos.
Neste conspecto importa referir que a rede nacional de eletricidade é, por si só, um sistema complexo e dinâmico que necessita de se adaptar continuamente às mudanças no que respeita à procura e oferta de energia.
Ao mesmo tempo, é de frisar que uma das tendências mais relevantes para o seu futuro é a crescente penetração de viaturas elétricas, que representam uma nova fonte de consumo, mas, igualmente, uma potencial fonte de armazenamento flexível.
Assim, a resposta à questão não é simples, pois depende de fatores como a localização, a potência, o tipo e o perfil de utilização dos postos de carregamento, bem como as características técnicas e operacionais da rede.
Por isso torna-se pertinente garantir que a rede tenha capacidade suficiente para suportar o aumento da procura de energia associada aos veículos elétricos, sem que isso comprometa, de alguma forma, a qualidade e a segurança do fornecimento.
Para isso é preciso reforçar e modernizar a rede, principalmente nas zonas urbanas e suburbanas, onde é esperada uma maior concentração de postos de carregamento.
É também preciso implementar soluções inteligentes de gestão, que permitam monitorizar, controlar e otimizar o fluxo de energia em tempo real, bem como prever e antecipar eventuais problemas ou falhas.
Flexibilidade e utilização eficiente
Por outro lado é necessário assegurar que a rede tenha flexibilidade suficiente para lidar com a variabilidade das condições meteorológicas e climáticas. Este fator pressupõe aumentar a capacidade de armazenamento de energia na rede, tanto a nível centralizado como distribuído.
É aqui que os veículos elétricos podem desempenhar importante papel se forem dotados de tecnologia que permita o carregamento bidirecional. Ou seja, que possam não só consumir energia da rede, como também injetar energia na rede quando for necessário.
Outro elemento desta complexa equação é o incentivar a utilização eficiente e racional dos postos de carregamento, de forma a que sejam minimizados impactos negativos na rede e maximizados os benefícios ambientais.
Para que o equilíbrio seja encontrado é preciso que as tarifas sejam dinâmicas e diferenciadoras e que reflitam os custos reais da energia em cada momento. É ainda importante estimular os consumidores a carregar os seus veículos nos períodos de menor procura ou de maior disponibilidade de energia renovável.
Pode-se concluir que a rede nacional de eletricidade está preparada para receber até 80 mil postos de carregamento para veículos elétricos até 2050, desde que sejam tomadas as medidas adequadas para reforçar, modernizar e gerir a rede de forma inteligente e flexível.
Rede de hidrogénio: 1GW de capacidade até 2030
A rede nacional de hidrogénio é um projeto que visa criar uma infraestrutura de produção, distribuição e consumo de hidrogénio verde em Portugal, aproveitando as potencialidades das energias renováveis.
A MOBI.E, entidade gestora da mobilidade elétrica no país, é uma das entidades envolvidas neste projeto, que tem como objetivo contribuir para a descarbonização dos setores da indústria, transportes e energia, bem como, a criação de emprego e riqueza.
Segundo a MOBI.E, a rede nacional de hidrogénio está em fase de planeamento e implementação, tendo já sido lançados alguns concursos públicos para a construção de eletrolisadores, estações de abastecimento e veículos movidos a hidrogénio.
Até 2030 a MOBI.E prevê que sejam instalados cerca de 1 GW de capacidade de produção de hidrogénio verde, em Sines, e que sejam criados entre 8.500 a 12 mil novos postos de trabalho.
Custos de implementação da rede de hidrogénio
Segundo o Plano Nacional de Hidrogénio (PNH) aprovado pelo Governo em 2020, a previsão de investimento para implementação de estações de abastecimento de hidrogénio até 2030, é de cerca de 1,5 mil milhões de euros.
O PNH prevê a instalação de 50 estações de abastecimento de hidrogénio, com uma capacidade total de 160 toneladas por dia, para atender à procura dos setores dos transportes rodoviários, ferroviários e marítimos. O objetivo é reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover a transição energética para uma economia verde e circular.
O investimento será financiado por fundos europeus (PT 2020, PT 2030), nacionais e privados e contará, com o apoio de várias entidades públicas, nomeadamente da REN, e privadas.