Share the post "Muitos trabalhadores presenciais pretendem abandonar profissão – como se explica?"
Com os confinamentos causados pela pandemia de COVID-19 aparentemente remetidos para o passado, e que levaram a que o teletrabalho chegasse à generalidade do mercado de trabalho e se impusesse como um recurso que permitiu a muitas empresas sobreviverem, eis que os papéis se invertem.
Neste momento, parece que a tendência mudou, e muitas empresas estão a eliminar qualquer hipótese de o teletrabalho se continuar a impor como algo positivo, o que origina divisão de opiniões por parte dos trabalhadores.
Parece que os dias do teletrabalho estão a chegar ao fim, com as empresas a pressionarem os seus trabalhadores para voltarem a adotar o modelo tradicional de trabalho – o presencial.
É o caso de empresas grandes que dispensam apresentações, como a Barclays, a General Motors, a Tesla ou a Apple. É certo que na maioria dos casos não se trata de regresso ao trabalho presencial a 100%, mas muitos interpretam isto como um primeiro grande passo para a mudança completa.
Naturalmente, a surpresa em relação a esta notícia foi mais presente ao constatar que mesmo empresas tecnológicas, como a Apple, afinal não são assim tão favoráveis ao teletrabalho.
Governos voltam a recomendar o teletrabalho, o que choca com a nova tendência por parte das empresas
Tudo isto ganha contornos um pouco mais confusos quando constatamos que o governo português acaba de propor o teletrabalho às empresas como uma das medidas para alcançar uma maior poupança de energia, no âmbito do Plano de Poupança de Energia 2022-2023.
Naturalmente, percebe-se facilmente porque razão o governo recomenda que se aposte no teletrabalho, uma vez que permite poupanças energéticas elevadas, nomeadamente nos trajetos casa-trabalho-casa diariamente.
Mas a verdadeira bomba caiu com a notícia de que mais de um terço dos trabalhadores presenciais pretendem abandonar a profissão, o que representa um sinal inequívoco de que muitos trabalhadores não vão ceder facilmente ao pedido das empresas para voltarem a ocupar os escritórios.
O que diferencia os trabalhadores presenciais dos que podem fazer teletrabalho
O teletrabalho já provou ser um bom recurso para se poupar tempo e recursos podendo até em muitos casos trazer mais satisfação profissional e pessoal aos trabalhadores, mas nem tudo é favorável.
É unânime que a comunicação entre todos os intervenientes do mercado de trabalho piora substancialmente com o teletrabalho, em comparação com o trabalho presencial. Ou seja, reuniões com as pessoas frente a frente e no mesmo espaço físico resultam sempre melhor do que todas as alternativas digitais, por muito competentes que sejam as ferramentas usadas e por muito boas que sejam as intenções de todos os que participam.
O teletrabalho pode mesmo contribuir para melhorar o desempenho da empresa, aumentando a satisfação e por consequência a eficiência do trabalhador, uma vez que permite um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal, evitando demasiadas deslocações.
No entanto, também é possível que a satisfação do trabalhador diminua com o teletrabalho, por exemplo, devido à solidão, às horas extras ocultas e uma mistura da vida privada e profissional, ou um ambiente de trabalho inadequado em casa, o que poderá ser mais frequente do que se imagina.
Outros grandes benefícios do teletrabalho passam pela redução do congestionamento do trânsito, das emissões de carbono e partículas.
O que explica então este êxodo generalizado? Porque razão trabalhadores presenciais pretendem abandonar profissão?
Possivelmente o facto de tanta gente ter realizado teletrabalho levou a que percebessem que existem alternativas à situação em que se encontram agora, ou seja, um emprego em moldes tradicionais, a tempo inteiro.
É fácil imaginar que muitos trabalhadores possam ter ganho interesse em começar a trabalhar por conta própria.
O teletrabalho quebrou alguns estereótipos, mostrou que é possível alternativas ao trabalho tradicional, e muita gente decidiu que não tolera mais um conjunto de situações negativas em redor de muitos empregos. Quantas relações entre trabalhadores e empregadores são negativas, e perduram por anos e anos levando a um desgaste?
E a verdade é que existem hoje muitas alternativas para se conseguir ganhar dinheiro a trabalhar remotamente, ao invés de se ficar preso a um emprego convencional mesmo que numa grande empresa.
Uma das coisas que a pandemia trouxe foi uma consciencialização de que certos aspetos como a liberdade, a flexibilidade, o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal são muito mais valiosas do que um salário.
A falta de progressão de carreira também surge à cabeça como um dos fatores que leva muitos trabalhadores a abandonarem os seus empregos.
Como demover os trabalhadores presenciais que pretendem abandonar a profissão atual?
Pensa-se que as soluções para as empresas conseguirem reter os seus maiores talentos poderão passar pelas seguintes medidas:
- Criar horários mais flexíveis, levando em consideração a vontade dos trabalhadores neste campo;
- Criar mais benefícios, indo ao encontro dos benefícios que melhor corresponderem às necessidades de cada trabalhador;
- Apostar no crescimento e progressão da carreira, outro aspeto muito valorizado particularmente pelos trabalhadores de uma faixa etária jovem;
- Criar laços e vínculos fortes entre a empresa e cada trabalhador, onde a aproximação entre os empregadores e os trabalhadores seja valorizada.