O Toyota Celica (que em latim significa ‘celestial’) cativou o público desde o primeiro momento.
Fabricado entre 1970 e 2006, este modelo desportivo da Toyota foi inspirado noutro clássico da marca que, tal como ele, atingiu o estatuto de ícone: referimo-nos ao Toyota 2000GT.
Quando surgiu no início da década de 1970 – época em que reinava a liberdade do design –, a “missão” do Celica era conquistar as camadas mais jovens.
Rapidamente se tornou num êxito e «acabou por alcançar todas as faixas etárias, como refere o livro “50 anos Toyota Portugal”, produzido pela Unidade de Soluções Comerciais e Multimédia do Global Media Group para Toyota Caetano Portugal – 2019.
Toyota Celica: o “pony car” japonês
A liberdade do design foi efetivamente o ponto de partida do Celica. As suas caraterísticas tornavam-no num “pony car”: compacto, acessível, económico, mas com uma performance vincadamente desportiva e, claro, fácil e muito agradável de conduzir.
O Toyota Celica é a resposta da marca nipónica a modelos como o Mustang, da Ford, muito popular, nos Estados Unidos da América, e que se perfilava como um concorrente de respeito.
A primeira aparição do Celica teve lugar no Tokyo Motor Show (1970). Era dirigido à população mais jovem e o seu design transmitia «sensação de liberdade combinada com um toque interior desportivo, mas acessível».
Um outro pormenor jogava a seu favor. O facto de ser confortável e fácil de conduzir «conseguia ainda satisfazer as necessidades dos entusiastas da condução desportiva». E o que o tornava tão agradável de conduzir era o facto de estar equipado com suspensão independente na frente e de quatro apoios na traseira.
1970-2006: sete gerações de grande sucesso
A primeira geração do Toyota Celica foi um verdadeiro êxito de vendas muito devido ao design desportivo do modelo e ao prazer de condução que lhe estava associado. Partilhava o chassis com o mais encorpado modelo Carina e, estava particularmente direcionado ao mercado norte-americano.
Os níveis de acabamento oferecidos foram ET (1,4 litros com caixa de 4 velocidades), LT, ST (1,6 litros com caixa de 5 velocidades), GT (1,6 litros com caixa de 5 velocidades) e GTV adicionado em 1972. Para os mercados de exportação, o Celica estava disponível em três níveis diferentes de acabamento: LT, ST, GT.
Durante a primeira geração do Celica a Toyota procedeu a atualizações do modelo em 1972, 1974 e 1976. É durante estes anos que surge a designação ‘Liftback’ com que a marca nipónica identifica também este modelo.
A segunda geração do bem sucedido Celica chegou com as versões Coupé e Liftback e foi projetado nos estúdios da Calty Research Design da Toyota, na Califórnia (EUA – Estados Estados Unidos da América).
Em relação à primeira geração oferecia mais equipamento e apresentava reforço do conforto em todas as versões da gama. A segunda geração do Celica foi comercializada no Japão, América do Norte, Austrália e Europa. Neste último mercado as unidades vendidas estavam equipadas com motores Twincam de 1,6 litros, 2,0 litros e 2,0 litros, com as seguintes designações: 1600 LT, 1600 ST, 1600 GT, 2000 ST, 2000 XT e 2000 GT.
Em 1981 chegava a terceira geração do Toyota Celica equipado com um novo motor de 16 válvulas que seria também utilizado no Campeonato do Mundo de Ralis. No ano seguinte (1982) tornava-se padrão em todos os Celica chegados aos EUA a introdução de motores com injeção de combustível. Com esta mudança a Toyota adicionava ao portfólio de modelos naquele país a versão Celica GT-S reinventando, deste modo, a imagem desportiva do modelo.
A versão de 1984 ganhava um novo look na secção frontal ao ser equipada com faróis retráteis, enquanto que nos motores a marca nipónica apostava no 1600 GT e no 1600 GT R ao equipá-los com motor 4A-GE. À Europa chegava o Celica 1600 ST, com motor 2T; 2000 XT (21R) e 2000 GT (18R-G).
O ano de 1985 anunciou a quarta geração do Celica que ficou marcada pela alteração da tração traseira para dianteira; a introdução de novas suspensões totalmente redesenhadas e um design ainda mais arrojado.
Também neste ano, como forma de comemorar o facto de Carlos Sainz vencer o WRC (World Rally Championship) ao volante de um Toyota Celica, a marca lança uma versão homologada do desportivo com a designação GT-Four RC (Rally Competition).
O Toyota Celica da 5.ª geração continua a faturar sucessos. Mantém a frente baixa com faróis escamoteáveis, e formas mais arredondadas que lhe davam um ar verdadeiramente desportivo. Também o equipamento era reforçado e as versões para competição faziam sucesso. Nesta altura destacava-se a versão GT-Four mais potente com sistema de refrigeração melhorado e tração às quatro rodas (4WS).
No mercado interno (Japão) o Celica era disponibilizado nas versões SR, ZR, GT-R, Active Sports (primeiro Toyota com suspensão Toyota Active Control) e GT-Four.
