Trump Reeleito? Consequências para a economia europeia e portuguesa

As eleições nos Estados Unidos são sempre um tema de interesse global, dada a influência que este país exerce sobre o panorama político e económico mundial. A reeleição de Donald Trump pode trazer mudanças significativas para a economia global, especialmente para a Europa e Portugal.

Durante o seu primeiro mandato, Trump adotou uma postura de “América Primeiro” (“America First”), que incluiu políticas protecionistas e tensões comerciais com a China e a União Europeia (UE). Vamos explorar como uma reeleição de Trump pode impactar a economia europeia e portuguesa, analisando potenciais efeitos sobre o comércio, o investimento e as relações políticas transatlânticas.

Impacto no comércio internacional e nas relações económicas transatlânticas

Donald Trump implementou políticas comerciais agressivas durante a sua presidência, com destaque para as sanções à China e para o aumento de tarifas sobre produtos europeus. Estas políticas visavam proteger a indústria americana, mas acabaram por criar tensões com a União Europeia e outros parceiros comerciais. Uma reeleição de Trump pode significar um endurecimento das políticas de comércio, trazendo novos desafios para a economia europeia e, consequentemente, para Portugal.

Tarifas e barreiras comerciais

Um dos principais impactos esperados será o aumento de tarifas e de barreiras comerciais, particularmente sobre produtos europeus que competem diretamente com a indústria americana. Por exemplo, setores como o automóvel, a aviação, o agroalimentar e o vinho, que são áreas onde a Europa tem grande representação. 

Portugal, como membro da União Europeia, poderá ser afetado de forma indireta, especialmente se a UE mantiver a postura de reciprocidade, aplicando também tarifas sobre produtos americanos. Esse tipo de retaliação comercial pode gerar uma guerra de tarifas, com efeitos adversos na economia portuguesa, através do aumento dos custos de importação e da possível diminuição das exportações para os Estados Unidos.

Acordos comerciais e relações bilaterais

Durante a sua presidência, Trump demonstrou preferência por acordos bilaterais em vez de tratados multilaterais, abandonando negociações de acordos importantes como o Acordo Transatlântico de Comércio e Investimento (TTIP). Com uma possível reeleição, essa tendência pode reforçar-se, o que poderá tornar mais difícil para a União Europeia, e por extensão para Portugal, negociar um acordo comercial abrangente com os EUA. Um acordo multilateral facilitaria o comércio entre ambos os blocos e estimularia o crescimento económico em Portugal. Contudo, com Trump no poder, existe a possibilidade de a Europa se ver obrigada a negociar diretamente com os EUA, o que pode significar concessões em áreas estratégicas.

Impacto no setor energético e nas políticas climáticas

A política energética e climática de Trump sempre se pautou pela aposta em combustíveis fósseis e pela retirada dos EUA de compromissos ambientais, como o Acordo de Paris. A sua reeleição pode desacelerar os esforços globais de combate às mudanças climáticas e afetar diretamente o mercado energético europeu.

Dependência Energética da Europa

A Europa, incluindo Portugal, é dependente da importação de energia, especialmente gás natural. Com uma possível reeleição de Trump, os Estados Unidos podem intensificar a exportação de gás natural liquefeito (GNL) para a Europa, numa tentativa de reduzir a dependência europeia do gás russo. Embora este cenário possa diversificar a oferta energética da Europa, também poderá significar um aumento nos preços do gás, devido aos custos elevados de transporte do GNL. Para Portugal, que utiliza o gás como uma importante fonte de energia, isto representaria uma subida nos custos de eletricidade e uma pressão sobre a competitividade económica.

Implicações para as energias renováveis

A Europa tem um forte compromisso com a transição para energias renováveis, em parte impulsionado pela necessidade de reduzir a sua dependência energética. A abordagem pró-fóssil de Trump pode representar um entrave a esta transição, já que o país poderia continuar a pressionar economicamente a Europa através de tarifas energéticas ou até mesmo incentivando investimentos em setores tradicionais. Portugal, que é um dos países europeus com maior produção de energia renovável, poderia enfrentar dificuldades em expandir o setor devido ao impacto indireto de uma política americana pouco comprometida com a sustentabilidade.

Efeitos na geopolítica e na defesa europeia

A liderança de Trump foi marcada por uma visão menos cooperativa das alianças internacionais, com o presidente a questionar repetidamente o compromisso dos EUA com a NATO. Esta postura tem implicações significativas para a segurança e a política externa europeia.

Relações com a NATO e Segurança Europeia

Durante o seu primeiro mandato, Trump exigiu que os países europeus aumentassem os seus investimentos em defesa, colocando em dúvida o compromisso dos EUA com a segurança europeia. Uma reeleição pode intensificar esta pressão, levando a União Europeia a ter de assumir mais responsabilidades na sua defesa. Para Portugal, que é membro da NATO, isto poderia traduzir-se num aumento de despesas militares e numa pressão adicional para fortalecer a sua capacidade de defesa, o que poderia ter impacto no orçamento nacional.

Relações com a Rússia e com a China

Trump manteve uma relação ambígua com a Rússia e adotou uma postura de confronto com a China, o que influenciou as relações geopolíticas globais. Ao ser reeleito, a sua postura pode aumentar a tensão com a China, impactando as economias europeias que têm fortes relações comerciais com o gigante asiático, incluindo Portugal. Uma escalada nas tensões entre os EUA e a China pode prejudicar o comércio global e criar incertezas no mercado internacional, afetando negativamente a economia portuguesa, que depende das exportações e da estabilidade económica mundial.

Impacto na Economia Portuguesa

Portugal, como economia de pequena dimensão e fortemente integrada na União Europeia, tende a ser sensível a oscilações no contexto económico e político global. A reeleição de Trump pode ter efeitos diretos e indiretos em vários setores da economia portuguesa.

Turismo

O turismo é uma das principais indústrias de Portugal e é amplamente dependente de fluxos internacionais, incluindo dos EUA. A postura de Trump em relação a restrições de viagem e políticas de imigração poderá impactar o setor turístico português, especialmente se houver limitações ao turismo internacional ou se forem aplicadas novas políticas de restrição de vistos. A menor circulação de turistas americanos pode representar uma perda de receitas para Portugal.

Setor Agroalimentar e Exportações

Portugal exporta uma variedade de produtos agroalimentares para os EUA, incluindo vinhos, azeite e conservas. Caso Trump aplique novas tarifas ou restrições a produtos europeus, o setor exportador português poderá sofrer um impacto direto, especialmente os produtores de vinho e de azeite, que têm os EUA como um dos seus principais mercados fora da União Europeia.