Share the post "Talbot: a marca francesa que reinou em terras de Sua Majestade"
O século XX foi um dos mais ricos em termos de produção automóvel, com o sector a conhecer, em todo o Mundo, avanço tecnológico e afirmação de marcas em diversos segmentos. Umas mais duradouras que outras, como foi o caso da Talbot.
Com o ‘boom’ tecnológico, o desenvolvimento da indústria, e a construção de unidades fabris cada vez mais capazes, o sector automóvel conheceu um impulso que o trouxe até ao que hoje conhecemos.
E a viagem ainda não terminou. Afirmam-se agora as marcas em percorrer a longa autoestrada da mudança de paradigma com os motores a combustão a dar lugar aos pequenos motores elétricos.
Mas olhar para trás é importante para se perceber que algumas marcas deixaram um legado no sector automóvel, ou seja, que tiveram um papel importante em mito do que se faz hoje.
Uma dessas marcas é a Talbot. A sua história (96 anos de atividade) é longa e divide-se entre dois países França e Inglaterra e, conheceu três momentos chave que lhe ditaram o rumo. O mais importante, se excluirmos a fundação, terá sido sob a gerência de Anthony Lago, um empresário italo-britânico que em 1932 tomou nas mãos os destinos da Talbot.
Talbot: as origens de uma marca histórica
A história da marca de automóveis Talbot remonta ao final do século XIX, aquando da fundação da empresa A. Darracq & Cie., por Alexandre Darracq, empresário francês de origem espanhola.
Esta começou a produzir carros em 1896, na fábrica de Suresnes, e transformou-se numa das principais fabricantes de automóveis, na França.
Da fábrica francesa saíam automóveis de competição e de “prazer” de condução, com Alexandre Darracq a tornar-se famoso pelo sucesso que alcançava no sector.
Em 1902, a Darracq expande a sua atividade ao estabelecer uma filial na Inglaterra: a Darracq Motor Engineering Company Ltd. Neste país continuou a crescer e expandiu operações, que passaram a integrar a construção de motores para barcos e aviões.
Em 1912, Darracq vende o seu negócio. A empresa britânica de construção de automóveis Sunbeam adquiriu a Darracq Motor Engineering Company Ltd. e renomeou-a como Sunbeam-Talbot-Darracq (STD).
Durante a década de 1920, a STD produziu uma variedade de modelos de automóveis sob as marcas Sunbeam, Talbot e Darracq. No entanto, a empresa enfrentou dificuldades financeiras e reorganizações ao longo dos anos, especialmente durante a Grande Depressão na década de 1930.
A era de Anthony Lago
Em 1935, a empresa foi adquirida pelo empresário inglês Anthony Lago, que operou profunda reestruturação, concentrando-se na produção de carros de qualidade sob a marca Talbot.
Os automóveis Talbot-Lago ficaram conhecidos pelo design elegante e desempenho desportivo. A empresa envolveu-se também em corridas de automóveis, alcançando sucesso nas competições denominadas Grand Prix.
A Segunda Guerra Mundial viria a interromper a produção de automóveis afetando negativamente a indústria automóvel. Após o fim do conturbado período que assolou a Europa, a marca enfrentou dificuldades financeiras e acabou por ser vendida ao conglomerado francês Simca em 1958.
Sob a gestão da nova empresa a marca Talbot foi utilizada principalmente para produção de modelos acessíveis e com características familiares. A produção continuou até à década de 1980, quando a empresa foi adquirida pelo Grupo PSA (Peugeot-Citroën).
Sob os desígnios do grupo francês passou a ser usada principalmente para a produção de veículos comerciais e, em 1992, pouco mais de 10 anos passados, é oficialmente suspensa.
Apesar de ter deixado de existir como marca de automóveis, o legado da marca permanece em modelos icónicos que foram produzidos ao longo dos anos, e de que são exemplo os elegantes automóveis de competição Talbot-Lago, e os clássicos de luxo Talbot.
A Talbot no Reino Unido
A British Talbot foi uma marca de automóveis britânica que teve origem na empresa francesa fundada pelo empresário francês Alexandre Darracq, que, como já referimos expandiu a operação automóvel para o Reino Unido.
Ambas as Talbot – no Reino Unido e em França –, têm uma conexão histórica, mas operaram como sociedades separadas e tiveram trajetórias distintas. Em jeito de resumo traçamos um paralelo entre as duas, com a noção de que a história cruza muitas datas e nomes em momentos diferentes, não sendo fácil, por vezes, descortinar a linha do tempo:
- Origem – A Talbot original foi fundada na França por Alexandre Darracq em 1903 como Société Anonyme des Anciens Établissements Darracq. A empresa francesa produziu diversos veículos conotados com qualidade e desempenho.
- Aquisição no Reino Unido – Em 1919, a empresa francesa foi adquirida pelo britânico Adolphe Clement-Bayard e renomeada como Talbot-Darracq passando a produzir automóveis nos dois países (França e Reino Unido).
- Dificuldades financeiras. Aquisição pelo Rootes Group – Em 1935, a Talbot-Darracq enfrentou dificuldades financeiras e foi adquirida pelo Rootes Group. Tratava-se de uma empresa britânica de engenharia automóvel que renomeia o nome da empresa para Talbot.
- Modelos mais populares – Tanto a Talbot no Reino Unido, quanto em França, produziram uma série de modelos que ficaram populares. Alguns exemplos são o Talbot Sunbeam, Talbot Horizon ou o Talbot Tagora.
