Quando a tecnologia dificulta a vida ela troca as promessas de maior simplicidade e eficiência por uma realidade não só mais complicada como bastante difícil de resolver.
Não é raro que o ato de dar uma ordem por voz, ou carregando num simples botão, deixe de executar uma tarefa de forma eficiente, automática e marcada por um toque de futurismo aliciante, para nos fazer cair numa realidade ineficaz, frustrante e capaz de produzir problemas sérios no nosso dia-a-dia.
Porque estamos ainda a sofrer com um grau de “burrice” tão significativo nas nossas vidas cada vez mais smart e repletas de dispositivos inteligentes?
Quando a tecnologia dificulta a vida: de onde vêm os problemas?
Atualizar sistemas operativos multiplataforma tornou-se complicado
Tornou-se muito mais difícil e complexo atualizar os sistemas operativos que correm em equipamentos provenientes de múltiplos e variados fabricantes, e que vão fazer funcionar programas e aplicações de uma comunidade infindável de programadores, desde os mais profissionais aos mais curiosos.
Sistemas como o Windows ou Android caem neste pacote de dificultada. Enquanto que no início estes softwares eram amplamente testados em hardwares diversos para perceber o que poderia correr bem ou mal, hoje esses testes prévios são são feitos à custa dos próprios utilizadores que testam no mundo real as novas versões e actualizações.
Testes demorados
O porquê desta situação tem várias justificações. A quantidade de equipamentos e fabricantes, que só multiplicou com a internet das coisas (IoT), torna estes testes difíceis, demorados e inviáveis face a pressão e rapidez de um mercado que impõe o lançamento de novas versões, novas funcionalidades e novos equipamentos constantemente.
Enquanto que a Apple vai mantendo o seu universo controlado e fechado para não sofrer tanto deste mal, a Microsoft tem mais dificuldades em lidar com ele e os últimos 4 anos de problemas que o Windows 10 sofreu são uma ampla prova disso.
Apps e dispositivos não comunicam entre si
A interoperabilidade de todos os periféricos e softwares é sem dúvida um dos problemas que faz com que a tecnologia nos dificulte a vida. As nossas vidas e casas, cada vez mais ligadas à internet, provam que temos mais dispositivos e aplicações a funcionar em linha a ter de comunicar entre si.
Aplicações de TV em streaming a mostrar-nos o que queremos ver, estores e iluminação automatizados, termóstatos e frigoríficos inteligentes, câmaras de segurança controladas a partir do smartphone e assistentes virtuais a prestar-nos assistência, exigem muito hardware e software a trabalhar em equipa e em sincronia permanente.
Basta um sistema operativo ser atualizado e uma das aplicações não refletir essa atualização, ou uma aplicação que recentemente foi carregada não respeitar algum protocolo de comunicação, para os problemas começarem a acontecer.
Isto já para não falar no que pode ficar comprometido nesta rede com a entrada de um vírus através do elo mais fraco na segurança do sistema, porque algum dos periféricos nem sequer possui ou atualiza esse sistema de segurança.
Acrescente a este cenário explosivo todas as práticas imprevisíveis que cada utilizador aplica ao seu sistema em particular quando carrega nos botões, nas teclas ou liga o gadjet mais exótico que conseguiu encontrar.
É de esperar todo o tipo de surpresas, inclusive as desagradáveis. Será por isso que as empresas já não têm ninguém do outro lado da linha para nos ajudar quando surgem problemas?
Empresas dificultam a vida dos utilizadores
As atualização de software são extremamente importante para garantir a segurança e desempenho dos dispositivos, mas com a quantidade de programas de terceiros a serem lançados, as possibilidade de erros e problemas que podem surgir depois das atualizações tendem a aumentar.
As grandes empresas, com presença no mercado mais forte, tendem a proteger-se fechando-se num mundo fechado que incentiva os seus clientes a escolherem apenas os seus produtos.
Face aos dispositivos de IoT, as empresas tentam enquadra-los em grandes campos como Apple, Amazon, Google ou Microsoft tentando garantir um nível mais ao menos estável de interoperabilidade.
O problema das atualizações
Mas o senão desta postura, é que essas empresas o fazem de forma rival, fazendo com que esses sistemas não comuniquem entre si numa tentativa de fixar clientes.
Empresas como a Apple por exemplo, vão mais longe para manter as suas taxas de lucro, deixando muito rapidamente de disponibilizar atualizações para versões de OS ais antigas, obrigando os seus clientes a estar sempre dispostos a gastar mais a trocar de equipamentos com mais frequentemente.
Fora dos sistemas operacionais e das aplicações dos produtos mais utilizados e famosos, a situação também não é brilhante, especialmente porque o serviço ao consumidor é muito mau ou mesmo inexistente.
Isto é particularmente evidente no ecossistema móvel. Empresas abrem e fecham, deixando atrás de si produtos praticamente inutilizáveis sem qualquer tipo de suporte técnico disponível.
Quando a tecnologia dificulta a vida há que dificultar-lhe a vida a ela também
Cautela com as novidades
O mercado evoluiu para esta espécie de “faroeste” que saltita de inovação em inovação, que experimenta primeiro e pensa depois, porque os próprios utilizadores também fizeram essa evolução.
Podemos falar de uma pescadinha de rabo na boca, mas o que é certo é que, tudo vai continuar na mesma se ninguém quebrar o ciclo.
Face à complicada história do Windows 10 a Microsoft já parece estar a seguir uma nova tendência: nada de novas versões completas, mas a apenas atualizações pontuais bem testadas.
Mas isso não quer dizer que estejam dispostos a perder a sua parte da fatia do lucro que as tecnologias conseguem à conta do “quem lança o quê primeiro”.
Na realidade, a tecnologia vai continuar a dificultar a vida das pessoas se os produtores inovarem e oferecerem produtos sem saber muito bem o que estão a fazer, pensando apenas em assegurar o lugar do primeiro a chegar ao consumidor.
Palavra ao consumidor
Se for um dos consumidores que está dispostos a experimentar tudo com base apenas numa representação frágil do que pode conseguir, é dos que está a alimentar este problema.
Com o mercado das IoT a explodir com a chegada da última geração do WiFi 5G, pense bem antes de comprar ou instalar qualquer dispositivos ou aplicação que se pode tornar rapidamente um objecto de decoração inútil ou dificultar mais a sua vida.
O consumidor também pode quebrar estes ciclo e exigir um mercado de tecnologia diferente.