Considerando que o exercício da profissão ocupa uma grande parte do tempo de qualquer pessoa adulta, é fundamental seguir boas práticas diárias que ajudem a promover a saúde mental no trabalho.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), até final de 2020 a depressão será a doença mais incapacitante em todo o mundo. Uma previsão divulgada ainda antes da pandemia.
Com a crise, a vários níveis, imposta pela COVID-19, a realidade foi mostrando números ainda muito preocupantes no que respeita à depressão e a outras perturbações mentais e comportamentais. A saúde mental no trabalho assume uma especial relevância na atualidade, não só por comprometer o bem-estar da pessoa, como a sua estabilidade profissional e, consequentemente, financeira.
Ansiedade, stress, Síndrome de Burnout são, a par da depressão, doenças que têm vindo a ganhar terreno entre a população portuguesa, e não só. O esgotamento dos profissionais de saúde, o medo e as dificuldades geradas pelas mudanças e desafios impostos pelo coronavirus, como o teletrabalho e o distanciamento social, têm contribuído para um cenário deveras preocupante.
No limite, a doença mental pode conduzir ao suicídio. A gravidade e a importância desta questão é incontornável. Um problema de saúde pública explicado, em detalhe, no Relatório Mundial da Saúde “Saúde mental: nova concepção, nova esperança”, em 2002.
Saiba o que deve ter em conta.
saude mental e trabalho: uma (muito) estreita relação
O trabalho e a saúde mental
O trabalho está na base da concretização profissional e independência económica, mas também é fonte de frustração, stress, ansiedade, precariedade, cansaço, o que, por sua vez, pode levar ao desequilíbrio emocional, à exaustão, à doença.
Todos os anos, os números mostram uma percentagem relevante de baixas médicas relacionadas com saúde mental. A ausência do trabalhador é um fator negativo para o próprio e para a entidade empregadora.
Para ser produtivo e alcançar os melhores resultados é fundamental que se sinta motivado, e para isso tem de se sentir bem no seu local de trabalho.
Quando fatores negativos se conjugam com a obrigatoriedade/necessidade de levar um salário para casa do final do mês, ainda que, nalguns casos, sob pressão, ameaça, assédio ou humilhação, a saúde mental é colocada em risco.
Há, ainda, algumas profissões mais suscetíveis, em especial aquelas cujo exercício decorre em estreita relação com outras pessoas. Falamos, nomeadamente, de profissionais de saúde, professores ou assistentes sociais, entre outros. A empatia assume aqui um papel determinante.
Síndrome de Burnout: um dos problemas mais comuns
Ao contrário das demais síndromes, a de Burnout é exclusivamente ligada ao trabalho. O crescimento no número de casos levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a incluir, em 2019, a síndrome na Classificação Internacional de Doenças (CID).
Segundo essa classificação,
“Burnout é uma síndrome resultante do stress crónico no local de trabalho que não foi gerido com sucesso”.
Entre os sintomas contam-se: sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia; aumento do distanciamento mental do próprio trabalho ou sentimentos negativos ou cinismo em relação ao próprio trabalho; quebra significativa de produtividade.
Ainda que o problema seja grave, a realidade mostra que a maioria dos profissionais que sofrem desta síndrome continuam a trabalhar por receio de ficar sem emprego.
Este é um problema há muito na ordem do dia, sobretudo entre profissionais da saúde e do ensino em Portugal.
Os efeitos da pandemia
As alterações impostas pela pandemia de COVID-19, refletiram-se na saúde mental de muitos portugueses, e pelo mundo. Não só o medo e ansiedade inevitavelmente inerentes à situação influenciam, mas também o isolamento do confinamento, o peso das mil e uma tarefas, novidades e responsabilidades, do teletrabalho à telescola, o receio em relação ao futuro, sobretudo para profissionais de áreas mais vulneráveis e que experienciaram o layoff.
A adaptação forçada, em muitos casos difícil a novos hábitos, práticas e ferramentas de trabalho, os cortes no orçamento familiar, a ameaça do desemprego e uma imprevisibilidade generalizada. Um mix de ingredientes que provocam desequilíbrios emocionais muito relevantes.
A par disso, as limitações colocadas ao próprio apoio da parte dos médicos de família, com consultas via telefone, assim como a recusa em procurar a espaços de saúde de um modo geral, por medo de infeção, vêm dificultar a solução.
Qualquer situação terá sempre tendência a piorar sem tratamento adequado.
A ajuda não passa apenas pela toma de medicamentos, mas pelo apoio psicológico, disponível através do serviço de aconselhamento psicológico linha telefónica do SNS 24.
hábitos que ajudam a manter a saúde mental no trabalho
Há algum tempo que algumas empresas têm apostado no bem-estar dos seus trabalhadores, promovendo, por exemplo, a flexibilidade de horário, a rotatividade de funções, espaços e hábitos de meditação e relaxamento.
Se para uns isso acontecia já antes da pandemia, atualmente este tipo de práticas têm vindo a ganhar adeptos. Porém, é uma realidade que está longe de estar ao alcance de todos, até porque muitos continuam a trabalhar a partir de casa onde o contacto social, a gestão de tempo e do espaço nem sempre são os desejaveis.
Seja qual for a realidade e a dimensão do desafio, é muito importante implementar hábitos que ajudem a criar um ambiente mais saudável e também mais produtivo, de modo a promover a saúde mental no trabalho.
Para o isso, é necessário:
- Conhecer as suas capacidades e limites;
- Planear diariamente as tarefas a cumprir;
- Definir prioridades;
- Praticar exercício físico;
- Deleguar mais. Se trabalha em equipa, não coloque todas as responsabilidades nos próprios ombros;
- Aprender a dizer “não” para evitar a sobrecarga;
- Um volume excecional de trabalho pode acontecer, mas excecionalmente, nuca por regra;
- Se precisar de fazer um esforço extra, compense dormindo e comendo bem, sem descurar a hidratação;
- Promover uma rotina de sono que lhe permita descansar e recuperar forças. Dormir é fundamental.
- Fazer pausas e/ou mudar de tarefa sempre que se sentir frustrado ou aborrecido;
- Respeitar o horário de trabalho e de descanso;
- Socializar. Mesmo que em regime de teletrabalho, mantenha o contacto via telefone, chat ou videoconferência;
- Escolher um hobbie ou uma atividade de que realmente goste e dedique-lhe algum tempo todos os dias;
- Praticar exercícios de respiração para se acalmar, meditação ou ioga;
- Perante sinais ou sintomas de perturbação emocional, procurar ajuda médica.
Bem-estar emocional: um trunfo na carreira
Não adianta cumprir todos os prazos, atender todos os pedidos, se isso o levar à exaustão e deixar doente. Além de mudanças vindas de cima, é importante que o trabalhador entenda e respeite os seus próprios limites, e também os dos colegas. Os cuidados com o bem-estar no trabalho podem começar no seio da equipa.
Encarada a gravidade do problema e as dicas diárias que podem ajudar a manter o equilíbrio físico e psicológico é importante que as empresas disponibilizem ações, presenciais e a distância, para evitar que qualquer distúrbio atinja os seus colaboradores, assim como implementando estratégias e meios que permitam minimizar os mesmos.
Mais do que nunca é fundamental promover a saúde mental no trabalho.