- A presença do Grupo Peugeot – Quer em França, quer no Reino Unido, a marca enfrentou dificuldades financeiras em momentos diferentes. Enquanto a Talbot francesa foi adquirida pelo Grupo Peugeot em 1978, a Talbot britânica foi descontinuada em 1994, com o encerramento oficial da marca.
- O fim – Após a aquisição pela Peugeot, a marca Talbot foi gradualmente descontinuada. Os últimos veículos a ostentar o nome Talbot foram produzidos no final da década de 1990, altura em que a marca desaparece do panorama automóvel.
Automóveis icónicos da marca francesa
A história da Talbot faz-se igualmente olhando para os modelos que produziu. Alguns foram verdadeiros êxitos de vendas e, com o passar dos anos, atingiram o patamar de automóveis icónicos. Aqui fica uma lista dessas maravilhas:
- Talbot-Lago T150C SS – Modelo produzido na década de 1930 era um carro de corrida e estrada extremamente elegante. Possuía um motor de 4,0 litro e foi um dos primeiros automóveis a apresentar design aerodinâmico avançado.
- Talbot-Lago Grand Sport – Introduzido nos anos 50, o Talbot-Lago Grand Sport era um desportivo de luxo. Possuía um motor V12 de 4,5 litro e era notável pela aparência elegante e desempenho dinâmico.
- Talbot Sunbeam Lotus – Chegou ao mercado na década de 1970, como um carro de rali compacto e de alto desempenho. O seu desenvolvido decorreu em colaboração com a Lotus e montava um motor de 2,2 litro. A tração era traseira.
- Talbot Horizon – O Talbot Horizon foi um dos modelos mais populares da marca na década de 80. Era um hatchback de tamanho médio que oferecia um equilíbrio entre conforto e economia de combustível, sendo um dos carros mais vendidos da Talbot.
- Talbot Samba – O Talbot Samba era uma versão mais curta e mais acessível do Horizon. Um hatchback compacto e divertido de conduzir, com opções de motores de pequena capacidade. Também foi produzido como descapotável.
Bem sucedidos em Portugal
Dois dos modelos com estatuto de ‘ícone’ no seio da marca são o Talbot Horizon e Samba, que conheceram assinalável êxito na Europa e foram também vendidos em Portugal.
O primeiro com maior êxito no plano de vendas, mas ambos com caraterísticas que agradavam ao público, principalmente pelo estilo distintivo e economia de utilização. Mas o que tinham de especial os automóveis da Talbot para agradar a um público tão vasto? Vejamos:
- Estilo clássico – Os automóveis Talbot apresentavam linhas elegantes e proporções equilibradas. O design era, frequentemente, influenciado pelas tendências da época.
- Grelha dianteira distintiva – Muitos modelos Talbot tinham uma grelha dianteira distintiva, em forma de ‘V’ ou oval, característica do design da marca. A grelha contribuía para a identidade visual da marca e distinguia-se das dos modelos da concorrência.
- Apontamentos cromados – Os automóveis Talbot frequentemente apresentavam detalhes cromados, nomeadamente nos para-choques, puxadores das portas, molduras das janelas e logótipo. Os detalhes cromados adicionavam um toque de elegância e sofisticação ao design dos automóveis.
- Linhas suaves e aerodinâmicas – Principalmente nos modelos mais recentes, a Talbot procurou adotar linhas suaves e aerodinâmicas na procura da eficiência aerodinâmica e melhor performance. O resultado foram carroçarias mais fluidas e curvilíneas.
- Interior refinado – A Talbot preocupava-se também com o design e o acabamento dos interiores dos seus automóveis que eram bem-acabados e utilizavam materiais de qualidade.
Talbot no desporto
A Talbot não participou diretamente da Fórmula 1 como equipa. No entanto, a Talbot-Lago esteve presente na Fórmula 1 como fornecedora de motores, principalmente na década de 1950.
Os motores V12 foram usados pela equipa britânica Connaught Engineering em algumas competições de Fórmula 1, entre 1954 e 1955. Além disso, a Talbot-Lago também forneceu motores para a equipa francesa Equipe Gordini, em várias temporadas durante a década de 1950.
Mais tarde, nos anos 1981-1982 a Talbot esteve associada à Ligier usando a ligação que tinha com a Matra, sendo os carros conhecidos como Ligier-Matra. Nestes anos a equipa teve como um dos principais pilotos Jacques Laffite, que venceu duas provas no Campeonato do Mundo de Fórmula 1, em 1981.
Já no mundo dos Ralis a Talbot foi vencedora do Campeonato do Mundo de Ralis, em 1981, com Guy Fréquelin, acompanhado por Jean Todt, tendo ficado em segundo lugar na classificação de pilotos.
O piloto francês conduziu um Talbot Sunbeam Lotus que competiu com Audi Quattro, Renault 5 Turbo, Fiat 131 Abarth, Ford Escort RS1800 e Toyota Celica 2000GT.
Para que o Talbot Sunbeam Lotus pudesse ser homologado pela FIA, para competição, foram produzidos 400 exemplares, com as versões de estrada a terem por base o Talbot Sunbeam 1.6 GLS, equipado com motor Type 911 da Lotus. A equipa de competição da Talbot tinha como pilotos Guy Fréquelin e Henri Toivonen,
Curiosamente no RAC Rally de 1980, em que participaram três Sunbeam (primeiro, terceiro e quarto lugares) o vencedor foi Henri Toivonen que, aos 24 anos, alcançou a proeza de ser o piloto mais jovem a vencer a prova.