Na Europa os modelos comercializados foram: 1.6 ST-i, 2.0 GT-i 16 e GT-Four.
O 2.0 GT-i 16 cabriolet foi disponibilizado apenas em alguns países europeus. Enquanto o 2.0 GT-i 16 Liftback e o GT-Four foram vendidos no Reino Unido. Em 1992, a carroçaria larga Liftback 2.0 GT-i 16 constituiu novidade no mercado holandês e belga. Tratava-se basicamente de um modelo GT-S, mas equipado com motor 3S-GE.
Destaque-se ainda a chegada dos travões anti bloqueio (ABS) às versões GT-S (entre 1989 e 1993), sistema que só foi disponibilizado para os modelos GT em 1992 e 1993.
A sexta geração do Toyota Celica rompe com a estética da seção frontal do modelo anterior e apresenta quatro faróis redondos bem definidos. No resto pontificam as linhas bem conseguidas, as proporções equilibradas, o baixo centro de gravidade e a rigidez do chassis que contribuem para o bom desenho/performance do modelo.
Acresce que esta sexta geração trouxe novos equipamentos, de conforto, bem como, de segurança, uma das preocupações da marca. Deste modo, o Celica da 6.ª geração recebia airbags de condutor e passageiro; travões anti bloqueio ABS, e ar condicionado sem CFC.
Entretanto, a versão GT-Four, a mais radical de todas, dotava o Celica de tração integral permanente, sistema que estava associado a potente motor 2.0 litros, com dupla árvore de cames à cabeça, que disponibilizava 185 cv de potência.
Este era, à época o motor mais potente do Japão «e uma combinação explosiva para o competitivo Mundial de Ralis».
De forma a manter a jovialidade do modelo a Toyota, em 1995, procedeu a um facelift, que, nos modelos que chegaram à Europa, consistiu no restyling da zona frontal, com novo para-choques; saias laterais (opcionais), para melhorar a aerodinâmica e um spoiler com novo desenho a encimar a tampa da bagageira.
A 7.ª geração do Toyota Celica começou a ser produzida em julho de 1999 com as vendas, na Europa, a começarem no final daquele ano. O novo modelo apresentava um design onde se destacava a frente mais alongada, mas com o capot a mergulhar sob o para-choques e as quatro ópticas dão lugar a dois grandes faróis alongados que se prolongam pelas laterais até à zona dos guarda-lamas.
A última geração do Celica introduziria ainda novo conjunto de motores, nomeadamente, um bloco de alto desempenho, com 1.8 litros, 4 cilindros, que debitava 192 cv (2ZZ versão-GE) fruto da parceria realizada com a Yamaha. A última geração do Toyota Celica chegou ao fim em 2006 (21 de abril). Refira-se que, no último ano de produção, apenas foi vendido oficialmente no Japão. Não teve sucessor.
Toyota Celica: assumidamente desportivo
Para além da boa performance comercial em vários mercados o Toyota Celica cumpriu também uma invejável carreira desportiva, nomeadamente em Portugal, onde foi Campeão Nacional de Ralis Absoluto em 1992, com o modelo GT-Four e Campeão Nacional de Velocidade em 2003, com o modelo T Sport.
Mas, as proezas deste modelo não ficam por aqui. Brilhou em várias provas do WRC (World Rally Championship). Se não vejamos. O primeiro grande evento do WRC em que participou foi o RAC Rally de 1972, com Ove Andersson, ao volante de um 1600 GTV (TA22), a terminar em nono lugar.
Em 1982 surge a primeira vitória, no Rally da Nova Zelândia, com Björn Waldegård aos comandos de um 2000GT (RA63). Entre os anos de 1983 e 1986, o Celica Twincam Turbo (TA64), do Grupo B, venceu as seis provas do WRC na África, em que participou.
Com a extinção do Grupo B, o Celica GT-Four competiu nas corridas de Rally do Grupo A, de 1988 a 1997. Conquistou dois títulos de fabricante e quatro títulos de piloto.
O piloto de maior sucesso aos comandos de um Toyota Celica foi o espanhol Carlos Sainz, que venceu, em 1990 e 1992, os títulos do WRC com um ST165 e um ST185, respetivamente. Este último modelo também venceu os títulos de 1993 e 1994 com Juha Kankkunen e Didier Auriol, respetivamente. Em 1995 registou-se a quarta vitória consecutiva do modelo ST185 no Rally Safari.
Ainda no capítulo desportivo de referir o piloto Rod Millen que, entre 1994 e 1997 venceu, por três vezes, o desafiador traçado Pikes Peak International Hill Climb, ao volante de um Celica, estabelecendo um tempo recorde que durou mais de 10 anos.
A história do icónico Toyota Celica termina ao fim de 36 anos de grandes sucessos, sete gerações e mais de 4 milhões de unidades comercializadas. Fica ainda marcada pelas muitas vitórias nas competições onde o modelo participou, tornando-o num desportivo muito cobiçado no seio dos clássicos.