Quando foi apresentado ao mundo pela primeira vez, no Salão Automóvel de Paris, em 1990, a primeira geração do Renault Clio (como sucessor do bem sucedido Renault 5), longe estava a ideia do êxito que este compacto da marca francesa teria 31 anos depois. Ou a fama do Clio Williams.
Com argumentos que depressa o tornaram num enorme sucesso, o Renault Clio, que é dos automóveis mais vendidos de sempre (nas primeiras quatro gerações foram comercializados mais de 15 milhões de unidades) integra com a atual geração a lista de das preferências dos condutores portugueses.
Registe-se que o modelo logo no segundo ano de comercialização venceu o troféu de Carro do Ano na Europa (1991), galardão que voltou a ganhar em 2006, solidificando, deste modo, o seu sucesso e preferência.
Ainda hoje mantém os argumentos com que se apresentou em 1990 e que fizeram dele um enorme sucesso. O ser um automóvel simples (hoje já com elevado coeficiente tecnológico), económico e acessível às famílias portuguesas.
Na esfera de sucesso do Clio (que teve várias versões de carácter desportivo) destaca-se a vivência de um dos momentos altos da sua carreira comercial com a edição do Clio Williams, que faz 28 anos.
Clio Williams “nasce” em 1993
Com apenas 3 anos no mercado o Clio, que a pouco e pouco conquistava mais adeptos por todo o Mundo, revelou-se audaz e com semblante verdadeiramente desportivo: referimo-nos ao Renault Clio Williams.
Trata-se de versão inspirada pela presença da marca francesa no Campeonato do Mundo de Fórmula 1 com a equipa Williams e que visava homenagear as conquistas de Nigel Mansell (Campeão do Mundo em 1992). Acresce a este desígnio a vontade de criar uma versão de homologação deste modelo para ralis.
A cor azul forte e as jantes em tom dourado eram a assinatura visual do Clio Williams, numa conjugação de cores que para alguns seria de gosto discutível. Mas quem o conduzia e conhecia a sua forte personalidade, pouco ligava a esse facto. A cor era um mero acessório.
A verdadeira essência escondia-se debaixo do capot: o motor 2.0 litros de 150 cv, para um peso de menos de 1000 kg. A conjugação quase perfeita para horas e horas de prazer de condução.
Dos motores turbo ao regresso dos atmosféricos
Com forte presença no mercado dos pequenos desportivos, a Renault, que somou sucessos com mecânicas de culto na era turbo (com modelos como o 5 Alpine Turbo e o 5 Turbo, nas décadas de 70 e 80 e, mais tarde, com o 5 GT Turbo), acabaria pro ter de abandonar este caminho.
E porquê? Devido a questões que se prendem com a emissão de gases poluentes e consumos elevados.
A renitência de alguns adeptos destas mecânicas afastava-os dos motores atmosféricos, mas a Renault soube recriar a sua herança desportiva com o bloco 2.0 litros e 150 cv com que equipou o Clio Williams cuja produção inicial de 3800 unidades (2500 para homologação de novo carro de ralis), teve de ampliar para expressivos 12 mil exemplares tal o sucesso alcançado.
Williams foi pretexto para homologar novo carro de ralis
O Clio Williams surge pela mão e saber do ramo Renault Sport empenhado em produzir um pequeno desportivo.
À boleia do sucesso conquistado em 1992 pela equipa Williams-Renault na Fórmula 1 arranca o projeto de marketing. Este teve como objetivo proporcionar identidade diferenciadora ao Clio Williams e, assim, almejar homologar um “novo e competitivo carro de ralis em Grupo N e Grupo A, o que só era possível após a produção de pelo menos 2500 unidades. O Clio Williams tinha todas as condições para nascer em berço de ouro e apontado para o sucesso”, como refere documento do Groupe Renault.
Base de trabalho: Clio 16V
Os engenheiros da marca francesa utilizaram como base de trabalho o Renault Clio 16V. Outro modelo de inegável sucesso, no campo desportivo e competitivo. A partir deste surge o Clio Williams, que passará a ser a nova referência desportiva da época, nomeadamente, entre os desportivos com tração dianteira.
