Quão especial pode ser um automóvel de quatro portas, com apenas 3,8 metros de comprimento, motor traseiro com 944cc e potência a partir de 50 cv? À primeira vista nada. Mas, se a isto acrescentarmos a carroçaria de linhas retas, o peso distribuído equitativamente entre os dois eixos e o facto de ser económico e ágil, todos estes ingredientes formaram a receita de sucesso que foi o Simca 1000.
Durante os seus áureos anos de carreira, lutou ombro a ombro com concorrentes como Citroën Ami, Renault Dauphine, Morris 1100, Peugeot 204, Fiat 850, Volkswagen Carocha, Ford Anglia, Hilman Imp ou o também bem conhecido Opel Kadett.
Concorrentes de peso e, à partida, com muitos mais argumentos que o Simca 1000.
Recordemos então o saudoso Simca 1000, produzido pela Société Industrielle Mécanique et Carrosserie Automobile (Simca), apresentado à imprensa em Outubro de 1961 no autódromo de Montlherey e, divulgado publicamente, no mesmo mês, no Salão de Paris.
Simca 1000: 15km com 1 litro de gasolina
Com a balança a acusar apenas 730 kg de peso, o Simca 1000 acomodava até quatro passageiros com conforto. A bagageira, colocada na frente, recebia a roda sobressalente e deixava algum espaço para bagagens. Pouco.
O motor, que debitava 50 cv, estava acoplado a caixa manual de quatro velocidades e a velocidade máxima anunciada era de 125 km/h. A marca francesa disponibilizava, além do modelo base do popular Simca, as versões GL e GLS, estas com um pouco mais de potência 52 cv que esticava a velocidade máxima até aos 134 km/h.
Com um tanque capaz de armazenar 36 litros de combustível e alimentado por carburador Solex, o pequeno motor do Simca 1000 conseguia percorrer 15 km com um litro de gasolina (6,5L/100km), um valor sonante para a época. A autonomia deste ágil automóvel cifrava-se nos 540km, algo também impressionante para um familiar compacto nos anos 60.
Conforto num habitáculo espartano
A pequena berlina com três volumes caraterizava-se por ter um estilo informal. Isto é, era muito equilibrado nas proporções com espaço suficiente para acomodar quatro passageiros.
Na frente, dois faróis redondos unidos, por uma grelha cromada (falsa) que recebia as luzes de mudança de direção, inovava no estilo. Já na traseira, destacavam-se as grelhas para refrigeração e os farolins, à semelhança dos faróis na frente, eram redondos.
O habitáculo, espartano, disponibilizava dois bancos individuais à frente e corrido atrás, enquanto o painel de instrumentos, simples, integrava conjunto de mostradores horizontais. A visibilidade para o exterior era muito boa devido à ampla área vidrada.
Simca 1000 conquistou público com facilidade
Na cidade, o Simca 1000, devido à sua agilidade, desenvencilhava-se bem. E na estrada, lutava ombro a ombro com a concorrência conquistando público, muito devido à economia de utilização e, também, pelo conforto que proporcionava em andamento.
No ano seguinte ao lançamento, 1962, o Simca 1000 vendeu 160 mil exemplares. Neste ano chegou o que seria o seu grande rival, o Renault 8, que tinha por objetivo conquistar o mercado francês e europeu.
Em 1963 acontece uma mudança na marca francesa. 64% da Simca passa a ser controlada pela Chrysler, que também detinha parte do grupo Rootes, em Inglaterra. Dois anos depois, o Simca “dominava” os Estados Unidos da América, e recebia um “facelift”.
Esta mudança incluiu a substituição da tradicional grelha (falsa) por uma mais pequena, novo pára-choques e frisos cromados embelezavam os perfis laterais do automóvel.
A evolução do mercado era muito positiva. De tal forma que a Simca atingia, em 1970, o milhão de unidades vendidas e, para reforçar a sua presença junto do público, oferecia em todos os modelos dois anos de garantia ou 60 mil quilómetros.
Versões Rallye apaixonaram amantes da competição
A assinalar os 10 anos do modelo, em 1971, importante ação de marketing da marca francesa projeta ainda mais o bem sucedido modelo, com o lançamento do Simca 1000 Rallye.
Esta versão que se distinguia dos demais da família francesa por possuir capot frontal e jantes em cor preto fosco, faróis auxiliares de longo alcance (muito em voga na época), bancos redesenhados com formato de concha, cintos de segurança de três pontos, volante de três raios com diâmetro mais pequeno e completa instrumentação que incluía conta-rotações, velocímetros e termómetro de óleo, rapidamente conquista novos adeptos. O motor mais potente 1.294 cc debitava 60cv e atingia velocidade máxima de 155 km/h.
O sucesso do Simca 1000 Rallye foi de tal ordem que a marca empenhou-se em produzir o Simca Rallye 2 (apresentado em 1972, no Salão de Paris). O modelo reivindicava uma potência de 82cv e 170 km/h de velocidade máxima.
Estava equipado com suspensão independente nas quatro rodas, facto que melhorou muito o comportamento. Para parar o conjunto recebia travões de disco nas quatro rodas.
Com motor mais enérgico e potente, o consumo aumentou exponencialmente. Por isso, a marca instalou novo tanque de gasolina com 50 litros de capacidade.
Depois do Simca Rallye 2, o Simca Rallye 3
No dealbar de 1977, chegava o Simca Rallye 3 que anunciava qualquer coisa como 103cv e uma velocidade máxima de 178 km/h.
O Simca Rallye 3 cuja produção atingiu os 1000 exemplares para homologação no Grupo 1 da FIA, tinha carroçaria com peças em fibra de vidro a prolongarem os para-lamas, mais largos que nos modelos normais, spoiler dianteiro e aerofólio na traseira.
Na seção frontal uma falsa grelha em cor preta e faróis quadrados definiam o estilo desta versão desportiva. A agressividade dos modelos levou a que os mesmos brilhassem nas provas desportivas regionais, para automóveis de baixa cilindrada.
Por sair de fábrica com dotação de equipamento muito razoável, não necessitava de grande investimento por parte dos pilotos. Por isso era muito popular entre os jovens que queriam fazer carreira nos ralis.
Ao todo foram 18 anos de sucesso que culminaram em 1978 com o encerrar da produção de todos os modelos Simca, e a Chrysler a terminar a atividade na Europa com entrega da fábrica de Poissy ao Grupo PSA.
O modelo fica na história do automóvel como tendo marcado uma geração devido à sua simplicidade, mas também, pela apetência que despertou em muitos aficionados do desporto automóvel.
Por estes motivos é difícil esquecer o Simca 1000, ainda mais quando o modelo foi eternizado numa divertida e popular música espanhola dos “Los Inhumanos”.