Share the post "Stress pós-traumático: uma ferida profunda que custa a resolver"
O stress pós-traumático é uma perturbação psicológica grave que pode surgir na sequência da exposição a um evento causador de uma ansiedade e pânico extremos, como é o caso da vivência de uma guerra, de uma situação de violência ou de um acidente. Cerca de 1,1% da população europeia sofre deste problema.
Estes eventos nem sempre provocam stress pós-traumático. Tudo depende da forma como o indivíduo é ou não capaz de gerir as suas emoções. Quando há lugar ao trauma, as pessoas sentem, frequentemente, rejeição e medo e guardam memórias dolorosas dessas experiências traumáticas. Este problema pode condicionar seriamente a vida do indivíduo, limitando as suas opções e os seus movimentos diários. Saiba mais.
Stress pós-traumático: sintomas, causas e tratamento
O stress pós-traumático pode definir-se, assim, como uma reação intensa, prolongada e retardada a um evento de curta ou de longa duração, que provoca a perturbação do funcionamento pessoal e social do indivíduo.
Fatores de risco
Há alguns fatores de risco que podem potenciar o stress pós-traumático, nomeadamente:
- ser mulher;
- ter pouco apoio social;
- ter QI baixo;
- possuir uma lesão física resultante do trauma;
- ter algumas caraterísticas de personalidade, como ansiedade ou depressão.
Sintomas
Há vários sinais e manifestações que podem caraterizar um caso de stress pós-traumático, nomeadamente:
- Recordar involuntariamente o momento traumático;
- Ter recorrentemente pesadelos;
- Apresentar reações desproporcionais perante coisas que se associem ao eventro traumático;
- Chorar fácil e frequentemente;
- Sentir dificuldade em adormecer ou em não acordar a meio da noite;
- Rejeitar conversas, locais e/ou pessoas que associe ao evento traumático;
- Afastar-se física e emocionalmente de pessoas anteriormente importantes;
- Viver num estado de alerta, medo ou pânico constantes;
- Manifestar irritabilidade, agressividade ou fúria;
- Sentir dificuldade em concentrar-se;
- Sentir instabilidade emocional e mal-estar psicológico;
- Manifestar perda de apetite e/ou distúrbios alimentares;
- Entrar em estados de choque e de desespero;
- Sentir palpitações, suores, aumento da pressão arterial e dificuldade em respirar;
- Abusar de álcool e de drogas;
- Assumir comportamentos auto-lesivos e/ou marginais;
- Apresentar sentimentos de tristeza, vergonha e culpa.
Aproximadamente 80% das pessoas com stress pós-traumático apresentam outra comorbilidade psiquiátrica, como ansiedade, abuso de substâncias, somatização, depressão e/ou dor crónica.
Causas
O stress pós-traumático pode decorrer de uma experiência pessoal negativa, mas também de uma reação a vivências de terceiros. Este problema pode surgir em qualquer idade.
Algumas das situações que podem causar este tipo de stress costumam estar associadas a contextos de morte, de risco ou de ameaça, como acidentes, desastres naturais, crimes, doenças, internamento hospitalar, guerra ou abusos/maus tratos físicos e sexuais.
Nos homens, o stress pós-traumático costuma estar mais associado a eventos violentos, como combates ou acidentes de trabalho, enquanto nas mulheres este problema costuma decorrer de situações de abuso físico e de violência sexual. Há mesmo alguns estudos que demonstram que 50% das mulheres europeias vítimas de violência física ou abuso sexual desenvolvem estes quadros de stress.
Diagnóstico e tratamento
Para proceder ao diagnóstico do stress pós-traumático, é necessário que os sintomas se manifestem há mais de um mês e causem sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou pessoal do indivíduo.
O stress pós-traumático tem tratamento, o qual pode dividir-se entre a intervenção psicoterapêutica (terapia cognitivo-comportamental) e a toma de psicofármacos que aliviam os sintomas de ansiedade e de depressão, como ansiolíticos ou anti-depressivos, respetivamente.
Aproximadamente 50% dos casos de stress pós-traumático recupera ao fim de um ano de tratamento, enquanto 1/3 dos doentes mantém a perturbação durante vários anos.
Prevenção
Há algumas medidas que todos podemos adotar de modo a evitar desenvolver situações de stress pós-traumático, nomeadamente:
- Recorrer, sempre que necessário, a aconselhamento psiquiátrico, terapia e medicação;
- Tratar problemas como depressão ou alcoolismo;
- Fortalecer as relações sociais e familiares, de forma a ter mais apoio;
- Tentar substituir os pensamentos negativos por pensamentos positivos;
- Praticar exercício físico regularmente, de maneira a combater a ansiedade.
Stress pós-traumático dos ex-combatentes
Como dissemos, uma das causas para o surgimento do stress pós-traumático pode ser a vivência de um ambiente de guerra.
Neste contexto, há várias circunstâncias que podem conduzir a um quadro severo de stress, nomeadamente a morte de um camarada; a exposição ao combate e ao ferimento de um camarada ou do próprio; o assassinato; a tortura; a violação; a destruição de aldeias; a sede e a fome; o isolamento, entre outras.
Em Portugal, a Guerra Colonial (1961 – 1974), também conhecida como Guerra do Ultramar, contribuiu para quadros de stress pós-traumático em vários ex-combatentes desta guerra. Até aos dias de hoje, ainda muitos dos homens que participaram no conflito mantêm sequelas psicológicas.
Se é o seu caso ou o caso de um familiar ou amigo seu, não hesite em procurar ajuda na Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.