Grande, confortável e seguro são as características principais que tornam os Sport Utility Vehicles (SUV) o modelo predileto dos consumidores. Sempre no topo das vendas nos principais mercados, as indústrias automóveis lucram com este sucesso exponencial.
De acordo com a European Automobile Manufacturers’ Association (ACEA), no mercado europeu os SUV são os mais cobiçados, tendo alcançado quase 50% do volume de vendas, no ano passado.
O legado dos SUV não é de agora, somando já uns bons anos de história, sendo que o pioneiro terá mesmo sido Nissan Qashqai, lançado em 2006.
A partir daí, as principais marcas incluíram nas suas gamas o modelo, criando uma tendência para anos seguintes, seja na versão mais ligeira, os crossovers, ou o modelo de grandes dimensões, os SUV.
A verdade é que esta alternativa entre o ligeiro e o pesado tem levantado muitas questões sobre o impacto no ambiente, a segurança rodoviária e, em especial, a ocupação do espaço urbano nas grandes cidades.
SUV, uma questão de sustentabilidade
A Green New Car Assessment Program (Green NCAP) avançou que o estudo do ciclo de vida dos automóveis aponta para que o aumento do peso dos veículos nos últimos anos corresponda a maiores emissões de gases de efeito de estufa.
Aliás, os impactos negativos dos SUV no ambiente levaram à criação de grupos ambientalistas como os Tyre Extinguishers.
Este grupo anónimo e composto por jovens descentralizados esvazia, de forma discreta, os pneus de diversos SUV e coloca um panfleto no pára-brisas do veículo, alertando que “Não és tu, é o teu carro”.
Muitos até questionam a necessidade deste modelo nas principais áreas urbanas, dado ser “demasiado pesado” para locais que já se encontram sobrelotados.
O significativo consumo de combustível, 20% a mais do que um veículo ligeiro, revela-se umas das razões do ataque aos SUV.
Apesar de tudo, em 2022, as vendas deste modelo subiram cerca de três pontos percentuais, numa época em que a venda de carros desceu 0,5% mundialmente.
Segurança Rodoviária
A European Transport Safety Council (ETSC) afirma que, nos últimos 20 anos, as componentes automóveis evoluíram em benefício crescente do utilizador e em detrimento dos peões. O aumento do peso, da dimensão e da potência dos veículos são características que ameaçam a segurança rodoviária.
A verdade é que os SUV, alegadamente seguros, têm contribuido para a sinistralidade rodoviária na Europa nos últimos anos.
Entre 2000 e 2019 registou-se um decréscimo no número de mortes de condutores, porém as mortes de peões aumentaram cerca de 30%. De notar ainda que dos atropelamentos fatais, entre 2009 e 2016, 81% envolviam o modelo SUV, segundo o Instituto de Seguros para a Segurança Rodoviária (IIHS).
Adicionalmente diversos estudos relacionam o aumento da gravidade e risco de morte com a presença assídua dos SUV nos espaços urbanos que, numa situação de atropelamento, são capazes de causar danos físicos severos a peões e/ou ciclistas.
Um exemplo prático sobre o seu impacto na segurança rodoviária é fornecido pela Segurança Rodoviária Belga (VIAS), constatando que numa colisão entre um carro que pese 1600kg e outro que pese 1300kg, o risco de ferimentos fatais diminui 50% nos ocupantes do veículo mais pesado, contudo aumenta quase 80% nos ocupantes do veículo ligeiro.
Autobesity nas grandes cidades europeias
O termo refere-se à tendência de carros grandes e pesados conhecidos por SUV ou Mega-SUV. Contudo parece não haver limites para o tamanho destes modelos e as dificuldades sentem-se, em particular, nas ruas europeias, tipicamente estreitas, e na lotação dos parques de estacionamento.
A organização ambientalista, Transport & Environment, revelou que nos primórdios deste século a largura dos carros comprados na Europa, a cada dois anos, aumentou 1 centímetro.
A verdade é que o tamanho dos carros pode aumentar, mas as estradas europeias não alargam. A Europa enfrenta, neste momento, um grave problema de estacionamento. Em especial nos centros das grandes cidades com a presença firme dos SUV.
Parte da culpa recai nas indústrias automóveis que não respeitam as medidas de fabrico estipuladas na União Europeia.
Dos cem modelos mais vendidos no ano de 2023, 52% dos veículos excediam a largura estipulada para estacionamento em ruas (180 cm), aponta a organização. Mesmo os estacionamentos interiores já se revelam pequenos para o novo veículo médio e, no caso dos SUV mais largos, nem cabem.
Face a estes problemas, alguns países já agiram em conformidade. Ainda recentemente, Paris foi às urnas para votar a triplicação das tarifas de estacionamento para os SUV e carros elétricos com 2 toneladas ou mais.
Apenas 5,7% dos eleitores exerceram o seu direito de voto, porém a medida foi aprovada com 54,5% a favor e 45,5,% contra. Assim, a partir de 1 de setembro de 2024, a tarifa de estacionamento para estes veículos passa a ser de 18€ por hora.
Apesar de não se aplicar aos residentes de Paris, aos taxistas, comerciantes e profissionais de saúde, a medida dividiu opiniões e instaurou debates no seio europeu sobre a sua pertinência e eficiência na luta contra as alterações climáticas e sobrelotação das grandes cidades europeias.