Os anos 60 e 70 do século passado foram férteis no que se refere à produção automóvel. A Renault vivia um bom momento comercial. O Dauphine dava continuidade ao sucesso do 4CV e, em 1962, quando apresentou o Renault 8, no Salão Automóvel de Paris, preparava-se para lidar com outro grande êxito.
De facto, assim foi. O Renault 8 tornou-se um carro popular na Europa. Usava o mesmo chassis do Dauphine e o motor colocado na traseira (um retrocesso pois o R4 que tinha apresentado um ano antes tinha motor colocado na frente e carroçaria tipo “hatchback”).
O pormenor do motor colocado na traseira não foi suficiente para impedir o sucesso do Renault 8 e tornou-se popular, tal como o seu rival Simca 1000, que estava no mercado desde 1961.
Renault e Alfa Romeo juntas na década de 1950/1960
Por estranho que possa parecer atualmente, Renault e Alfa Romeo viveram uma parceria comercial entre a década de 1950 e 1960. À época, a marca francesa comercializava os carros italianos e a Alfa Romeo construía, sob licença, para a Renault, o Dauphine (1959/1964); o Ondine, uma das versões comerciais do Dauphine (1961/1962) e o já famoso R4 (1962/1964).
O curioso desta parceria é que a Renault, com o 8, coloca no mercado um automóvel muito semelhante, no que à estética diz respeito, ao Alfa Romeo tipo 103. Este foi um protótipo que a marca italiana construiu em 1960 mas que, ao invés do 8, tinha tração dianteira.
Ao todo, através desta parceria comercial, a Alfa Romeo construiu para a Renault um total de 70.552 modelos Dauphine/Ondine e pouco mais de 41 mil R4.
Renault 8: um automóvel moderno para a sua época
Também chamado na gíria automóvel R8, este agora clássico foi considerado, na época, um automóvel moderno. Exteriormente apresentava três volumes, design que dava primazia às linhas retas e quatro portas. A zona envidraçada era ampla e o motor e tração estavam colocados na traseira.
A seção frontal era dominada por um par de faróis redondos, que eram acompanhados de dois mais pequenos, por baixo, que eram as luzes de mudança de direção. Uma caraterística do capot dianteiro era o facto de ter um rebaixamento ao meio, o que o tornava facilmente identificável.
O habitáculo reclamava grande conforto e acolhia até 5 passageiros. O painel de instrumentos, embora simples, exibia a instrumentação fundamental como: velocímetro, hodómetro, lâmpadas avisadoras para o nível de gasolina no tanque, entre outras funções.
Uma versão mais luxuosa do R8, designada Major, surgiu em 1964. Distinguia-se por utilizar pneus com faixa lateral em cor branca e por estar equipada com motor mais potente: 1.108 cc que debitava 50 cv e atingia a velocidade máxima de 135 km/h.
Os bancos desta versão eram reclináveis, o porta-luvas era fechado e, todo o painel de instrumentos tinha um acabamento mais cuidado e distinto.
Versão desportiva do Renault 8 com assinatura Amédée Gordini
Citroën Ami, Opel Kadett, Simca 1000, Fiat 850 ou o popular Volkswagen 1300 eram os grande concorrentes do R8, que lutava no mercado “ombro a ombro” com estes modelos que, com os anos, conquistaram também um merecido lugar na história do automóvel.
Mas, se as versões comerciais do Renault 8 tinham sucesso, o modelo desportivo que surgiu a par destas também conquistou muitos pilotos.
A versão mais radical em termos de desempenho e velocidade foi criada pelo italiano Amédée Gordini (1899-1979), construtor e preparador de automóveis que também foi piloto, além de ter criado a empresa Gordini.
A versão mais desportiva atraiu de imediato muitos pilotos, quer em Portugal, quer na Europa, ao ser equipada com motor de 90 cv e dois carburadores duplos Weber. Estes automóveis, de corrida, os Renault 8 Gordini, vistos preferencialmente nas provas de rali, eram facilmente reconhecíveis pela cor azul “França” e pelas duas faixas brancas que percorriam parte da carroçaria (lado esquerdo).
E o sucesso começou logo na prova de estreia, na Volta à Córsega, onde um Renault 8 Gordini arrancou o primeiro lugar.
Sucesso do R8 passa também pelo Rali de Portugal
Da versão com 90 cv o Renault 8 Gordini evoluiu para uma ainda mais radical. Em 1966 é lançado o Gordini 1300. O carro desportivo de cor azul e listas brancas recebe novo motor 1.255 cc, com potência de 103 cv às 6.750 rpm. A velocidade máxima passa dos tímidos 135 km/h para expressivos 170 km/h, com o “sprint” 0-100 a ser cumprido em 13,5 s.
A música era outra. Sim, o som do motor mais encorpado anunciava automóvel mais despachado nos troços de competição.
Em 1967, um exemplar equipado com o motor mais potente chega a Portugal para integrar a equipa oficial da Renault. E, durante duas épocas foi pilotado por José Carpinteiro Albino, que naquele ano, navegado por Silva Pereira, venceu a primeira edição do Rali Internacional TAP.
Mas, não foi só o piloto português que teve sucesso com o Renault 8 Gordini. Pilotos franceses como Gerard Larrouse, Bernard Darniche e Jean Pierre Jabouille brilharam nas competições em que participaram, devido à paixão que tinham pelo “carro azul”.
Entretanto, na França, Amédée Gordini, ajudava a implementar a categoria monomarca Taça Gordini, a que presidiu, criada pela Federação Francesa de Desporto Automóvel.
Versão desportiva com caraterísticas fora do comum
O Renault 8 Gordini era fácil de conduzir. Em termos de distribuição de peso era equilibrado e para este facto contribuía o segundo depósito de gasolina suplementar (25 litros), colocado sob o capot frontal. Uma pequena chave no habitáculo permitia optar entre os dois depósitos (o traseiro e o frontal, que somados totalizavam um total de 63 litros de combustível).
Depois, para tornar mais eficiente a condução em velocidade, e em curva, o modelo estava equipado com duplo amortecedor traseiro.
A caixa de quatro velocidades era bem escalonada e permitia que o piloto/condutor explorasse com precisão a potência do motor 1.300 cc. Para “domesticar” os ímpetos do R8 Gordini, o piloto contava com a ajuda de travões de disco nas quatro rodas. Uma novidade à época.
A versão 1.300 cc do R8 recebia, ainda, na frente, dois faróis suplementares de longo alcance, que sublinhavam o carácter desportivo do modelo que, com a sua tração traseira e dinâmica eficaz, fazia as delícias de quem percorria estradas sinuosas.
Produção superou 1 milhão de exemplares R8
O Renault 8 foi produzido até 1970, na Bulgária. Uma versão adaptada deste modelo continuou a ser produzida até 1976, na Espanha;+. Por outro lado, na Roménia a produção do 8 foi realizada sob licença entre 1968 e 1971, mas como Dacia 1100.
Para além disso, a produção do Renault 8 Gordini terminou em 1970, e o 8S foi fabricado até 1971.
Ao todo 1,3 milhões de Renault 8 foram comercializadas.