Share the post "Tecnofobia: causas e medos de uma aversão quase patológica"
Tecnofobia significa sentir medo exagerado da tecnologia e de tudo o que ela representa para o homem e a sociedade. Quem sofre de tecnofobia pode ter uma grande aversão a dispositivos complexos como computadores ou smartphones e é altamente crítico sobre a forma como estes mudam o comportamento das pessoas.
No ponto diametralmente oposto temos os chamados tecnófilos, todos aqueles que adoram a tecnologia e que aderem de forma acrítica a tudo o que são novidades tecnológicas.
Segundo os especialistas, é mais comum todos nós sofrermos, em alguma altura da nossa vida, de um pouco de tecnofobia do que de muita tecnofilia. A resposta está na nossa programação biológica e na nossa vivência histórica e cultural.
Tecnofobia: quais são as causas?
Programados para desconfiar da diferença
Como espécie animal estamos programados para suspeitar e para nos defender de qualquer coisa que seja diferente ou pouco habitual. Ao longo da história da nossa lenta evolução, esta programação ajudou-nos a preservar a nossa segurança como seres vivos e sociais.
Mas enquanto que o processo normal é desconfiar primeiro e depois avançar para a novidade se ela significar um ganho para a nossa espécie, as pessoas que sofrem de tecnofobia não dão o segundo passo, mantendo-se sempre no campo da desconfiança e da crítica negativa.
Essas pessoas são as que normalmente e têm maior dificuldade em prescindir do controle sobre os acontecimentos da sua vida. Ficam sempre mais ansiosas e mais temerosas face à mudança.
Esses sentimentos podem ser considerados normais se não afectarem negativamente o seu dia-a-dia pessoal, social e laboral, mas se tiverem um impacto prejudicial devem ser avaliados e tratados.
A tecnologia vai substituir-me
Este é um medo antigo que surgiu logo que as máquina começaram a ser introduzidas para substituir o trabalho animal e humano na agricultura. O alívio inicial em breve foi substituído pelo medo de perder o trabalho e o estatuto social.
Com a revolução industrial, quando as fábricas afastaram as pessoas dos campos e as mantinham a trabalhar longas horas em espaços fechados, o medo concretizou-se de forma assustadora.
Agora os homens, afastados da sua verdadeira essência, eram eles próprios máquinas e tratados como tal.
Ainda que o quotidiano da revolução industrial tenha sido reduzido e circunscrito a algumas atividades ou zonas geográficas do mundo, o medo de que a tecnologia elimine a necessidade de recursos humanos é um dos mais comuns entre os tecnofóbicos.
E não é um medo irrelevante. Passámos da vulgar ansiedade e desconforto individual que cada um de nós já sentiu no seu local de trabalho quando teve de se adaptar a um novo software ou procedimento tecnológico, para um medo real de que, nem sequer essa adaptação vá ser necessária no futuro.
Até 2030 os especialistas afirmam ser provável que quase 70 milhões de pessoas possam perder os seus empregos para a automatização e para os robôs de Inteligência Artificial. Isto vai exigir um reconfiguração total da economia mundial e, neste caso, a apreensão é no mínimo justificável.
A tecnologia vai virar-se contra nós
Com a inteligência artificial e a internet das coisas, novos medos foram acrescentados à nossa capacidade de sofrer ataques de tecnofobia.
O imaginário criado pelos filmes de ficção científica, que mostram um futuro com máquinas a tomar conta do planeta, também não ajudou. O medo de que a tecnologia seja um força inerentemente anti-humana tornou-se uma verdadeira fobia.
Aqui o medo é que as máquinas consigam ser melhores humanos do que nós porque amplificaram as nossas capacidades.
E, como muitas das ferramentas de Inteligência Artificial hoje utilizadas, desde o GPS aos drones, tiveram origem em pesquisas com fins militares, os cenários de um futuro onde o terrorismo e as ações de pirataria podem ser automatizadas, assustam qualquer um, mesmo os que não sofrem de tecnofobia.
Tecnofobia: medo de nós próprios?
Como a tecnologia impregnou quase todos os aspectos da nossa vida, desde o ambiente de trabalho, às atividades de lazer, alguns dos maiores medos dos tecnofóbicos parecem estar a concretizar-se.
É cada vez mais difícil para quem não gosta de tecnologia afastá-la da sua vida, tornando o seu desconforto maior. O medo é real, mas será provocado pela própria tecnologia ou pelo medo por quem a controla?
Muitos de nós, senão a maioria, depende totalmente de smartphones e computadores criados e supervisionados por empresas de tecnologia cujos objectivos são muitas vezes alheios a preocupações sociais.
Utilizamos redes móveis controladas por empresas e governos que têm a sua própria agenda financeira e política. Os medos sobre vigilância e controle são assim bem reais.
Podemos estar a ser manipulados, direcionados e orientados para formas de pensar e de agir que, fora do uso das tecnologias, talvez não fossem as nossas primeiras escolhas.
Não deixar a tecnofobia ser motivo de exclusão social
Sentir um certo medo e desconfiança sobre o que a tecnologia significa nas nossas vidas pode ser algo positivo.
Isso faz com que adoptemos uma posição critica face ao desenvolvimento tecnológico, melhorando a nossa capacidade de filtrar e adoptar as tecnologias que verdadeiramente trazem benefícios para o nosso dia-a-dia e para as sociedades em que vivemos.
É esse posicionamento critico que nos vai permitir defender os nossos direitos face ao que os criadores da tecnologia.
Mas se esse medo se transformar numa verdadeira fobia, se sentir palpitações, tonturas, irritabilidade ou outros sinais de ansiedade sempre que tem de usar equipamentos, aplicações e plataformas tecnológicas no seu dia-a-dia, não deve ignorar esses sinais.
Deve procurar contrariá-los ou mesmo pedir ajuda a amigos, familiares e especialistas.
O primeiro objectivo é tratar a sua fobia com informação. Informe-se e leia sobre o que a tecnologia que vai ter de utilizar pode fazer por si.
Assista a vídeos que o ensinam a trabalhar com ela e saiba como se proteger das coisas que mais o assustam, quer seja a invasão da sua privacidade, quer seja a exigência de estar longas horas fora do mundo real.
Seja critico o suficiente para barrar a tecnologia que não lhe traz benefícios, mas não tanto que essa crítica o exclua do mundo atual. O desenvolvimento tecnológico precisa da sua capacidade de discernimento para controlar um crescimento tecnológico acrítico, que pode acabar por explorar apenas o lado mais negro do mundo digital.