Existe uma doença neurológica que provoca atos impulsivos, repetitivos e frequentes, afetando a vida de quem é diagnosticado e, também, da família próxima – devido às situações embaraçosas. Chama-se Síndrome de Tourette e, normalmente, surge entre os 7 e os 11 anos com sintomas simples que o sistema nervoso envia: piscar os olhos repetidamente, não controlar impulsos de movimentos de braços ou mãos, repetição de palavras generalistas, gritos ou palavrões e, até, de de sons como grunhir ou ladrar.
Algumas pessoas afetadas pela doença podem ser capazes de suprimir uma parte dos ‘tiques’, embora com dificuldade, enquanto outras têm enorme dificuldade em controlar-se. Estas situações são particularmente desencadeadas em momentos de stress emocional, pelo que a estabilidade do paciente deve ser tido em extrema consideração.
Como os sintomas da Síndrome de Tourette são embaraçosos, as situações de descontrolo afetam a vida pessoal e escolar/profissional do paciente. Uma das consequências mais relatadas é o isolamento social, provocando um intenso sofrimento para o doente e para a sua família.
O transtorno de Tourette afeta três vezes mais os homens e estima-se que 1% da população sofra do problema.
Síndrome de Tourette: sinais e tratamento
Como identificar a Síndrome de Tourette?
Geralmente, os sintomas da Síndrome de Tourette são primeiramente observados pelos professores que acompanham a criança, que reparam no comportamento estranho dentro de sala de aula. Entre os sinais de alerta estão sinais nervosos e vocais.
Sinais nervosos:
- piscar os olhos repetidamente;
- inclinar a cabeça várias vezes;
- encolher os ombros aleatoriamente;
- tocar no nariz com frequência;
- fazer caretas;
- movimentar constantemente os dedos das mãos;
- repetir gestos obscenos;
- dar chutos;
- abanar o pescoço;
- bater no peito repetidamente.
Sinais vocais:
- Insultos aleatórios;
- soluços frequentes;
- gritar sem razão aparente;
- cuspir;
- gemer;
- cacarejar;
- uivar;
- limpar a garganta constantemente;
- frequentemente, repetir frases ou palavras sem sentido;
- fazer uso de diferentes tons de voz.
Os sintomas relatados surgem em repetição e são muito difíceis de controlar, podendo até acontecer durante o sono do doente. A doença tende a evoluir e pior em estados de stress e ansiedade. Em regras gerais, os sinais surgem na infância, mas há casos em que aparecem até aos 18 anos.
Diagnóstico
Este não é um diagnóstico fácil de realizar e, para chegar a uma conclusão, o médico deve observar o padrão das repetições diariamente durante um ano ou mais. Não há exames específicos para identificar o problema, mas um neurologista poderá pedir uma ressonância magnética ou uma tomografia para verificar a existência de alguma outra doença a descartar.
Tratamento
Todo o tratamento para a Síndrome de Tourette deverá ser orientado por um médico especialista, um neurologista. Normalmente, o tratamento só tem início quando os sintomas da doença passam a afetar gravemente as atividades do dia a dia ou colocam em perigo a vida e a saúde do paciente.
O tratamento da Síndrome de Tourette pode ser feito através das seguintes medidas:
- medicamentos neurolépticos, que atuam para bloquear os neurotransmissores no cérebro que são responsáveis pelos reflexos nervosos, como Pimozida ou Haloperidol;
- antidepressivos, como a Fluoxetina, também podem ser prescritos para reduzir os sintomas emocionais, como a ansiedade e a tristeza – que agravam os sintomas da doença;
- as injeções de botox são muito utilizadas para paralisar músculos locais responsáveis por ‘tiques’ específicos;
- medicamentos inibidores adrenérgicos, como Guanfacina ou Clonidina, ajudam no controlo dos sintomas comportamentais, como é o caso dos ataques de raiva e a impulsividade;
É importante lembrar que estes tratamentos medicamentosos não tratam todos os sintomas da Síndrome de Tourette, sendo muitas vezes necessária a intervenção de um médico psiquiatra ou psicólogo – que vão atuar em sessões de terapia comportamental ou psicoterapia, de forma a treinar estratégias de controlo com o paciente.
É de salientar que, em muitos casos, é normal que os sinais da doença desapareçam durante o sono ou quando o doente está sob o efeito de bebidas alcoólicas. Também é comum que, em momentos de extrema concentração, os sintomas aliviem ou parem por completo – como durante uma atividade física ou um jogo de tabuleiro, por exemplo. Por outro lado, o cansaço e os fatores de stress e excitação agravam o problema.
Há cura para o Síndrome de Tourette?
Não, não há cura para a Síndrome de Tourette verdadeira e corretamente diagnosticada – mas, como já vimos, há tratamentos indicados para aliviar os sintomas e oferecer maior qualidade de vida ao paciente -, no entanto existe um tipo desta doença, chamado de Síndrome de Tourette Histérica, que desaparece com o tempo e o paciente fica completamente curado.
Causas da Síndrome de Tourette
Sendo uma doença genética frequente em pessoas de uma mesma família, esta é uma doença cujas causas ainda são desconhecidas. Sabe-se que é frequente, também, que as pessoas afetadas sofram mais com quadros de infecção, doenças cardíacas, transtorno obsessivo compulsivo e hiperatividade.
Há relatos científicos de pessoas que desenvolveram a Síndrome de Tourette depois de sofrerem um traumatismo craniano, mas não se sabe qual é a causa específica.
A Síndrome de Tourette afeta a capacidade cognitiva?
Não. A Síndrome de Tourette não afeta as capacidades cognitivas da pessoa diagnosticada – as crianças, por exemplo, não necessitam de interromper os estudos ou de frequentar o ensino especial.
Os mais novos, aliás, não devem mesmo deixar de frequentar a escola. Deve-se, no entanto, conversar com educadores e professores, coordenadores e direção escolar sobre a condição diagnosticada, para que a equipa esteja ciente do problema de saúde e possa colaborar da melhor forma para o desenvolvimento do aluno.
Os pais devem manter os profissionais, bem como os colegas e pais dos colegas informados sobre a Síndrome de Tourette, bem como sobre os seus sintomas e tratamentos, para que a criança portadora da doença seja melhor compreendida. Isso vai contribuir para evitar o isolamento social e, consequentemente, os quadros de stress e depressão que agravam o problema.
A medicação pode ser especialmente adequada para controlar os sintomas da criança em idade escolar, pois vai atuar no controlo dos “tiques” e evitar o sentimento de inadequação e culpa – inerentes aos mais novos, que ainda não compreendem o seu problema de saúde.