Miguel Pinto
Miguel Pinto
16 Dez, 2024 - 13:30

Soajo: os espigueiros que contam histórias sobre o Gerês

Miguel Pinto

O Soajo é conhecido pelos seus espigueiros de granito. Mas há muito mais a ver nesta aldeia que tem o Gerês como horizonte.

Espigueiros na aldeia de Soajo

Ali para os lados da serra onde o Gerês se começa a espraiar numa explosão de verde, lagos e repuxos de água, esconde-se o Soajo. Não é um segredo, nem tão pouco um lugar perdido.

É apenas uma aldeia que ainda pertence ao concelho de Arcos de Valdevez e que começa a entrar com cada vez maior frequência nos roteiros de passeios do único parque nacional português, o Peneda-Gerês.

A importância e resiliência da aldeia do Soajo, tão dura como o granito que lhe segura as construções, remonta ao século XVI, altura em que era sede de concelho, estatuto que manteve até meados do século XIX.

Mas a sua história é bem mais antiga, como provam a inúmeras antas e mamoas espalhadas pela zona e, de forma mais eloquente, pelo Santuário Rupestre do Gião.

Soajo: comunidade em torno do granito

Quem entra no Soajo tem a perfeita noção de que recuou no tempo. O granito é omnipresente enquanto se caminha pelas ruas estreitas, onde se sente o espírito comunitário que desde tempos coevos dominou a vida social da aldeia.

A Casa da Câmara, a Casa do Enes, o moinho em ruínas, a Igreja Paroquial de São Martinho do Soajo ou o original pelourinho, são atrações num raio relativamente pequeno e que permitem ler a aldeia, a sua história e até perceber o seu presente.

E o presente é, claramente, a aposta no turismo, com inúmeras casas de turismo rural a surgirem na região, potenciadas pela presença no interior do Gerês.

Cada vez mais pessoas entram no parque pela porta mais próxima do Soajo, aproveitando assim para uma visita à que começa a ser conhecida como a terra dos espigueiros (já lá vamos).

Para além da aldeia propriamente dita, toda a envolvente oferece atrativos que não pode falhar numa escapadinha até à região.

As sugestões que apresentamos são apenas uma parte daquilo que pode fazer e ver por aquelas bandas, na certeza porém de que qualquer que seja a escolha, será sempre uma viagem que dificilmente será esquecida.

Espigueiros

Em cima de de uma enorme laje granítica, o Eido do Penedo, estão os conhecidos espigueiros do Soajo (24 ao todo), reflexo da tal vida comunitária de que já falamos, sendo que o mais antigo data de 1782.

Têm sempre uma cruz no alto, a solicitar protecção divina para as colheitas arduamente plantadas, e dominam parte substancial da paisagem. Há vários aglomerados de espigueiros ali à volta, sendo que o maior é o de Lindoso (com cerca de 60), a 15 minutos de distância.

Espigueiros do Soajo
Os espigueiros são testemunho da vivência comunitária da aldeia

Pelourinho do Soajo

Ali mesmo no centro do Largo do Eiró encontra-se o original pelourinho do Soajo. Não se sabe ao certo em que ano foi construído, muito embora se aponte o século XVI como a data mais provável.

Trata-se de um simples esteio ao alto com uma decoração única de uma carranca sorridente, encimada por uma laje triangular, a fazer lembrar o chapéu de três bicos que os estudantes universitários do Minho utilizam no seu traje académico.

A tradição local associa esta representação como sendo um pão a esfriar na ponta de uma lança. Não obstante as teorias, merece uma visita.

Poço Negro

O Poço Negro é uma das lagoas menos conhecidas do Gerês, mas também é uma das mais profundas. Chega a atingir os cinco metros. Qualquer altura do ano é boa para visitar este local.

Nos meses de inverno, a força das chuvas leva ao aumento do caudal das águas, criando uma cascata imparável por entre os imponentes penedos tão característicos do Gerês.

No verão, é ideal para um banho refrescante. Saindo do Soajo, o Poço Negro fica da direção de Paradela ou Cunha.

Oficina da Moura

O turismo já é uma parte importante da economia local, daí que vão surgindo alguns negócios dirigidos não só a aproveitar este fluxo de visitantes, mas também para preservar as tradições locais.

A Oficina da Moura é um dos espaços onde pode admirar, e adquirir, alguns artefactos de cerâmica cheios de vida e histórias. Por entre mouras encantadas, serpentes, lobos, urzes e azevinhos, nascem peças únicas que o vão encantar.

Lindoso

Aldeia de Lindoso
Vista da aldeia de Lindoso e o seu imponente castelo

Entre as serras do Soajo e a Amarela, está a Barragem do Alto Lindoso, em pleno rio Lima. É o maior e mais potente produtor hidroelétrico do país e uma das construções mais altas alguma vez feitas em Portugal.

E ali ao lado está a aldeia com mesmo nome e que também é de visita obrigatória para quem passa na região. Para além do já citado conjunto de espigueiros, há o fantástico Castelo de Lindoso, o castro de Cidadelhe e, claro está, mais e mais Gerês.

O trilho dos Moinhos de Parada, um percurso pedestre com sete quilómetros, vale mesmo a pena.

Soajo, porta de entrada no Gerês através do Mezio

Uma das cinco portas de entrada no Gerês, a do Mezio, fica no concelho de Arcos de Valdevez e muito perto do Soajo. O território onde se insere é Reserva Mundial da Biosfera e permite momentos de grande descontração com amigos ou em família em qualquer altura do ano.

Particularmente encantadora é a caminhada de cerca de dois quilómetros desde o Mezio até Branda de Mosqueiros e miradouro e que permite admirar uma vasta diversidade de espécies vegetais e vários monumentos pré-históricos, como as antas e as mamoas.

Este passeio, que começa junto ao Centro de Interpretação do Mezio, demora cerca de um hora e é não apresenta especial dificuldades podendo ser feito por qualquer pessoa.

Como ir

É muito simples chegar. A partir do Porto, apanhe a A3 até Braga e a partir da cidade dos arcebispos apanhe a Nacional 101 até Ponte da Barca, seguida da Nacional 203 até Paradamonte.

Finalmente é só tomar a M530 até ao Soajo. Para quem vai a partir de Viana do Castelo, deve tomar a A27 e o IC28 até Ponte da Barca. Depois, o trajecto é igual.

O que comer

Ora bem, estamos no coração do Minho. O que quer dizer que a probabilidade de entrar numa tasca ao calhas e comer de forma divinal é muito elevada.

Mas por ali podemos recomendar o cabrito à moda do Soajo, o fantástico arroz de cabidela, os charutos de ovos moles e o afamado pão de ló da aldeia. Tudo regado com o tradicional vinho verde da região.

Onde ficar

Os melhores espaços para ficar no Soajo são as diferentes casas de turismo que foram aparecendo na região.

A escolha é vasta e abrange quase todas as carteiras. A Casa do Adro, a Casa Rautau, as Casas do Cavaleiro Eira, a Casinha da Raposeira, a Casa de Bairros, a Casa do Grilo Soajo ou a Casa das Videiras são algumas das hipóteses. A garantia é de que fica sempre bem dentro do maravilhoso reino do Gerês.

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