Muito se tem falado em alguns medicamentos quase milagrosos no combate à obesidade. O mais conhecido será mesmo o Ozempic, um fármaco inicialmente destinado ao combate da diabetes, mas que rapidamente ganhou fama graças às suas propriedades na luta contra o excesso de peso.
O que está aqui em causa é um princípio ativo chamado semaglutido, um medicamento originalmente desenvolvido como tratamento para a diabetes, mas que se revelou extremamente eficaz na perda de peso, levando a uma crescente procura em todo o mundo, incluindo em Portugal.
No entanto, a popularidade deste medicamento trouxe consigo novos desafios, especialmente para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que enfrenta dificuldades em responder à elevada procura e aos elevados custos associados.
Para além de haver relatos de ruturas de stock, os custos imputados à saúde pública estão já na casa das dezenas de milhões de euros. Mas afinal, o que é este princípio ativo?
O que é o semaglutido?
O semaglutido é um análogo do GLP-1 (glucagon-like peptide-1), uma hormona naturalmente produzida no intestino que desempenha um papel fundamental na regulação dos níveis de açúcar no sangue e na sensação de saciedade.
Ao atuar como uma versão sintética desta hormona, o semaglutido ajuda a controlar a glicose no sangue, estimulando a produção de insulina e suprimindo a libertação de glucagon (uma hormona que aumenta os níveis de glicose no sangue). Além disso, reduz significativamente o apetite, o que tem demonstrado ser uma vantagem no combate à obesidade.
Originalmente aprovado para o tratamento da diabetes tipo 2, o semaglutido foi posteriormente estudado como uma opção terapêutica para a obesidade, após ensaios clínicos mostrarem que os pacientes tratados com o medicamento perdiam uma quantidade substancial de peso.
O impacto foi tão significativo que o semaglutido se tornou um dos medicamentos mais procurados por quem luta contra o excesso de peso.
Recomendações terapêuticas
Atualmente, o semaglutido é recomendado para o tratamento da obesidade em pacientes com um índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30, ou em pacientes com um IMC igual ou superior a 27, que também apresentem condições associadas ao excesso de peso, como hipertensão ou diabetes tipo 2.
O fármaco é administrado através de injeção subcutânea, geralmente uma vez por semana, e tem mostrado resultados impressionantes, com muitos pacientes a perderem até 15% do seu peso corporal após um ano de tratamento.
No entanto, é importante destacar que o semaglutido deve ser utilizado como parte de uma abordagem terapêutica global que inclua mudanças no estilo de vida, como uma dieta equilibrada e prática regular de exercício físico. O tratamento com o medicamento não é uma solução mágica.
Sucesso no combate à obesidade
O sucesso do semaglutido no combate à obesidade tem sido notável, com muitos especialistas a considerarem o medicamento como um “game changer” na luta contra o excesso de peso.
Em ensaios clínicos, o fármaco demonstrou ser significativamente mais eficaz do que outros tratamentos disponíveis, como a orlistat ou a liraglutida, tornando-se numa opção preferida para muitos médicos e pacientes.
Este sucesso tem-se refletido na enorme procura pelo medicamento em vários países, incluindo Portugal. Contudo, a crescente popularidade do semaglutido também trouxe consigo novos desafios para os sistemas de saúde.
Desafios para o SNS: procura e custos elevados
O SNS tem enfrentado dificuldades em acompanhar a crescente procura pelo semaglutido, principalmente no que diz respeito à disponibilidade do medicamento e aos elevados custos associados.
Devido ao seu elevado preço, o semaglutido não está acessível a todos os pacientes que dele necessitam, e muitos encontram-se em longas listas de espera para o tratamento. Além disso, o aumento exponencial da procura tem levado a uma escassez do medicamento em várias farmácias, complicando ainda mais o acesso dos pacientes.
Outro grande obstáculo para o SNS é o custo elevado deste medicamento. O semaglutido não é barato, e os custos associados ao seu fornecimento estão a sobrecarregar os orçamentos de saúde pública.
Os preços praticados pelos laboratórios são elevados, e, embora o medicamento esteja comparticipado pelo SNS para alguns grupos de doentes, o encargo financeiro é significativo.
Em Portugal, como em muitos outros países, há um esforço contínuo para equilibrar a disponibilidade do semaglutido com a necessidade de contenção de despesas no sistema público de saúde. No entanto, a combinação de uma procura crescente, a escassez temporária do medicamento e os altos custos têm tornado esta tarefa particularmente difícil.
À medida que a procura continua a crescer, será necessário encontrar soluções que garantam o acesso equitativo a este tratamento inovador, sem comprometer a sustentabilidade financeira dos serviços de saúde.