O que foi mudado para deixar o Clio Williams com fortes argumentos desportivos:
- Revisão do bloco 1.8 16V (F7P), diâmetro e curso aumentam para 82,7 mm x 93 mm;
- Cubicagem do motor aumenta para 200 cm3 (cilindrada 2 litros);
- Válvulas de maior dimensão;
- Touches hidráulicas;
- Árvores de cames duplas (por via de aceitarem débito maior);
- Nova cambota;
- Novo radiador de óleo;
- Reconfiguração da distribuição e coletor de escape;
- Injeção eletrónica Bendiz-Siemens.
Prestações do novo motor:
- Potência máxima de 150cv às 6100 rpm;
- Binário máximo de 175Nm às 4500 rpm;
- 0-100 km/h: 7,8 segundos;
- Velocidade máxima: 215 km/h.
Surge assim o Clio mais potente da história da marca francesa, somando elogios à dinâmica. Para isso, foram introduzidas alterações no chassis monobloco em aço, na largura do eixo dianteiro que agora é maior e feitos ajustes na direção para maior precisão. A suspensão foi rebaixada, com adoção de molas e amortecedores mais firmes, optando-se ainda pela montagem de braços de torção e barras estabilizadoras mais grossas.
As jantes na cor dourada são Speddline de 7J e a carroçaria recebe o elegante tom azul (449 Metallic Sports Blue), referência à equipa de competição da F1, acompanhado da designação “Williams” (amarelo e azul), nos painéis laterais.
Habitáculo personalizado e imagem desportiva
No habitáculo do Clio Williams o elemento diferenciador e que, claramente, reforça a imagem desportiva do automóvel é a cor azul do painel de instrumentos e dos manómetros colocados no topo da consola central.
Outros apontamentos em azul na parte superior da alavanca de velocidades, tapetes e cintos de segurança, associam-se ao carácter desportivo do Williams.
Na primeira das três fases de comercialização (a designada Phase 1), um elemento distintivo estava colocado por baixo dos manómetros, na consola central. Uma pequena placa numerada, que confere “carácter único” ao Clio Williams. Sem dúvida um elemento valorativo deste automóvel, atualmente um clássico.
As várias fases de produção do Clio Williams estão assim distribuídas:
- Phase 1 – 1993/1994;
- Phase 2 – 1994/1995;
- Phase 3 – 1995/1996.
Entre estes lançamentos é notório que o Clio Williams foi alvo de melhoramentos, nomeadamente introdução de elementos de conforto como teto de abrir elétrico e outros de segurança, como espelhos elétricos e aquecidos e sistema ABS. Também no que respeita a cores foram adotadas a All Sports Blue 449 e a Monaco Blue 442.
Clio Williams: um dos ‘pocket rocket’ mais desejados
Não demorou muito para que o Clio Williams atingisse o estatuto de lenda ou fosse visto como um dos ‘pocket rocket’ mais apetecíveis.
O bom desempenho desportivo influenciava as vendas e, de alguma maneira, colocou o Williams como digno sucessor de outro desejado Clio, o 16V. Através da equipa oficial Renault, o Clio Williams participou, em três provas do Campeonato do Mundo de Ralis (WRC) em 1993 e 1994. Nelas mostrou a sua raça.
Com os seus 220 cv de potência venceu as provas (Categoria F2, carros de duas rodas motrizes), da Volta à Córsega e o Rali de Monte-Carlo, com Jean Ragnotti, aos comandos.
Sucesso nos ralis também em Portugal
O Clio Williams chegou aos ralis nacionais em 1994 com a equipa oficial Renault Galp e com José Carlos Macedo, como piloto. Conquistou o Campeonato de F2 (1994) e foi terceiro no campeonato absoluto.
Já no Rali de Portugal venceu a Taça 2 Litros, sublinhando a sua competitividade.
Tal como há 28 anos, o Clio Williams continua hoje a fazer voltar cabeças, não só devido ao tom azul tão característico da sua carroçaria e dourado das jantes mas, principalmente, pelo ‘troar’ rouco do motor que faz as delícias de quem conduz.