Recentemente, a síndrome de Stendhal foi muito falada, por via de uma celebridade portuguesa (o ator Ângelo Rodrigues) ter declarado padecer deste mal. Este distúrbio é, ainda assim, bastante incomum, embora já tenha sido falado há mais de dois séculos.
Se para a maioria das pessoas, visitar museus ou edifícios com obras de arte é um momento prazeiroso, para quem sofre de síndrome de Stendhal, essa pode ser uma experiência complexa, com consequências negativas.
Caso sinta tonturas, vertigens ou alucinações quando vai a galerias de arte ou contacta com obras artísticas, então talvez possa sofrer desta síndrome. Perceba melhor em que é que ela consiste e quais as suas caraterísticas principais.
Síndrome de Stendhal: a síndrome de quem desmaia perante arte
A síndrome de Stendhal, hiperculturemia ou síndrome de Florença, é um distúrbio psicossomático raro que se caracteriza pela aceleração do ritmo cardíaco, tonturas, desmaios, confusão mental e até alucinações, sempre que o indivíduo contacta com obras de arte, especialmente se situadas em locais fechados.
Esta perturbação é mais frequente em jovens; solteiros; e turistas europeus solitários, com elevado nível cultural e grande sensibilidade estética. Uma das causas pode estar relacionada com o stress que advém de visitar uma cidade e querer ver todos os seus museus, galerias de arte e marcos históricos.
Origem
Esta síndrome foi descrita pela primeira vez (no século XIX), precisamente pelo escritor francês Stendhal. Porém, só em 1979 foi descrita cientificamente, pela psiquiatra italiana Graziella Magherini. Apesar disso esta síndrome não faz parte das doenças listadas e cadastradas pela American Psychiatric Association DSM – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders.
A propósito desta síndrome, a psicanalista afirmou: “deve-se ao fato de que a história dessas emoções assume um valor simbólico, extensível a uma analogia gigante em diferentes contextos e tempos em que, no entanto, o elemento é a presença do sujeito em um lugar de arte”.
Stendhal ficou sensibilizado pelos frescos de Giotto di Bondone (1276-1337) e pelos túmulos de Michelangelo Buonarrotti (1475-1564), Niccolò Machiavelli (1469-1527), Galileu Galilei (1564-1642), entre outros.
No seu livro “Roma, Nápoles e Florença”, de 1817, Stendhal escreveu:
“Eu caí numa espécie de êxtase ao pensar na ideia de estar em Florença, próximo aos grandes homens cujos túmulos eu tinha visto. Absorto na contemplação da beleza sublime… Cheguei ao ponto em que uma pessoa enfrenta sensações celestiais… Tudo falava tão vividamente à minha alma… Ah, se eu tão-somente pudesse esquecer. Eu senti palpitações no coração, o que em Berlim chamam de ‘nervos’. A vida foi sugada de mim. Eu caminhava com medo de cair.”
Sintomas
Os sinais caraterísticas deste dirtúrbio são:
- Vertigem;
- Desmaios;
- Alucinações e alterações da perceção;
- Desequilíbrio afetivo;
- Depressão;
- Angústia ou ataques de pânico.
No geral, esta é uma situação sem graves consequências e de recuperação rápida. Nestes casos, recomenda-se repouso, afastamento de locais com muita cultura e arte, proximidade a algo familiar, uso de fármacos leves.
Curiosidade
A síndrome de Stendhal até já serviu de mote a um filme de terror, produzido em 1996 pelo realizador italiano Dario Argento. “La Sindrome di Stendhal” contava a história de um serial killer que sequestrava uma mulher no momento em que ela era, precisamente, acometida pelo síndrome, quando visita um museu em Florença.
Conclusão
Como ficou patente, esta é uma síndrome bastante rara e que não traz consequências muito graves para a saúde. Porém, se a esta síndrome se juntarem outras psicoses mais complexas, os sintomas e a recuperação podem ser mais desafiantes e carecer de um acompanhamento médico mais intensivo.