Share the post "Qual o impacto que a subida de juros vai ter na sua carteira?"
O ano de 2022 pode vir a marcar uma mudança no comportamento das taxas de juro. Ou seja, depois de anos em que o valor foi negativo, a subida de juros parece inevitável.
Mas, afinal, que taxas são estas? O que têm a ver com a inflação? E em que medida podem, por exemplo, fazer subir a prestação do seu crédito habitação?
As subidas e descidas dos juros do BCE
As famosas e ultimamente tão faladas taxas de juro do BCE dizem respeito aos juros que o Banco Central cobra para emprestar dinheiro aos bancos comerciais. Como estes bancos vão, depois, financiar particulares e empresas, obter financiamento do BCE a uma taxa alta ou baixa vai fazer toda a diferença.
Mas como é que o BCE decide as taxas a cobrar? Resumidamente, podemos dizer que tem tudo a ver com o contexto em que a decisão é tomada. É que uma das funções do BCE passa por garantir a estabilidade económica (e dos preços, como veremos) na zona Euro.
Num cenário de crise, e em que seja necessário incentivar o crescimento da economia, as taxas tendem a ser baixas. Assim, os bancos concedem mais empréstimos, as empresas têm apoio para ultrapassar eventuais dificuldades e os particulares podem recorrer ao crédito para comprar casa ou outros bens de consumo.
Esta política designada como expansionista tem, justamente, esse objetivo: fazer crescer a economia. É o que tem acontecido desde 2016 e foi também a política seguida para responder à crise provocada pela pandemia.
Então e a Euribor?
Os valores da Euribor não são determinados pelo BCE, mas acabam por refletir a tendência de subida ou descida das taxas de juro do Banco Central.
A Euribor é conhecida por ser a taxa de referência usada nos créditos habitação com taxa variável e que é revista a cada 3, 6 ou 12 meses, consoante o prazo escolhido. O valor da Euribor é o reflexo da taxa de juro que os bancos europeus cobram quando emprestam dinheiro uns aos outros.
Este valor muda diariamente e é obtido através de cálculos que envolvem as taxas de 52 instituições bancárias. Ora, como estes bancos também podem recorrer ao BCE para empréstimos, uma taxa de juro mais baixa leva a que a Euribor também desça.
O que tem acontecido nos últimos anos é que, para dinamizar a economia, têm sido praticadas taxas de juro tão baixas que atingem valores negativos. É por isso que a Euribor atingiu mínimos históricos, chegando a valores menores do que zero. O que é bom para quem está a pagar um empréstimo pela compra da casa, sobretudo se está ainda na fase em que a maior parte da prestação diz respeito a juros.
Subida de juros e inflação: qual é a relação?
O que acontece é que, em 2021, surgiu uma variável que acaba por ter interferência em tudo isto: a inflação aumentou.
A subida deste indicador não é exclusiva da UE e também já levou o Banco de Inglaterra e a Reserva Federal dos Estados Unidos a reagir. Como? Anunciando uma subida dos juros.
E, ao que tudo indica, o BCE pode fazer o mesmo. Sendo a estabilidade dos preços um dos objetivos do Banco Central, a sua missão passa por manter a inflação baixa, estável e previsível, isto é, num valor de 2% a médio prazo.
Ora, esse valor está a ser ultrapassado. De acordo com as estimativas do Eurostat, em janeiro de 2022 a taxa de inflação anual da Zona Euro estaria nos 5,1%. Para Portugal, os cálculos apontam para os 3,4% (mais 0,6% do que no mês anterior). Perante estes dados, o BCE poderá ter de mudar a tal política expansionista e tomar medidas para que o valor desça. O que fará através da subida de juros.
Existindo uma subida nos juros, o consumo diminui, porque o acesso ao crédito fica mais difícil. Menos consumo gera menos procura e, reduzindo a procura, descem os preços e a inflação também.
Sobem os juros, aumenta a prestação
Voltemos, então, à Euribor e à prestação da sua casa. A taxa de juro, que resulta da soma da Euribor com o spread, vai sofrer o impacto desta subida dos juros do BCE.
Os bancos comerciais vão pagar mais para se conseguirem financiar, logo, as taxas de juro terão de subir. A boa notícia é que, ao que tudo indica, esta subida pode ainda demorar algum tempo e vai acontecer de forma gradual.
As taxas de juro de outros créditos terão igualmente tendência para subir. Por isso, e até para evitar surpresas desagradáveis, pode começar a preparar o seu orçamento para esta eventualidade.
Se ainda não comprou casa, e além da opção por uma taxa fixa que possa protegê-lo destas subidas, faça bem as contas aos prazos. No final de janeiro, o Banco de Portugal recomendou que sejam encurtados os prazos de reembolso dos empréstimos.
Subida de juros é boa para os depósitos
A subida dos juros é, por outro lado, um incentivo à poupança. Se, nos últimos anos, os depósitos bancários tinha juros muito baixos e eram pouco apelativos, um aumento na taxa de juro paga pelos bancos aos seus clientes poderá fazer renascer o interesse neste tipo de produto.
Para quem já tem dinheiro no banco, a expectativa é que, com esta subida, possa render um pouco mais.
- Banco de Portugal: Taxas de juro oficiais do BCE
- GEE – Gabinete de Estratégia e Estudos: Estimativa da Inflação para a zona Euro
- Banco Central Europeu: Em que consiste a inflação?